Depois de mais um resultado positivo em 2020, apesar da crise provocada pela pandemia do covid-19, a EDP Energias do Brasil mira no crescimento de seus ativos. Segundo Miguel Setas, presidente do conselho de administração da companhia, a estratégia daqui para a frente considera a venda de ativos para reciclagem de capital, que será reinvestido em novos projetos.
“Como já é feito na EDP Renováveis no mundo, consideramos construir e vender ativos, reinvestindo o valor das vendas. Isso vai gerar uma condição melhor para a competição em leilões”, disse Setas, que ocupava, até ontem, 18 de fevereiro, a presidência da EDP Brasil.
Em janeiro, o executivo foi eleito para uma vaga no conselho da Energias de Portugal (EDP), holding do grupo. Além disso, Setas vai cuidar das operações de redes do grupo nos países em que atuam: Portugal, Espanha, Brasil e Macau. A eleição da nova composição do conselho de administração da companhia foi concluída ontem, quando foi eleito também o novo presidente da companhia, o executivo João Marques da Cruz.
Mesmo com a mudança, o foco da EDP Brasil permanece em crescer nos segmentos de transmissão, distribuição e geração distribuída. Em distribuição, a prioridade da companhia é na Celesc, estatal de Santa Catarina, na qual a sua participação já chegou a 30% do capital total.
“Gostamos do estado, do contexto, da área de concessão, do mercado e do potencial de crescimento”, disse Setas. A Celesc tem um mercado de 3 milhões de consumidores, e a aquisição iria permitir à EDP dobrar sua base de clientes no Brasil.
Em transmissão, a EDP Brasil tem atualmente sete lotes em construção, sendo seis deles arrematados em leilões e que envolvem R$ 4 bilhões em investimentos, dos quais a companhia já realizou R$ 3,3 bilhões. Um último lote no Maranhão foi comprado pela companhia na semana passada no mercado secundário, e envolve outros R$ 89 milhões em investimentos.
Em 2020, algumas obras chegaram a sofrer paralisações por conta da pandemia do covid-19, mas foram retomadas e a empresa não espera grandes alterações nos cronogramas previstos. Segundo Setas, o que pode acontecer é que as obras, antes previstas para serem antecipadas em prazos mais altos, sejam concluídas com pouco mais de um ano antes dos prazos do edital.
“Continuamos olhando mercado secundário e leilões. Não ganhamos nenhum lote no último leilão, mas continuamos olhando as oportunidades”, disse Setas. Para que a companhia possa ser mais mais competitiva nos certames, a estratégia de reciclagem de capital está na mesa.
Segundo Setas, “já foi tomada a decisão estratégica” no sentido da reciclagem de capital, embora não se tenha notícias de venda de ativos, neste momento. Tanto as vendas de ativos quanto as potenciais aquisições podem se dar em qualquer um dos três principais segmentos de atuação da companhia no país.
Resultado
A EDP Energias do Brasil obteve lucro líquido atribuível aos acionistas de R$ 699,,9 milhões no quarto trimestre do ano passado, aumento de 40,2% na comparação com o mesmo período de 2019. O resultado inclui o ganho de R$ 388,8 milhões com a contabilização referente à extensão das concessões de hidrelétricas, por conta da adesão à nova repactuação do GSF, possibilitada pela Lei 10.052/2020.
A decisão de contabilizar o ativo se deu pelo entendimento que, uma vez que o conselho de administração da companhia aprovou a adesão à repactuação, não seria possível “ocultar” do mercado nem passivos nem ativos. “A partir do momento em que tomamos a decisão de aderir, não temos outro caminho, não poderíamos não registrar”, disse Henrique Freire, diretor financeiro da EDP Brasil.
A EDP não é a primeira companhia a registrar contabilmente a repactuação do GSF, apesar da regulamentação ainda não ter sido concluída pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A Engie Brasil Energia (EBE) reconheceu o ganho de R$ 967,7 milhões no balanço do quarto trimestre do ano passado.
A receita operacional líquida da companhia cresceu 19,4% no trimestre, para R$ 4,32 bilhões. O resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) subiu 59,9% no trimestre, para R$ 1,4 bilhão.
Em 2020, o lucro da companhia subiu 12,7%, para R$ 1,5 bilhão. A receita operacional líquida aumentou 5,2%, para R$ 13,2 bilhões. O Ebitda somou R$ 3,4 bilhões, aumento de 16%.
Créditos fiscais
Os impostos recolhidos a maior pelas distribuidoras, devido à incidência de ICMS sobre a base de calculo de PIS e Cofins, devem ser integralmente repassados aos consumidores, segundo a opinião de Henrique Freire.
“Existe um grande debate, algumas empresas entendem que há uma parcela além de 10 anos que é da empresa e até já reconheceram nas demonstrações financeiras. Confesso que esse nao é nosso entendimento”, disse Freire. Para ele, seria bom um acordo para evitar uma judicialização.
Saiba mais sobre a mudança no comando da EDP, acesse o MegaCast Especial: Miguel Setas e a transição no comando da EDP