Uma das maiores comercializadoras de energia elétrica independente, a Delta Energia recebeu aval da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustível (ANP) para importar gás natural para o Brasil. Para viabilizar esses negócios, foi criada a Delta Comercializadora de Gás, de olho nas futuras oportunidades, enquanto o mercado se desenvolve.
“Estamos nos posicionando para ter essas oportunidades e oferecer produtos o mais diversificados possível. Tanto clientes de energia, quanto potenciais industriais”, disse Alessandro di Domenico, presidente da Delta Geração, que cuida também da área recém-criada de gás.
O negócio ganhou forma dentro da Delta com a aquisição da termelétrica William Arjona, de 190 MW. A usina estava inativa desde 2017, e foi adquirida da Engie pela Delta em 2019, mas só começou a operar em 2021, já em meio da crise hídrica daquele ano.
Agora, a companhia conseguiu autorização da ANP para importar até 1 milhão de metros cúbicos por dia de gás natural da Argentina e da Bolívia, com entrega em Uruguaiana (RS) e Corumbá (MS), respectivamente. Outra autorização permite a compra de gás natural liquefeito (GNL) de diversos países, com entrada em terminais de regaseificação para atender as regiões Sul, Sudeste e Nordeste.
A termelétrica William Arjona foi despachada durante a crise hídrica, e agora, com o cenário de chuvas abundantes, a companhia decidiu aproveitar e desenvolver um caminho para o mercado de comercialização de gás. A ideia, segundo Domenico, é aproveitar a expertise da Delta, com mais de 20 anos no mercado livre de energia, e contribuir com o desenvolvimento do mercado de gás, “ainda no berçário”.
Embora o mercado de gás seja promissor, o executivo destacou que ainda são necessários muitos investimentos em infraestrutura, além de aprimoramentos nas regras. “A Delta foi pioneira no mercado de energia, a receita do bolo já existe. O que nós precisamos agora é de condições econômicas e políticas para que o mercado [de gás] aconteça”, afirmou.
A Delta já tem alguns acordos em negociação, mas ainda protegidos por cláusulas de confidencialidade, segundo Domenico. De acordo com ele, a capilaridade do grupo, presente em todo o país em negócios de energia elétrica, ajuda na oferta de soluções integradas envolvendo também o gás.
Um setor no qual a companhia está de olho é o agroindustrial, principalmente nas fábricas de fertilizantes, que podem ser grandes consumidoras de gás natural no mercado livre, a preços mais competitivos. Para Domenico, essas fábricas podem ser âncoras para investimentos em infraestrutura de acesso do gás, por exemplo, permitindo a expansão do mercado.
O ritmo de desenvolvimento do mercado ainda é incerto, mas as restrições estão sendo trabalhadas, de acordo com o executivo, que está à frente da Delta Geração desde junho do ano passado. Antes disso, Domenico passou quase 20 anos como diretor comercial do Grupo Bolognesi, que tem atuação em termelétricas a gás natural no país.
“Começamos a fazer composições para nos posicionar no mercado e oferecer algo competitivo, diferente do que os consumidores têm no mercado regulado. O mercado livre de gás vem para isso, oferecer alternativas, flexibilidade, coisas que precisam ser trabalhadas”, concluiu.
Em relação aos preços do gás natural no mercado internacional, Domenico lembrou que o conflito entre Ucrânia e Rússia causou aumentos abruptos, mas que o inverno menos rigoroso neste ano tem contribuído para acomodar os preços em patamares mais baixos. “Teve um pico, já recuou bem, mas ainda tem espaço para voltar um pouco mais. No longo prazo, os preços vão voltar para um patamar melhor do que estão agora”, afirmou.