O Brasil corre risco de perder a janela de oportunidade de liderar o desenvolvimento da indústria de eólica offshore, caso os formadores de política pública decidam esgotar antes os recursos onshore. A opinião é de especialistas que participaram do Lefosse Energy Day na quarta-feira, 31 de agosto.
“Essa visão de que é preciso esgotar o onshore antes de ir para o offshore é míope, e até compreensível para quem está apenas no ambiente onshore. Por isso que o papel do governo é conseguir enxergar o todo, que o Brasil ter uma matriz diversificada é saudável e traz segurança”, disse Marcello Cabral, atual assessor da diretoria financeira da Eletronorte, e que atuou até julho como secretário adjunto de Planejamento Energético do Ministério de Minas e Energia (MME).
Segundo Cabral, que foi um dos responsáveis pelo decreto 10.946/2022, que dispõe sobre a cessão de áreas para geração eólica offshore, o país não precisa explorar toda a capacidade da fonte de imediato. “Mas, se não dermos o pontapé inicial no momento certo, vamos ficar correndo atrás e perder a oportunidade de baratear a offshore mais rápido”, disse.
O país tem uma “janela de oportunidade” para sair na frente, disse Diogo Nóbrega, que comanda a Copenhagen Offshore Partners (COP) no Brasil. A desenvolvedora, que tem sede na Dinamarca, está entre uma das principais empresas na fila do Ibama por licenciamentos ambientais para geração eólica offshore.
“Os fabricantes de turbinas eólicas não têm espaço para o mundo todo. Ou trabalhamos para trazer a tecnologia hoje, ou perdemos a janela e vamos ser atrasados”, disse Nóbrega.
A ideia defendida pelos especialistas é que o Brasil inicie o desenvolvimento desses ativos, a fim de trazer fabricantes das turbinas para o país e aproveitar as “externalidades positivas que a offshore pode trazer”, nas palavras de Cabral.
“Grandes empresas de óleo e gás estão buscando a renovação de portfólio de ativos, visando agressivamente a transição energética. A conjuntura nos leva a pensar que precisamos de opções”, disse Matheus Noronha, head de Eólica Offshore e Novas Tecnologias da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica). Assim, poderão ser desenvolvidas novas opções no país, incluindo o hidrogênio verde para exportação, produzido a partir da energia gerada pelas eólicas offshore.
Para Cabral, o consumidor do hidrogênio pode ajudar a financiar linhas de transmissão e o acesso dos parques offshore ao sistema, para escoamento da energia gerada na costa. “Também podemos exportar o hidrogênio e usar pouco a rede, isso é fantástico porque eu consigo não encarecer a tarifa para o consumidor”, disse.
O Ministério de Minas e Energia (MME) deve definir as regras sobre as cessões de áreas para geração eólica offshore em até 180 dias contados a partir de 15 de junho deste ano, quando o decreto editado em janeiro sobre o tema passou a valer. A expectativa no mercado é que os empreendedores que pediram licenciamento de áreas sobrepostas tenham que disputar as áreas em leilões, mas ainda não se sabe se haverá cobrança de outorga ou qual o mecanismo da competição. Até 21 de julho, o Ibama tinha 170 GW em projetos pendentes para licenciamento ambiental.