De olho em painéis solares mais competitivos, a Casa dos Ventos planeja investir cerca de R$ 3,5 bilhões para entrar no segmento de geração solar centralizada e alcançar 1 GW da fonte até 2026. Segundo o diretor-executivo da companhia, Lucas Araripe, o modelo ajudará a companhia a otimizar custos e aproveitar a infraestrutura de transmissão, já que prevê a hibridização com parques eólicos já consolidados.
“A nossa ideia é, ao longo de 2024, começar a aprovar os primeiros parques solares. Então, isso [vai acontecer] de duas formas. Como temos muita capacidade instalada eólica e os painéis solares estão em um patamar de preço competitivo, a gente consegue unir o melhor dos dois mundos e viabilizar parques híbridos”, disse o executivo em coletiva de imprensa nesta terça-feira, 20 de fevereiro.
Inicialmente, a empresa deve associar 300 MW de solares às eólicas Babilônia Sul (em operação) e Babilônia Centro (em fase de construção), num total de 553,5 MW de capacidade instalada, localizados entre os munícipios de Morro do Chapéu e Várzea Nova, na Bahia.
Depois, deve focar em dobrar a capacidade solar, com plantas fotovoltaicas junto aos parques eólicos Serra do Tigre e Rio do Vento, ambos no Rio Grande do Norte.
Já em projetos únicos, os novos complexos solares devem totalizar cerca de 400 MW e estão sendo estudados em quatro estados: Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e São Paulo. A estimativa é que os complexos estejam operacionais até 2026.
Eólicas
Além dos parques solares, a companhia prevê cerca de 3 GW em eólicas nos próximos dois anos, com previsão de até R$ 9 bilhões em investimentos.
Os investimentos
Considerando esse novo volume de R$ 12 bilhões para projetos renováveis, Araripe destaca que 70% dos investimentos destinados aos empreendimentos eólicos e solares serão captados via financiamentos de longo prazo, sendo que um já foi contratado junto ao Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o restante está sendo estudado para ocorrer por mercado de capitais, via debêntures incentivadas, e pelo Banco do Nordeste (BNB). O valor remanescente será viabilizado por capital próprio.
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Desafio na demanda
Com uma expansão de quase 4,2 GW até 2026, Lucas Araripe afirma que a companhia tem visto desafios na demanda para destinar a geração e que tem dialogado com companhias eletrointensivas e do exterior. A ideia é aproveitar a criação dos hubs para se beneficiar da transição energética e potencializar o crescimento da empresa.
“A gente tem pensado nesses grandes projetos para conseguir botar o hidrogênio à disposição para produzir produtos verdes aqui no Brasil. A neoindustrialização vai trazer muitas indústrias para o Brasil”, destacou o executivo.
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Lucas Araripe acrescenta ainda que a piora da hidrologia, as ondas de calor e a alta nos preços de energia dos últimos meses voltou a despertar o interesse das empresas, que não querem ser “expostas” à volatilidade do mercado e que buscam contratos de longo prazo para se beneficiarem dos incentivos das fontes incentivadas.
Parceria TotalEnergies
A expansão do portfólio foi possível a partir da venda de 34% do braço de geração da companhia para a francesa TotalEnergies, anunciada em outubro de 2022. Segundo Araripe, a sociedade foi firmada com dois objetivos principais: aumentar a capitalização da geradora para desenvolver novos projetos e reduzir os custos de capital.
“Para [construir] um projeto eólico e/ou solar precisamos de um recurso ótimo para comprar equipamentos de maneira competitiva. [Desta compra,] cerca de 80% a 70% é dívida. Então, o custo do financiamento da dívida é muito relevante no custo final de energia, e a TotalEnergies, para todos os nossos novos projetos, ela tem dado esse suporte financeiro de garantias, que ajudam a reduzir nosso custo de capital e tornam a empresa ainda mais competitiva”, disse Araripe.
Além disso, a associação entre as partes pode ajudar a companhia desenvolver novos produtos “verdes”, produzindo hidrogênio e derivados, como a amônia e o metanol verde. De acordo com o executivo, a empresa está estudando projetos no mercado doméstico, principalmente destinado ao setor siderúrgico e de fertilizantes. A companhia também tem avançado em um projeto de produção de hidrogênio e amônia verde no Complexo Industrial do Pecém, onde pretende destinar a produção para o mercado internacional.
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Araripe ressaltou ainda que a petroleira tem fornecido apoio técnico para desenvolvimento de soluções e em negociações com potenciais “offtakers” de outros países.
Nova marca
Para consagrar essa nova etapa, a empresa também lançou sua nova identidade visual, a da Casa dos Ventos associada a TotalEnergies, para refletir o momento de expansão, a diversificação da sua carteira e o foco nas ações socioambientais da empresa.