Mercado de gás

Flexibilidade e demanda, além do preço, são essenciais para impulsionar mercado de gás

Embora políticas públicas busquem aumentar a disponibilidade de gás natural para reduzir o preço, agentes do mercado apontam outros elementos importantes

Instalação de gás natural.
Gás | Crédito: Tauan Alencar/MME

Embora políticas públicas como o Gás para Empregar busquem aumentar a disponibilidade de gás natural para reduzir o preço, agentes do mercado que participaram da ROG.e (antiga Rio Oil & Gas) apontam outros elementos como importantes para desenvolver o mercado de gás no Brasil.

O diretor Técnico da Origem Energia, Nathan Biddle, lembrou que o aumento da demanda é importante para oferecer segurança aos produtores, mas o consumo base não se altera significativamente desde 2010. Para ele, a demanda não aumenta por falta de flexibilidade.

“Claramente temos que ter preços de gás mais atrativos. Mas antes disso tem que vir a flexibilidade. Os consumidores não querem se comprometer com longo prazo e 80%, 90% de take or pay”, disse o executivo, mencionando montantes de inflexibilidade nos contratos de fornecimento e transporte de gás. A Origem é parceira da Transportadora Associada de Gás (TAG) em projeto de estocagem de gás – que, segundo a companhia, será capaz de oferecer mais flexibilidade tanto a produtores quando para consumidores.

O painel foi realizado nesta quarta-feira, 25 de setembro, com mediação do professor da PUC-Rio Edmar Almeida. Ele lembrou que, com a entrada de projetos com alto potencial de gás, como Sergipe Águas Profundas, operado pela Petrobras, e Projeto Raia, operado pela Equinor, a oferta de gás tende a aumentar no país.

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“Os preços no mercado internacional estão se estabilizando e o gás importado já está sendo oferecido no país”, disse, mencionando o lançamento da Edge. “A partir daí haverá disputa de preço. Temos que começar a falar de demanda. Com a entrada de Seap, é muito gás [entrando no mercado]”, disse o acadêmico.

Como gás natural é uma fonte que pode ser substituída por outras – como carvão, diesel ou eletricidade – historicamente a demanda apresenta crescimento instável e volátil no país.

Para a diretora e presidente interina da Pré-Sal Petróleo (PPSA), Tabita Loureiro, também é possível que os novos projetos apenas compensem a queda no fornecimento do gás boliviano. “Se acabar o gás boliviano, o BM-C-33 (Projeto Raia) só vai compensar isso”, constatou, comparando as taxas de importação da Bolívia com a produção estimada do projeto da Equinor.

Assim, para Loureiro, embora empresas como a Petrobras estejam “se esforçando” para aumentar a oferta de gás, ainda seria preciso “ter mais folga nessa ampliação de gás doméstico”.

Mercado brasileiro tem reservas menores e custos mais altos

Outra questão apontada pelos agentes está relacionada às condições do gás no Brasil, que tem reservas menores do que as de grandes produtores, como Estados Unidos e Rússia. Além disso, como boa parte do gás é produzido offshore, o custo de infraestrutura é mais elevado.

“É muito tentador comparar o Brasil aos Estados Unidos, mas é uma comparação que não necessariamente tem um contexto muito equilibrado”, disse a vice-presidente da Equinor, Claudia Brun. Ela lembrou que, nos Estados Unidos, a malha dutoviária também é muito mais extensa do que no Brasil.

Tabita Loureiro, da PPSA, também mencionou os custos de infraestrutura no país. “Se a União não ganhasse nada com o gás, ainda assim esse gás não chegaria por menos de US$ 8 por milhão de BTU. É muito caro o custo de logística no Brasil”, disse.

A PPSA foi autorizada pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) a acessar a infraestrutura de escoamento e processamento, como forma de oferecer o gás da União ao mercado interno e a preços mais competitivos. Atualmente, sem acesso à infraestrutura, a estatal vende o gás nas próprias FPSOs onde são produzidos. Segundo Loureiro, a autorização do CNPE foi fruto de trabalho da PPSA.

‘Leilão será um sinal de preço 100% transparente’

Com acesso à infraestrutura de escoamento e processamento, a PPSA já planeja um leilão de gás da União para 2025. Segundo Loureiro, o certame será “um sinal de preço 100% transparente para o mercado. Quanto a União vai ganhar, todos vocês saberão”, disse.

A presidente da estatal avalia que o preço mínimo deverá cobrir os custos logísticos de escoamento e processamento, além de oferecer pelo menos o que a PPSA ganha hoje com a venda na boca do poço.

O leilão deve ocorrer no segundo semestre de 2025, após análise por parte da PPSA dos contratos de acesso aos sistemas de escoamento e processamento. Empresas que atualmente já acessam tais infraestruturas, como a Petrobras, também precisam avaliar os termos para validar os contratos.

Em 2025, a PPSA também deve realizar um novo leilão de óleo da União. “Ainda não temos perspectiva, mas há uma previsão de que a produção será maior do que os 37,5 milhões de barris que a gente vendeu”, disse Loureiro, em referência ao último leilão de óleo da União, realizado em julho.

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