“A ideia aqui é pegar plantas que nem começaram a construção ainda, trazer o capital e com ele já construir a planta. O balanço da companhia fica protegido” disse o presidente da Raízen, Ricardo Mussa, em coletiva de imprensa feita nesta sexta-feira, 9 de fevereiro, a respeito dos resultados da companhia no terceiro trimestre do ano-safra 2023-24.
Atualmente, a Raízen tem apenas uma planta em operação, no Parque de Bioenergia Costa Pinto, em Piracicaba, em São Paulo, que entrou em operação em 2023 e já produziu 25,2 mil m³, segundo relatório divulgado nesta quinta-feira, 8 de fevereiro, pela companhia. A segunda planta de E2G da companhia, em Guariba, também no estado, está em fase final de comissionamento, com previsão de atingir 60% de sua capacidade no primeiro ano de operação. Mais quatro plantas estão em construção, em estágios entre 10% e 50% de conclusão, e há outras três plantas sendo planejadas.
Apesar de a companhia já ter dito esperar chegar a 20 usinas de E2G até 2030, o relatório divulgado nesta semana projeta que até 2027 apenas estas nove usinas estarão em operação, a uma capacidade total de 686 mil m³ de E2G por ano-safra.
Além dos adiantamentos recebidos, o fato de ter várias plantas similares em construção facilita o desenvolvimento dos projetos, segundo o presidente da Raízen. “Facilita muito a engenharia, a compra de equipamentos, o aprendizado de uma planta para a outra. Você pode esperar que cada projeto seja mais fácil de executar do que o anterior”, disse Mussa. Segundo ele, as rotinas de manutenção também devem ser otimizadas pelo fato de haver muitas plantas similares em operação.
Segundo a Raízen, as usinas iniciam operação com pelo menos 80% da capacidade já contratada. “É um produto cuja tecnologia nós dominamos e praticamente somos a única empresa do mundo a oferecer. Para garantir o suprimento, nossos clientes fecharam contratos com volumes e preços mínimos garantidos. Essa é uma condição única. Como produtores, é muito difícil ter seu produto já comercializado com clientes triple A”, disse Mussa.
O E2G é feito a partir dos resíduos de produção do etanol comum e do açúcar. Por ser feito de resíduo, tem pegada de carbono reduzida e não compete com a produção de alimentos. A regulação europeia Renewable Energy Directive determina uma porcentagem mínima de matéria renovável nos combustíveis, com parte de fontes não-alimentares para evitar inflação sobre os alimentos.
Resultados
No terceiro trimestre do ano-safra 2023-2024, a Raízen teve lucro líquido ajustado de R$ 754 milhões, aumento de 195% em relação ao mesmo período do ano-safra anterior. A rentabilidade foi puxada pelo segmento de mobilidade no Brasil e América Latina, que teve lucro de R$ 2,8 bilhões, e pelo segmento de açúcar, que teve Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado de R$ 1,4 bilhão, montante oito vezes maior do que no ano anterior. O Ebitda geral da companhia foi de R$ 3,9 bilhões, amento de 33% em relação ao ano-safra 2022-23.
No período, a receita líquida caiu 3% em relação ao ano anterior, a R$ 58,5 bilhões. O segmento de renováveis teve redução de 28,8% na receita, a R$ 5,4 bilhões. O volume de etanol vendido caiu 17,6%, atingindo 1,4 milhão de m³. O preço médio do combustível caiu 31%, a R$ 2,5 mil por m³. Os estoques de etanol aumentaram 28% e agora somam 1,3 milhão de m³ – o equivalente a R$ 3,6 bilhões.
Segundo a Raízen, os preços do etanol estão depreciados pelo aumento da oferta, tanto de etanol de cana quanto de milho. Em teleconferência com investidores, os executivos da empresa garantiram segurança na estratégia. Segundo eles, o preço do etanol está competitivo em relação ao da gasolina, o que aumenta a demanda pelo renovável. A Raízen, que também opera os postos de combustíveis da marca Shell, acredita que o fato de ter uma carteira integrada colabora com o monitoramento do comportamento do consumidor.
Apesar da queda nas vendas e do aumento nos estoques de etanol, a empresa consegue manter um prêmio sobre o preço de referência local do combustível, considerando a base Esalq, em virtude de um mix de exportação de etanol industrial e combustível para clientes globais com precificação diferenciada. “A expansão de mercados e aplicações proporciona maior valor agregado para a cana-de-açúcar, em virtude dos seus atributos renováveis, qualidade certificada com manejo sustentável e tecnologia”, diz a Raízen no relatório.
Em energia, a divisão Raízen Power terminou o trimestre com mais de 70 mil unidades consumidoras conectadas. O volume total de energia da divisão foi de 9,4 mil GWh, aumento de 5,3 vezes em relação ao ano-safra anterior. Deste montante, apenas 6,7% foram produzidos pela Raízen. Mais de 8,8 mil GWh passaram por comercialização & trading.
Os investimentos somaram R$ 3 bilhões, redução de 2% em relação ao ano anterior.