Para não descartar 13 projetos aprovados na chamada de PDI Estratégico do Hidrogênio, com R$ 1,49 bilhão de investimentos previstos, o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Sandoval Feitosa, pediu vistas do processo que analisou as propostas, prometendo encontrar um encaminhamento para a questão.
O diretor Fernando Mosna questionou a aprovação dado que a lei 14.948/2024 atribuiu à Agência Nacional do Petróleo a atribuição de regular o hidrogênio, bem como a contratação e fiscalização de atividades integrantes da indústria do petróleo, gás natural, biocombustíveis e do hidrogênio.
“Diante da ausência de competência regulatória da Aneel, eu penso que o melhor que nós devemos fazer é tentar orientar os recursos de modo focalizado. Fazer com que o recurso que é custeado pelo consumidor de energia, ele tenha um retorno para o consumidor de energia”, disse Mosna.
Além disso, considerando a finalidade dos projetos, Fernando Mosna disse não ver benefício direto e imediato em fomentar o aço verde, a margarina hidrogenada e demais atividades compreendidas pelas propostas aprovadas, uma vez que saem do escopo do setor elétrico e utilizariam recursos do programa de desenvolvimento e inovação voltados para geração, transmissão e distribuição de energia.
“Se fossem aprovados os três projetos, tal como considerados pela área técnica agora, que apresentariam um total de cerca de R$ 1,4 bilhão, sendo cerca de R$ 300 bilhões de contrapartida, estamos falando que seria custeado pelo consumidor de energia cerca de R$ 1,1 bilhão de P&D no horizonte de 48 meses, de quatro anos”, completou.
O diretor Fernando Mosna e o diretor Ricardo Tili votaram contra a aprovação dos projetos.
A chamada do hidrogênio
A Aneel recebeu 24 propostas, sendo 19 de plantas-piloto e cinco para peças e componentes. Do total, 13 foram aprovadas, envolvendo 73,5 MW, sendo 12 plantas-piloto e uma de peças e componentes, e outras 11 propostas que estão em diligência com a área técnica da autarquia, e que representam mais 58,24 MW em sete plantas.
Considerando o universo de propostas aprovadas no PDI Estratégico, são esperados investimentos de R$ 1,49 bilhão, sendo R$ 367 milhões em contrapartidas.
As 12 plantas-pilotos teriam um custo médio de R$ 5,6 milhões por MW instalado, incluindo valores diretos e indiretos do PDI, e com um valor do hidrogênio de US$ 4,53/Kg. A Aneel apontou que o menor valor por quilo foi de US$ 2,50 e o maior de US$ 8,20.
As propostas preveem projetos em três das cinco regiões brasileiras, sendo elas: Nordeste, Centro-Oeste e Sudeste.
Projetos
Cemig
A Cemig Distribuição apresentou projeto em Minas Gerais, com potência instalada de 1 MW, e valor previsto de R$ 65,9 milhões, sendo R$ 59,25 milhões com recursos do PDI. O projeto visa a descarbonização da cadeia de distribuição de gás natural no estado e de processos siderúrgicos para produção de aço verde.
Utilizando a eletrólise PEM, a Cemig busca substituir o carvão e gás natural nos processos térmicos da siderurgia e de redução do minério de ferro usando o hidrogênio.
Eletrobras
A Eletrobras, por meio das subsidiárias Eletronorte e Furnas, apresentou projetos para a região Sudeste. No caso da Eletronorte, o projeto de 10 MW poderá ser instalado em qualquer um dos quatro estados da região, ao custo de R$ 126,55 milhões, com recurso de R$ 109,32 milhões do PDI.
O processo da Eletronorte também não tem definição quanto à eletrólise alcalina ou PEM, mas tem o intuito de substituir o carvão e gás natural nos processos térmicos da siderurgia, assim como da redução direta do minério de ferro.
No caso de Furnas, a planta-piloto prevê uma capacidade instalada de 1 MW para descarbonização da mobilidade e de substituição de energia elétrica de origem fóssil por renovável no Porto do Açu.
O processo deve utilizar a eletrólise alcalina, com recursos de R$ 59,57 milhões, e valor do PDI de R$ 53,2 milhões.
Itapebi
Os quatro projetos da Itapebi, que compreendem parcerias da Neoenergia, estão localizados nos estados da Bahia, Pernambuco e São Paulo.
Na Bahia, a empresa firmou parceria com a Braskem, numa planta-piloto de 10 MW, para produção de polímeros de segunda geração com maior valor agregado a partir do hidrogênio para reações de hidrogenação e dessulfurização.
O processo escolhido foi de eletrólise PEM, com investimentos estimados em R$ 137,1 milhões, tendo R$ 122,8 milhões em recursos de PDI.
No Hub Camaçari, ainda na Bahia, a Itapebi busca instalar uma planta-piloto de 10 MW para suprimento de unidades industriais por meio da rede de gasodutos, mediados por contratos de suprimento de hidrogênio.
Utilizando a eletrólise PEM, a planta busca atender 24 das 90 empresas que possuem uma demanda anual de 85 mil toneladas de hidrogênio. O valor estimado é de R$ 178,1 milhões, com valor de PDI de R$ 159,7 milhões.
Em Pernambuco, em parceria com a JBS, a planta-piloto de 2,5 MW deve ser instalada no Porto Suape, para produção de gorduras hidrogenadas e margarina, na fábrica que tem projeto para se tornar net zero.
O processo do projeto é Eletrólise PEM, com hidrogênio para reações de hidrogenação, ao custo previsto de R$ 137,1 milhões, sendo R$ 122,8 milhões do PDI.
O projeto Cubatão, em São Paulo, também prevê uma planta-piloto de 10 MW, tendo como clientes produtores de fertilizantes nitrogenados. O processo de eletrólise PEM, deve substituir o hidrogênio obtido da reforma a vapor e a produção de amônia.
Neste caso, a empresa projeta R$ 168,1 milhões de investimentos, com recursos de R$ 150,7 milhões do PDI.
Eneva
A Eneva também recebeu aprovação para duas plantas-piloto, sendo uma em São Paulo, com 2 MW, e outra no Ceará, com 1 MW.
No Sudeste, a planta será destinada para a produção e comercialização de hidrogênio renovável, buscando como clientes os fornecedores de gases industriais por meio da substituição do hidrogênio obtido na reforma a vapor. O projeto a partir da eletrólise PEM tem custo estimado de R$ 43,28 milhões, com contrapartida de R$ 37,84 milhões.
Para a implantação de planta-piloto de produção de hidrogênio renovável da transição energética e descarbonização da indústria de alimentos no Ceará, a Eneva também estuda a substituição do hidrogênio obtido da reforma a vapor para produção de gorduras hidrogenadas e margarina.
O valor da proposta é de R$ 21,64 milhões, com retorno do PDI de R$ 18,9 milhões.
Petrobras
A estatal também habilitou uma proposta para produção de hidrogênio de baixa emissão de carbono via eletrólise da água integrado a uma refinaria de petróleo. O projeto de 20 MW estaria instalado no Rio de Janeiro, utilizando eletrólise alcalina e PEM (10 MW cada, com substituição de hidrogênio de origem fóssil na própria refinaria.
Para o projeto, com o custo de R$ 497 milhões, a empresa estimou o valor a ser aportado do PDI de R$ 238 milhões, considerando o mapeamento de parceiros e outras unidades consumidores, visando consolidar cadeias de valor e o mercado consumidor local.
Rio Paraná
A CTG Brasil, por meio da Rio Paraná, obteve aprovação para três propostas. Em Pernambuco, a empresa busca atender o fornecedor de gases industriais com uma planta-piloto de 1 MW, e por meio da substituição do hidrogênio obtido da reforma a vapor dos clientes. O custo previsto é de R$ 42 milhões, sendo R$ 37,8 milhões do PDI.
Em Mato Groso do Sul, a o projeto inclui uma planta-piloto possui 5 MW e metodologia de rastreio e certificação aplicado diretamente em ciclos produtivos da indústria de papel e celulose.
A planta atenderia a Suzano em Três Lagoas, por mio da eletrólise alcalina, buscando suprimento aos processos térmicos. O custo previsto é de R$ 51,8 milhões, e contrapartida do PDI de R$ 46,6 milhões.
A empresa ainda busca desenvolver, em Santa Catarina, tecnologia para armazenamento de hidrogênio em pequenos volumes com eficiência energética e segurança. O projeto prevê investimentos da ordem de R$ 8,9 milhões e valor do PDI de R$ 8 milhões.