PDE 2034

Transmissão deve crescer 17% em dez anos e receber R$ 128 bi para novos ativos

Linhas de transmissão. Crédito: Ricardo Botelho, MME.
Linhas de transmissão. Crédito: Ricardo Botelho, MME.

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) divulgou caderno voltado do Plano Decenal de Energia (PDE) 2034, em que prevê a expansão de 30 mil quilômetros de linhas de transmissão (+17%) e de 82 mil MVA de potência (+17%) nos próximos dez anos, reunindo investimentos de R$ 128,6 bilhões neste período, e a partir do cenário de referência.

Com os incrementos previstos, a expectativa é que o sistema passe de 187,3 mil quilômetros de linhas de transmissão em dezembro de 2024 para 218 mil quilômetros em 2034. Em potência, a projeção indica 564 mil MVA no horizonte de dez anos.

O cenário de referência considera a data de necessidade das obras ainda sem outorga conforme os últimos diagnósticos regionais dentro do horizonte de 2034 e a data de tendência de acordo com os prazos médios do processo de outorga.

O estudo abordou o cenário das concessões vincendas, o aumento das capacidades de exportação da região Nordeste e de importação no Sul, além do atendimento de nova carga de data centers e projetos de hidrogênio.

Envelhecimento de ativos de transmissão

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Um desafio a ser enfrentado pelo planejamento da transmissão está no envelhecimento do sistema, aponta o PDE 2034, uma vez que há a necessidade assegurar a substituição racional da infraestrutura em fim de vida útil de modo que a malha de transmissão possa operar com os níveis de confiabilidade e qualidade exigidos pela sociedade.

Para a substituição do total de ativos com vida útil regulatória superada até 2034, a EPE estima R$ 39 bilhões em investimentos potenciais. Além disso, 30% desse valor deve ser para ativos com vida útil superada já em 2024 (R$ 11,7 bilhões), e o restante a partir de 2025.

“Os investimentos mapeados não estão associados à superação técnica das instalações, mas apenas à referência temporal da vida útil regulatória. A necessidade de substituição efetiva desses equipamentos depende de informações prestadas pelas concessionárias responsáveis pelos ativos”, diz trecho do caderno.

No horizonte do PDE, estão previstos términos de 60 contratos de concessão de ativos de transmissão, que têm duração típica de 30 anos. Conforme o processo de renovação de outorgas regulamentado em 2022, ficou estabelecida a necessidade de análises de planejamento com 36 meses de antecedência ao término.

Capacidade de exportação e importação

O estudo contemplou análises para a integração segura de 10 GW adicionais de geração renovável na região Nordeste no horizonte até 2034. A região somará um total de cerca de 57 GW em capacidade instalada eólica e solar fotovoltaica com a adição prevista.

Essa integração prevê que cerca de 3 GW sejam adicionados a partir de 2032, e considera obras em fase de planejamento, quando a região deverá alcançar 28 GW em capacidade de exportação. Daquelas obras já planejadas, são esperados 3,4 GW até em operação até 2027 e 8,6 GW até 2030.

No caso da região Sul, a projeção indica o aumento da capacidade de importação em até 4 GW, com escalonamento da solução em duas etapas, sendo 2 GW a partir de 2032 e 2 GW a partir de 2036, de obras que estão em fase de planejamento.

A partir de 2036, a capacidade de importação deve levar a região Sul para 18 GW.  

Data centers e hidrogênio

O Plano Decenal de Energia ainda aponta que o segmento de data centers tem crescido consideravelmente no Brasil, principalmente com o avanço da inteligência artificial.

Para avaliar a evolução das cargas desses projetos, o PDE considerou informações sobre projetos que protocolaram processo de conexão à Rede Básica junto ao Ministério de Minas e Energia (MME), num total de 2,5 GW até 2037, e só considerando aqueles nos estados de São Paulo, Rio Grande do Sul e Ceará.

“Em razão dessa elevada demanda dos data centers, a EPE tem realizado estudos de planejamento considerando a prospecção de crescimento dessas cargas no horizonte de médio a longo prazo”, diz trecho do documento.

Tendo em vista a maior concentração dos projetos no estado de São Paulo, notadamente nas Regiões Metropolitanas de São Paulo e Campinas, constam da programação de estudos do ano de 2024 dois estudos de expansão da transmissão que abrangem essas regiões.

O primeiro trata do reforço do sistema da região central da cidade de São Paulo (parte I e II) e do atendimento à região de Campinas, Bom Jardim e Itatiba (partes I e II).  A parte I do estudo foi concluída em fevereiro de 2024 e indicou soluções estruturais para propiciar um ganho de confiabilidade no atendimento ao mercado da distribuidora local, liberando a margem para conexão de 1,2 GW de carga de grandes consumidores na região para conexão direta na Rede Básica.

Para verificação da carga de projetos de hidrogênio verde, a EPE considerou nove projetos que protocolaram processos de conexão à Rede Básica junto ao MME, com uma demanda acumulada de 35,9 GW até 2038.

O valor corresponde a mais que o dobro do pico de carga atual de toda a região Nordeste, em torno de 16 GW, medida em novembro de 2023. Em razão dessa elevada demanda, a EPE tem programado para iniciar, em 2024, um estudo prospectivo de expansão da transmissão que levará em consideração cenários de crescimento de cargas desse tipo no horizonte de médio a longo prazo.

Segundo a entidade, um dos principais desafios desse estudo será definir qual o montante de carga de hidrogênio para o qual o sistema de transmissão será dimensionado.