Após a presidente da Petrobras, Magda Chambriard, anunciar que a estatal avalia reabrir um poço na Bacia de Campos para aumentar a oferta de gás, o Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), criado pela Federação Única dos Petroleiros (FUP), divulgou estudo sobre novas possibilidades para a Bacia de Campos. Segundo o trabalho, o desenvolvimento de reservas conhecidas, a exploração para descoberta de novos reservatórios e a produção de energia por eólicas offshore são algumas das rotas possíveis para a região.
No trabalho “Diagnóstico da Bacia de Campos: Caracterização, desafios e possibilidades”, o pesquisador Francismar Ferreira aponta que o desenvolvimento do Projeto Raia, operado pela Equinor, possibilitou o aumento das reservas provadas (1P) de gás, que em 2023 estavam em 206 bilhões de m³, com crescimento superior a 200% em relação às estimativas de 2022. As reservas prováveis (2P) cresceram 175% no período.
Em óleo, em 2023, as reservas 1P da Bacia de Campos somavam 3,5 bilhões de barris, com aumento de 10,3% em um ano. As reservas 2P cresceram 3,7%, respectivamente, desde 2022. “A bacia ainda possui áreas com contratos de exploração em vigor que podem revelar reservatórios com potencial comercial”, diz o relatório.
O relatório levanta que há no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) 19 projetos de eólicas offshore na área da Bacia de Campos, totalizando 43,8 GW. Assim, a produção de energia renovável e de hidrogênio verde podem ser alternativas para revitalizar a atividade econômica na região.
Aumento no fator de recuperação
O estudo também aponta como possível rota para a Bacia de Campos o desenvolvimento de novas rotas para aumentar o fator de recuperação dos reservatórios da região. Atualmente, o fator de recuperação da Bacia de Campos é de 15% – ou seja, apenas 15% do volume de óleo disponível na bacia é extraído.
No Brasil, atualmente, o fator de recuperação dos campos gira em torno de 20% e 30%, e a média é considerada baixa na comparação com parâmetros globais – na Noruega, por exemplo, a proporção é de 70%. “Nesse contexto, o desenvolvimento de técnicas e tecnologias visando aumentar o fator de recuperação dos campos da Bacia de Campos pode ser viável”, diz o relatório.
A Petrobras já trabalha na revitalização da Bacia de Campos, com investimentos de US$ 22 bilhões até 2028 e a instalação de novas FPSOs para substituir plataformas antigas. Segundo a estatal, só no campo de Marlim, 860 milhões de barris de óleo equivalente poderão ser adicionados à produção com os esforços de revitalização.
Apesar da adoção de plataformas mais modernas, o estudo do Ineep critica o fato de as FPSOs serem importadas. O trabalho também levanta as atividades de descomissionamento como rota para estimular a indústria nacional.
Primeira descoberta de petróleo há 50 anos e 20% da produção atual
Em 2024, a primeira descoberta de petróleo na Bacia de Campos completa 50 anos. Na formação, foram encontrados os primeiros grandes campos em águas profundas e ultraprofundas e, posteriormente, no pré-sal, embora atualmente as atividades do pré-sal estejam concentradas na Bacia de Santos.
Até a década de 2010, a Bacia de Campos foi a principal responsável pelo abastecimento e pelo aumento na produção de petróleo no país. O declínio da região se deu pelo amadurecimento natural dos campos e pela redução nos investimentos, sobretudo da Petrobras, que historicamente é a maior operadora.
O estudo do Ineep avalia que mudanças estratégicas da Petrobras, que passou a privilegiar retorno de curto prazo em detrimento a campanhas mais extensas, explicam a redução nos investimentos da região.
Entre 2018 e 2024, a Petrobras vendeu 22 de seus ativos ativos na Bacia de Campos, arrecadando R$ 31,8 bilhões. Alguns ativos que faziam parte da estratégia de desinvestimento, mas não foram vendidos, foram devolvidos à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). “Levanta-se a hipótese de que a estratégia da Petrobras, entre 2016 e 2022, foi buscar uma alternativa para não prosseguir com os projetos de revitalização dos ativos e, até mesmo, não avançar no segmento de descomissionamento. Essas funções ficariam sob a responsabilidade dos novos operadores dos ativos”, avalia o trabalho do Ineep.
Os desinvestimentos da Petrobras também possibilitaram a entrada de novas empresas na região – desde grandes multinacionais, como a Equinor, até empresas independentes, como a Prio.
Apesar de sua maturidade, a Bacia de Campos ainda é a segunda maior produtora de hidrocarbonetos no país. No primeiro trimestre de 2024, a região respondeu por 19,5% da produção nacional, com uma média de 855,2 mil barris de óleo equivalente por dia.
A Bacia de Campos também tem oito campos em desenvolvimento, ou seja, campos com descobertas em escala comercial que ainda não iniciaram sua produção: Espadim, Manjuba, Caxaréu e Mangangá operados pela Petrobras; Raia Manta e Raia Pintada operados pela Equinor; Wahoo operado pela Prio; e Maromba, operado pela BW Offshore.