O gás não-convencional de Vaca Muerta, na Argentina, pode ser estratégico para atendimento da demanda energética da indústria brasileira, afirmou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante o Fórum Empresarial Brasil-Bolívia, realizado nesta terça-feira, 9 de julho.
“O gasoduto Brasil-Bolívia é um patrimônio estratégico que pode ser aproveitado para transportar gás do campo de Vaca Muerta na Argentina até o Brasil, suprindo demanda da indústria nacional. Também poderá contribuir para abastecer as plantas para a produção de fertilizantes que queremos construir no Mato Grosso e aqui em Santa Cruz de la Sierra”, disse o mandatário brasileiro.
Antes do evento, uma reunião foi promovida entre o presidente Lula, o presidente da Bolívia, Luis Arce, e comitivas de ministros e autoridades para discutir a possibilidade de ampliar investimentos em gás natural e incrementar o volume exportado para o mercado brasileiro.
No encontro, Arce destacou que o país está iniciando um processo de industrialização e precisa da experiência do Brasil na área. O presidente boliviano falou ainda que o país continuará explorando, produzindo e comercializando gás, mas está focando em matérias-primas, como o lítio.
Segundo informações do Planalto, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, estava entre os presentes e disse que as negociações, no que diz respeito à produção e transporte de gás, inclusive o produzido na Argentina, estão em um “bom estágio”.
Depois do encontro, Alexandre Silveira discursou no fórum e apontou que algumas questões relacionadas ao gás precisam ser resolvidas para que o Brasil importe, a partir de outubro, 4 milhões de metros cúbicos por dia (m³/dia) de gás natural da Bolívia. Silveira afirmou ainda que o país tem capacidade para receber da Argentina, via Gasbol, mais 2 milhões de m³/dia.
Além da importação, o ministro destacou que o governo brasileiro tem dialogado com as províncias da Argentina para debater uma “possibilidade real” de estações de liquefação no país vizinho para chegar ao Brasil via marítima.
De acordo com Silveira, o Brasil tem olhado para o gás em “todas as frentes”, principalmente para a diminuição da reinjeção e na regulação dos gasodutos de escoamento para diminuir o preço das Unidades de Processamento de Gás Natural (UPGNs).
“Trouxemos aqui [na Bolívia] a indústria intensiva do Brasil, da química, do vidro, cerâmica. Viemos trabalhando fortemente no programa Gás pra Empregar no Brasil, que visa aumentar nossa oferta de gás e, consequentemente, flexionar o preço para criar um ciclo virtuoso de desenvolvimento nacional. Esse é um foco que não podemos abrir mão, reindustrializar o Brasil em parceria com a América Latina e a Bolívia é uma grande parceira nisso”, destacou.
Representantes da indústria na Bolívia
Em nota, representantes de associações e de entidade ligadas à indústria brasileira, que foram para a Bolívia, afirmam que a visita ao país vizinho está em linha com os objetivos do programa Gás Para Empregar e, que a partir das conversas realizadas já “será possível iniciar rodadas de negociação para contratação de gás boliviano e argentino sem a participação da Petrobras, o que será fundamental para aumentar a concorrência no mercado de gás, possibilitando maior liquidez, ajudando, inclusive a viabilização do gás natural vindo do pré-sal”.
Assinam o comunicado as associações Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace), Brasileira das Indústrias de Vidro (Abvidro), Brasileira da Indústria Química (Abiquim), Paulista das Cerâmicas de Revestimento (Aspacer), Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimentos (ANfacer) e a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).
Parceria em outros setores
No discurso de encerramento do fórum, Lula aproveitou ainda para destacar a cooperação entre os países na política industrial para exploração e manufatura do lítio, que tem uma demanda em crescimento exponencial devido ao uso na fabricação de baterias elétricas de automóveis e outros veículos, e ressaltou a importância do desenvolvimento conjunto das partes, com fortalecimento da cooperação comercial, em especial na produção de fertilizantes.
O líder brasileiro também ressaltou a janela de oportunidade que a transição energética representa para todos os países sul-americanos.
“Não temos a riqueza tecnológica de outros países, mas temos riquezas que a natureza nos permitiu e que o mundo necessita. Seja na produção de alimentos, na exploração de minerais críticos, na produção de hidrogênio verde, de energia eólica, solar, biomassa, biocombustível. Temos que oferecer ao mundo o que eles não têm”, afirmou o presidente brasileiro.