Net zero

Braskem diversifica portfólio e alocação de energia, com PPAs e resposta da demanda

Funcionária Braskem/ Divulgação
Funcionária Braskem/ Divulgação

A Braskem planeja investir R$ 4 bilhões para alcançar o net zero em 2050 e tem traçado diversas estratégias para entender o papel de cada fonte em suas operações, incluindo o fechamento de parcerias com geradoras com contratos de longo prazo (PPAs, na sigla em inglês) e no regime de autoprodução.

Contudo, segundo Gustavo Checcucci, diretor de Energia e Descarbonização Industrial da Braskem, dado o cenário atual do setor elétrico, a empresa tem sido cautelosa no fechamento de contratos para garantir a otimização de seu portfólio.

Os contratos da empresa estão distribuídos em projetos eólicos e solares, somando cerca de 600 MW de potência instalada em diversas regiões. Além disso, não há um volume expressivo contratado de um único player, dado o cenário atual de curtailment, que vem sendo mitigado em suas operações via compensação de um parque por outro. Com os cortes na geração de parceiros, a Braskem também vê com cautela a possibilidade de novos PPAs. 

“Não conseguimos fazer essa contratação por conta da fonte e do aumento do curtailment. Hoje, fazemos um ajuste nas operações quando tem curtailment, permitindo a organização do nosso portfólio e a redução de riscos. Tenho espaço ainda para PPA? Tenho, mas analisamos se faz sentido economicamente jogar isso dentro dos cenários energéticos”, afirmou Cecchucci à MegaWhat.

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A otimização do portfólio pela Braskem somada ao retorno da liquidez do mercado livre ainda proporcionaram à empresa entrar no programa de resposta da demanda.

“Entramos neste processo porque conseguimos ter flexibilidade jogando de um lado para outro nos ativos da operação. Também posso deslocar um pouco a minha operação, operar em outro horário para contribuir na resposta à demanda. Então, se eu tenho um curtailment, posso trabalhar isso em outros contratos de energia renovável e posso, eventualmente, trabalhar com outros energéticos”, destacou o diretor da Braskem sobre o assunto.

O chamado curtailment acontece quando o Operador Nacional de Energia Elétrica (ONS) determina a interrupção da geração desses empreendimentos por razões não relacionadas às usinas, como impossibilidade de alocação da geração na carga, indisponibilidade da rede de transmissão ou atendimento a requisitos de confiabilidade elétrica.

As normas estabelecidas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) determinam que os geradores devem assumir os custos dos cortes causados na maior parte das vezes, exceto quando são relacionados à indisponibilidade externa, mas há franquias de horas que limitam o período em que os custos podem ser alocados aos consumidores por meio de encargo setorial.

Baterias e as fontes intermitentes na Braskem

Para lidar com as fontes intermitentes, a Braskem tem estudado o uso do armazenamento de energia em baterias nas suas unidades industriais para substituir parte da geração térmica.De acordo com Checcucci, o projeto passou por uma validação técnica em uma planta no Rio Grande do Sul e agora entra em fase de recebimento de propostas comerciais em conjunto com modelos de negócio.

Na unidade do Rio Grande do Sul, a empresa prevê a instalação de um sistema de armazenamento de energia em baterias (BESS) de 9,5 MW, com potencial de reduzir as emissões de CO2 de até 65 mil toneladas/ano.

Hidrogênio na petroquímica

As soluções mapeadas pela empresa para sua descarbonização também incluem os potenciais usos do hidrogênio de baixo carbono, por meio da substituição energética ou mercadológica para produção de itens e derivados.

No momento, a empresa estuda a aplicação do combustível em quatro unidades, sendo dois projetos pequenos em estágio avançado no Nordeste e os outros sem região definida ainda. A cautela para a implementação ocorre mesmo com a sanção do marco legal, pois, de acordo com o executivo, “ainda é preciso evoluir em questões tecnológicas do hidrogênio no Brasil e garantir a sua competividade”.

“A tecnologia do hidrogênio verde precisa melhorar e ser mais eficiente. [Apesar do marco], é preciso dar tempo para a tecnologia amadurecer e o custo cair, assim como aconteceu no passado com as plantas solares. Para os nossos dois primeiros projetos, procuramos uma solução específica, sempre buscando os quatro pilares de solução”, destacou.

‘Bala de prata’ da descarbonização

Com tantas possibilidades na mesa, Checcucci afirma que a estratégia da empresa está na integração de diversas fontes para atender cada perfil operacional de suas unidades. 

“A indústria precisa sobreviver e não dá para aplicar uma solução a qualquer custo. Por isso, é preciso entender como a empresa vai alocar a sua composição energética. Na Braskem focamos em quatro pilares de soluções, ou seja, ela [fonte] precisa ser renovável, confiável, flexível e competitiva”, disse Gustavo Checcucci.

Para o executivo, não existe “bala de prata” na descarbonização da indústria, sendo necessária uma integração de diversas fontes para atender o perfil de cada indústria e suas respectivas operações. No caso da Braskem, a integração dos quatro pilares pode ajudar a petroquímica a reduzir em 15% as suas emissões de escopos 1 e 2 (operações e consumo de energia), em relação à média 2018-2020, até 2030. A meta é alcançar a neutralidade de carbono até 2050. Ao todo, a empresa planeja investir R$ 4 bilhões em sua descarbonização, capital que será mobilizado por parceiros e por ela própria.

Políticas públicas de descarbonização

Sobre a implementação de políticas públicas para alcançar a economia de baixo carbono, Gustavo Checcucci defende que é preciso entender como os anúncios do governo envolvendo, por exemplo, o Plano de Transformação Ecológica, a Nova Indústria Brasil e o Gás para Empregar podem ajudar a indústria sem gerar subsídios cruzados.

“Essas iniciativas são positivas, mas é preciso ver a evolução delas e entender, na prática, o quanto isso vai efetivamente contribuir. Um ponto que me preocupa muito é a questão dos subsídios cruzados, para não trazer custos para o consumidor”, disse.  

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