Ao mesmo tempo em que executa um plano de investimentos de mais de R$ 6 bilhões em 2024, a Cemig continua buscando alternativas para vender seus ativos não estratégicos, como o caso da participação na Aliança Energia, vendida à Vale, sócia no negócio, e que deve render R$ 2,7 bilhões à estatal mineira, em valores de junho de 2023. A companhia prepara um leilão para venda de quatro pequenas centrais hidrelétricas (PCHs) em julho, com valor mínimo de R$ 29,1 milhões, e ainda olha alternativas para desinvestimentos em ativos maiores e mais complexos, como sua participação na hidrelétrica de Belo Monte e no capital social da Taesa.
“Estamos firmes no nosso plano de desinvestimento dessas participações minoritárias, onde não temos controle”, disse Marco Soligo, vice-presidente de Participações da Cemig, em teleconferência da companhia para comentar os resultados do primeiro trimestre deste ano.
O executivo disse, contudo, que não poderia dar detalhes de como andam as negociações, apenas garantir que “seguem firmes” e que o objetivo é fazer “algo inteligente e que faça sentido” para a Cemig. “Alguns processos, como a Taesa, são mais complexos, as formas de fazer. Belo Monte também não é algo fácil de alienar, mas estamos aí conversando com o mercado e temos confiança de que vamos resolver”, disse Soligo.
A Cemig atualmente tem 21,68% do capital social da Taesa, depois de vender ações da companhia na bolsa, e fala há alguns anos sobre sua saída da transmissora, onde está no bloco de controle junto da colombiana ISA, dona da ISA Cteep e controlada da Ecopetrol. No caso da Norte Energia, dona de Belo Monte, a participação é de 11,69%.
Leilão de PCHs
Enquanto as transações não saem, a Cemig pretende fazer em 3 de julho o leilão das quatro PCHs restantes em seu portfólio na B3, em São Paulo, ao preço mínimo de R$ 29,1 milhões. As usinas somam 14,8 MW de potência. Outras 15 pequenas hidrelétricas da companhia, com capacidade de 41,4 MW, foram vendidas à Mang em 2023 por cerca de R$ 100 milhões.
“Pelas características de operação da companhia, entendemos que agregamos valor aos nossos acionistas quando alienamos esses ativos, que entendemos que eles têm muito valor no mercado”, disse Leonardo George de Magalhães, vice-presidente de Finanças e de Relações com Investidores da companhia. A justificativa é que são ativos pequenos quando comparados às grandes hidrelétricas do portfólio da estatal mineira, e pela complexidade das suas operações a venda é positiva para a companhia.
Redução do endividamento
Os desinvestimentos têm feito parte do plano de reestruturação da companhia desde 2016, quando a relação entre dívida líquida e Ebitda (sigla em inglês para resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização) chegou a mais de 4 vezes, pressionando a capacidade da companhia de investir e pagar dividendos aos acionistas. Desde então, a empresa vendeu a Cemig Telecom, saiu da Light e da Renova Energia e vendeu sua participação em Santo Antonio.
Ao mesmo tempo, os investimentos na concessão de distribuição, com foco em melhorar a qualidade do serviço, foram ampliados. Dos R$ 6,2 bilhões em investimentos previstos para este ano, R$ 4,4 serão na distribuidora. No primeiro trimestre deste ano, a empresa investiu R$ 1,019 bilhão, sendo R$ 881 milhões na distribuidora.
Desde 2019, a Cemig saiu de uma alavancagem de 2,7 vezes para 0,83 vez ao fim do primeiro trimestre deste ano. Como a companhia planeja investimentos expressivos para este ano e os próximos (R$ 35,6 bilhões entre 2024 e 2028), o endividamento deve subir gradualmente até 2027, se aproximando do indicador de 2,5 vezes, considerado ideal pela companhia.
O futuro da Cemig
“Lógico que temos oportunidades de novos investimentos, achamos que essa é a estratégia vencedora. Falo de uma empresa que hoje tem alavancagem baixa, que permite fazer novos investimentos robustos e relevantes, que vão aumentar nossa receita”, disse Magalhães. Ao mesmo tempo, a companhia pretende se manter uma boa pagadora de dividendos aos acionistas, seguindo sua política de distribuir ao menos 50% do lucro em proventos.
O planejamento estratégico não conta com a privatização ou a federalização da Cemig, ambos cenários possíveis atualmente, devido aos planos do governo mineiro e das negociações deste com a União em relação à dívida do estado.
“A federalização é um tema do acionista controlador. Nós aqui estamos tocando o dia da companhia com a visão estratégica de focar em Minas Gerais, de fazer desinvestimentos de ativos e participações minoritárias ou de ativos que não se encaixem no tamanho da companhia”, disse Reynaldo Passanezi, presidente da Cemig. Segundo ele, independentemente do futuro político de Minas Gerais e do resultado das próximas eleições para o governo do estado, cerca de 75% do planejamento estratégico está contratado, com foco em melhorar a qualidade de serviço da distribuidora.
Leia mais:
Custos e despesas crescem e lucro da Cemig recua 17,5% no 1º tri, a R$ 1,15 bilhão