M&A

'Nova 3R' deve aproveitar sinergia de mais de US$ 1 bi após fusão

Com incorporação da Enauta, empresa pretende focar em operações de baixo risco e otimizar sinergias

Diretoria da 3R Petroleum após integração com Enauta
Diretoria da então 3R Petroleum no escritório da empresa, após integração com Enauta. Brava Energia, novo nome da empresa. | MegaWhat

Após uma negociação ágil, que resultou em uma bem-sucedida integração de negócios com a Enauta, a 3R planeja fechar seu novo planejamento estratégico até novembro deste ano, com foco em ativos de baixo risco e retorno mais rápido, a fim de usufruir as sinergias operacionais, que devem superar US$ 1,2 bilhão.

Segundo Decio Oddone, que é o presidente da nova empresa, não houve planejamento entre as partes até a autorização da transação por parte do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). “Agora é que a gente vai se debruçar sobre essas questões”, disse a jornalistas nesta sexta-feira, 2 de agosto – segundo dia da nova empresa.

Mesmo assim, já há algumas diretrizes no radar. A nova empresa deve se concentrar em ativos de baixo risco e retorno mais rápido. A empresa deve assumir alguns riscos exploratórios, mais concentrados em áreas próximas a onde a empresa já tem atividades e infraestrutura. “Tem blocos ao redor de campos de nossa produção. Isso é baixo risco”, disse Rodrigo Pizarro, que agora é diretor Financeiro da empresa.

O diretor de Operações Carlos Mastrangelo lembra que em 2023, enquanto a Enauta perfurava poços para Atlanta, um trabalho exploratório em região próxima encontrou nova acumulação, que foi chamada Atlanta NE e tem cerca de 230 milhões de barris de óleo.

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A orientação para projetos de menor risco também deve significar que ativos da Enauta novas fronteiras, como nas bacias de Pará-Maranhão, e Sergipe-Alagoas, não devem ser trabalhados no momento.

Sinergias operacionais

A nova diretoria da 3R avalia que as companhias se integraram em um momento limiar a grandes entregas. Do lado da Enauta, a chegada do FPSO Atlanta, com capacidade para 50 mil barris de óleo por dia, abre caminho para um salto na produção do campo de mesmo nome – atualmente, Atlanta produz 20 mil barris por dia, com o FPSO Petrojarl.

A nova plataforma já está com as conexões submarinas concluídas, mas aguarda autorização do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) para começar a operar.

Segundo os executivos, todas as exigências do Ibama já foram cumpridas, e falta apenas uma visita final do órgão para liberar a plataforma. Tal visita já estaria agendada e seria compatível com o planejamento de primeiro óleo para agosto. Entretanto, a “operação padrão” da ANP pode atrasar o cronograma – o que não assusta a empresa, pois a Enauta já havia preparado um “plano B”, com extensão das atividades de Petrojarl.

Quando começar a operar, o FPSO Atlanta deve manter os atuais níveis de produção do campo, na casa de 20 mil barris de óleo por dia. O pico de produção do FPSO Atlanta, inicialmente, estava previsto para primeiro trimestre de 2025. Os executivos não detalharam qual seria a quantidade de barris produzida neste momento.

Já a 3R, que adquiriu ativos da Petrobras, só concluiu a transação de duas reservas importantes há poucos meses: o Polo Potiguar foi concluído em junho de 2023 e Papa Terra em dezembro de 2022. “A 3R teve pouco tempo ainda para absorver esses ativos, entendê-los e melhorá-los”, avalia Pizarro.

Apesar de não darem previsões de produção, os executivos avaliam que a produção combinada das empresas no segundo trimestre de 2024 teria superado a marca de 80 mil barris de óleo equivalente por dia.

A produção e a rentabilidade devem ser otimizadas com a integração. As sinergias operacionais “facilmente identificadas” devem significar, logo no começo da operação, ganhos de US$ 1,2 bilhão. Pizarro também avalia que haverá ganhos em ratings, “provavelmente no curto prazo”, que tornarão os financiamentos mais baratos para a empresa.

Do lado comercial, a integração de Enauta e 3R proporciona uma produção complementar, com óleos de qualidades diferentes. Há, ainda, a capacidade de armazenagem da companhia – a 3R tem capacidade de estocagem para quase dois milhões de barris no Rio Grande do Norte e, com a operação do FPSO Atlanta, mais 1,6 milhão de barris poderão ser estocados.

“Tem uma série de oportunidades para você trazer flexibilidade e eficiência logística na forma como você comercializa esse petróleo”, avalia Pizarro. Em gás natural, a nova empresa deve estar entre as maiores produtoras da molécula, sendo boa parte em campos de gás não associado ao petróleo, complementa o executivo.

Parcerias com PetroReconcavo

No radar da nova empresa, também continua a ideia de uma parceria com a PetroReconcavo para compartilhamento de estruturas na unidade de processamento de gás natural (UPGN) de Guamaré, no Rio Grande do Norte. O ativo pertence à 3R, mas também processa gás da PetroReconcavo produzido na região.

A UPGN tem capacidade total de processar até 5,7 milhões de m³ de gás natural por dia e é dividida em três unidades, das quais apenas uma está sendo usada.

Segundo Pizarro, a projeção é que com o tempo a produção da 3R e da PetroReconcavo ultrapassem a capacidade em uso atualmente. Com a necessidade de ampliar a capacidade de processamento, é mais vantajoso para ambas as companhias dividir os custos destas melhorias do que cada empresa ter sua própria unidade.

Cortes

A empresa também avalia que haverá “sobreposições” de funções, e prepara um pacote de saída para executar os cortes de pessoal até o fim de setembro. “A partir do final de setembro, a equipe está formada e aí é operação normal”, disse Oddone.

Em relação às sobreposições de funções, “o que é mais fácil de visualizar nesse primeiro momento são as principais gerências”, avalia Oddone.

Reunião do Conselho

O novo conselho de administração da companhia se reuniu pela primeira vez nesta quinta-feira, 1º de agosto. Segundo os diretores, a reunião foi “de organização”, com aprovação de renúncias e eleição dos novos diretores e conselheiros.

A empresa deve mudar de nome, mas por enquanto continuará se chamando 3R. A Enauta e suas subsidiárias foram incorporadas à 3R, que agora é a única empresa listada em bolsa.

A nova companhia será uma “corporation”, sem acionista de referência. Segundo os executivos, o maior acionista é o banco Bradesco, que tem 12% da nova organização.

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