Empresas

Prumo aposta em e-fuels para viabilizar hidrogênio e vê espaço para eólicas offshore

Apesar da sobreoferta de energia e curtailment das usinas onshore, eólicas em alto-mar teriam como vantagem sua localização, avalia Rogério Zampronha

Porto Açu (Divulgação grupo Prumo)
Porto Açu (Divulgação grupo Prumo)

Com diversos projetos para eólica offshore em estudo no Porto do Açu – o último foi um memorando de entendimentos (MoU) entre Prumo, Porto do Açu e a belga Sarens, sobre soluções logísticas sobre o transporte de componentes da cadeia de energia eólica offshore –, a Prumo tem grande expectativa para o desenvolvimento do setor.

O atraso na regulamentação do tema, contudo, é um obstáculo a ser superado. Em evento realizado pela Prumo para jornalistas, o presidente da empresa, Rogério Zampronha, lamentou os ‘jabutis’ incluídos no projeto de lei que regulamenta a geração de energia em alto-mar e que têm atrasado a tramitação do texto.

Apesar dos reveses, ele avalia que os agentes deste mercado estão se movimentando rápido. “Há dois anos, eu achava que em 2030 a gente ia ver a primeira turbina girando. Agora já mudamos para 2032, talvez 33, mas quando disparar vai vir um fluxo grande de investimentos”, avalia.

Offshore com hidrogênio

Os executivos da Prumo também não se abatem pela reticência que se instalou sobre os grandes projetos de hidrogênio anunciados pelo mundo. Para eles, a Prumo tem como grande vantagem não ter o hidrogênio como produto final, mas sim como fonte intermediária para combustíveis limpos associados, como e-metanol.

“É algo que faz muito mais sentido do que competir com quem está próximo, por exemplo, da Europa, e tem condições logísticas mais vantajosas do que fazer [o hidrogênio] aqui e mandar essa amônia para lá”, avalia o presidente do Porto do Açu, Eugênio Figueiredo. A amônia é um dos formatos mais adequados para transporte do hidrogênio, que é altamente inflamável.

Para Zampronha, os projetos de hidrogênio verde se tornarão realidade “muito mais rápido” do que os de eólica offshore. Mas as tecnologias não competem entre si, pois são complementares. “Como a gente tem já um grid verde, projetos que usam o hidrogênio podem ficar de pé mais rápido do que os de eólica offshore. Mas quando a eólica offshore for uma realidade, você multiplica a capacidade de projetos de produtos baseados em hidrogênio por 10, 15, 20 vezes. É quando o Brasil vai ser uma grande potência”, acredita.

Apesar da sobreoferta de energia renovável no país, o executivo avalia que há espaço para as eólicas offshore em função da localização dos projetos, mais próxima aos grandes centros consumidores – e, como o Porto do Açu, exportadores – do Sudeste. Além dos produtos baseados em hidrogênio, Zampronha acredita que o setor de datacenters será responsável por um grande aumento na carga.

“Sem a eólica em alto mar a gente não deverá ter energia o suficiente com os pontos adequados de alimentação para suportar todos os projetos que o Brasil poderá ter. Aí sim a gente vai ter uma economia uma liderança”, vislumbra o executivo.

Para a produção de hidrogênio verde, a Prumo firmou acordo com a Eletrobras, para o fornecimento de energia com certificado de origem renovável, que será usada na hidrólise. Além disso, por meio de acordo com a Vale, a água utilizada no processo é de reuso, proveniente da secagem de minérios para exportação.

‘Petroleiras deixaram de ser protagonistas em combustíveis sustentáveis’

Em outra frente, a Prumo trabalha para aumentar a logística de combustíveis sustentáveis. Rafael Pinheiro, presidente da Efen, empresa do grupo Prumo que atua na comercialização e entrega de combustíveis marítimos, avalia que a infraestrutura para isso tem tempo de construção em torno de três anos. No curto prazo, já é possível reduzir as emissões com misturas de biocombustíveis drop-in (que não necessitam de ajustes nos motores dos veículos e embarcações) com combustíveis fósseis tradicionais.

Este caminho tem se tornado cada vez mais viável com o barateamento dos biocombustíveis. Segundo Pinheiro, há cerca de quatro anos estas soluções eram de três a quatro vezes o custo dos combustíveis fósseis, e hoje estão cerca de duas vezes mais caras que os combustíveis tradicionais. “Os preços eram proibitivos. Ainda são bem mais caros que o diesel tradicional, mas já começam a fazer sentido”, diz.

Para Zampronha, o setor marítimo deve ser um dos impulsionadores da transição energética para combustíveis. Isso porque, embora os biocombustíveis sejam mais caros, o custo fica diluído entre as “milhares de toneladas de produtos” que compõem uma carga de navio.

A Efen também está licenciando junto à Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) a oferta de HVO para o abastecimento de navios. O combustível ainda não é produzido no Brasil, e seria importado pela parceira BP.

O perfil das empresas que estão liderando a transição energética dos combustíveis tem mudado. “Alguns players que originalmente pensaram em atuar nesse mercado, que eram as grandes petroleiras, deixaram de ser os protagonistas. E passamos a ver um conjunto de novas empresas financiadas por fundos, seja de capital privado, seja fundos soberanos ou fundos verdes”, disse Zampronha.