Opinião da Comunidade

Bruno de Campos escreve: Na montanha-russa dos preços de 2020

Bruno de Campos escreve: Na montanha-russa dos preços de 2020

Por Bruno de Campos

Era qualquer dia no final de dezembro de 2019 e a ordem máxima era o Ano Novo. Onde vai ser a festa? Que horas os convidados chegam? O que é para levar? Dúvidas simples, problemas simples, realidade banal. O Ano Novo chegou, sim. Por fim, tudo a mesma coisa, as mesmas pessoas e promessas. Dava para se ouvir, aqui ou ali, sobre um vírus, uma gripe, coisa nova, já se dizia, mas ainda realidade distante, vai que nem chega aqui?

PIB de 2020 cresceria 2,3% segundo o Planejamento Anual da Operação Energética e, junto com o dólar na casa dos R$ 4, renderia uma viagem pra Nova Iorque, Califórnia ou Las Vegas.

Um Carnaval depois, a previsão de carga para abril despenca 7 GW médios e o Preço da Liquidação das Diferenças (PLD) segue abraçado nessa montanha-russa de surpresas que estava apenas começando. Falling down! Liguei para a agência de viagens: “Acho que Nova Iorque vai ficar pra depois, pois o dólar quase a R$ 6 quebra o orçamento”.

Dava a impressão que 2020 seria normal, sem grandes surpresas, somente aquelas que todo Middle Office está acostumado, que dá o tempero para o trabalho, não deixa a monotonia levar a gente a abrir o Freecell. Pouco antes da pandemia estourar a recordação era de todos abrindo o Google Mapas e procurando Itatiba e Bateias. Um interesse coletivo em fevereiro e março por duas cidades pequenas do interior de São Paulo e Paraná. Fato curioso. Se era destino novo de férias ou evento do setor elétrico não dava para saber, mas que o preço descolou, esse descolou. Com o submercado Sul com a menor afluência para março no histórico de 90 anos, já dava para colocar mais essa na conta.

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Então vamos revisar essa expectativa de carga, pois o Newave precisa saber. Como não dá para esperar, que venha uma Revisão Extraordinária! Então é melhor fechar o olho e abrir aos pouquinhos, porque 2020 agora é recessão. Deletei o número da agência de viagens da agenda do telefone, melhor deixar assim por enquanto.

Um pouco da atividade econômica retomando aqui, um pouco ali, e assim se vive. O restante da graça a temperatura que dita, fazendo com que as revisões semanais de carga sejam uma adrenalina a parte. Para não deixar o Sul sozinho, outubro teve recorde de temperatura em muitas partes do país, mas logo passou. Parece que a chuva vai voltar, ouvi dizer. É ZCAS? Se souber, por favor solte ou prenda Xingó de uma vez por todas, essa novela de cangaço está rendendo mais capítulo do que a gente gostaria e o São Francisco merece paz. Ainda temos mais dois meses pela frente, aí finalmente 2020 se finda. Em outras palavras, dois meses para mais possíveis surpresas.

E quando esse ano acabar, voltaremos para o ponto inicial: o Ano Novo. Se começou, tem que terminar, mas ainda tem a vacina nessa história que, apesar de muito interessante, é um universo a parte. Um dia vai passar, bem sutil, entre os dedos e, como diria o poeta T. S. Elliot, “Not with a bang but a whimper”, assim da mesma forma que começou. Enquanto isso, espero o próximo PMO.

Bruno de Campos é Analista Sênior de Middle Office da SPIC Brasil

Cada vez mais ligada na Comunidade, a MegaWhat abriu um espaço para que especialistas publiquem artigos de opinião relacionados ao setor de energia. Os textos passarão pela análise do time editorial da plataforma, que definirá sobre a possibilidade e data da publicação. 

As opiniões publicadas não refletem necessariamente a opinião da MegaWhat.

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