O setor elétrico pode estar mais “aquecido” em operações de fusões & aquisições (M&A) neste ano, dadas as previsões de cenário hidrológico desfavorável que podem causar variações no preço de energia e impulsionar a assinatura de contratos de compra e venda de energia elétrica de longo prazo (PPA, na sigla em inglês).
Em evento promovido pela Clean Energy Latin América (Cela), Marília Rabassa, diretora e head de consultoria, destacou que 2023 foi um período desafiador para assinatura de contratos, já que o capex de projetos eólicos e solares estavam altos e os preços de curto e médio prazo estavam baixos, por conta do cenário hídrico favorável, o que impactava a viabilização dos empreendimentos.
“Quando falamos de M&A, ele traz mais valor quando o projeto tem algum PPA ou está em operação. [Em 2023], o volume de fusões e aquisições deu uma caída, por consequência do cenário macro do setor elétrico e do capex dessas duas tecnologias”, disse Rabassa.
Para 2024, a executiva da Cela projeta um capex ainda alto para eólicas, contudo, a fonte solar deve apresentar uma redução, já os preços de energia podem seguir os aumentos vistos nas últimas semanas, aquecendo o mercado e, consequentemente, a conclusão de M&As.
Rabassa também destacou que existe espaço para negociação de projetos com desconto nas tarifas de distribuição e transmissão (Tusd e Tust).
“Antes de acabar o desconto no fio, foram mais de 100 GW de projetos que pediram outorga. O volume ainda existe e, com o desafio de assinar PPA, esses projetos continuam no mercado, então ainda não vejo um gargalo para projetos com desconto no fio”, afirmou.
M&A e PPAs em 2023
No ano passado, foram mapeadas 29 transações de M&A, envolvendo R$ 9,3 bilhões, uma desaceleração em relação aos números recordes de 2022, quando foram mapeadas 33 operações, somando cerca de R$ 15,5 bilhões. Os projetos totalizaram 9,14 GW de capacidade instalada, queda de 54,3% em relação ao registrado em 2022, cerca de 20 GW.
No mesmo período, foram mapeados pela entidade 23 PPAs, sendo 20 alocados no modelo de autoprodução de energia no Ambiente de Contração Livre (ACL). O estudo elaborado pela entidade leva em consideração informações prestadas por 18 geradoras no período.
No total, os contratos mapeados somaram 969 MW médios, alta de 63% em relação ao período anterior, quando foram contabilizados 594 MW médios e totalizaram R$ 5,4 bilhões em recursos.
Apesar da alta no volume, o número de contratos fechados no longo prazo sofreu uma queda de 14%, em comparação às 27 assinaturas fechadas no ano anterior. Segundo Marília Rapassa, o desempenho é justificado pela entrada de três geradoras no estudo.
“Tivemos um número maior de participantes, então isso acaba dando uma distorcida no mercado. Não quer dizer que o mercado está acelerando e sim que existem mais pessoas participando do estudo”, explicou.
Entre 2017 e 2023, foram assinados 140 PPAs no ACL, sendo 86 solares e 54 eólicos, totalizando 4,15 GW médios, dos quais 1,72 GW de eólicas e 2,43 GW de solares.
No período, 46% dos PPAs analisados têm prazo de 15 anos de fornecimento de energia, equivalente a 2.043 MW médios de energia eólica e solar contratada no ACL; 30% têm contratos de 20 anos, cerca de 1.226MW médios. Em 2023 foram assinados os primeiros PPAs de 21 e de 25 anos de duração, equivalentes a 1.452 MW.
Na avaliação de Rapassa, o crescimento de contratos de maior duração no ano passado é uma consequência da busca por previsibilidade nos preços por consumidores, que, em sua maioria, são instituições financeiras e empresas de petróleo e gás buscando cumprir suas metas de descarbonização.