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Comercializadora muda estratégia após ‘susto’ de empresas no mercado livre de energia

Meta da comercializadora será diversificar portfólio para reduzir riscos

Mesa de comercialização de energia / Crédito: reprodução da internet
Mesa de comercialização de energia

*Atualizada às 16h37*

A Armor Energia quer reduzir o seu custo no trading de energia para evitar exposições no mercado e focar em novos negócios em 2025, com ênfase nos braços de geração distribuída, mercado de capitais e em clientes varejistas. Em entrevista à MegaWhat, Fred Menezes, diretor-executivo da empresa, explicou que a mudança na estratégia foi uma consequência de problemas protagonizados por comercializadoras no ano passado após uma virada brusca nos preços de energia.

“Ano passado foi um grande susto, e ainda temos um desafio com a mudança de modelo para o [Newave] Híbrido, que também gera um estresse em relação à volatilidade dos preços de energia. Nós, assim como o mercado, estamos sendo mais seletivos no risco de crédito e operando com prazos menores”, destacou o executivo.

Fred Menezes acredita que a adoção do novo modelo híbrido pode levar a preços mais altos depois do primeiro semestre do ano. O Newave Híbrido é utilizado no planejamento e na programação da operação do Sistema Interligado Nacional (SIN) pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e no cálculo do preço de liquidação das diferenças (PLD), pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE).

“Acreditamos que o preço da energia ficará próximo ao piso no primeiro semestre do ano. No entanto, a partir de junho, esse cenário pode mudar. O novo modelo híbrido adotado pelo ONS pode permitir preços mais altos em meses com ENA (Energia Natural Afluente) baixa, mesmo com a boa performance do reservatório, dificultando a previsibilidade para esses meses”, disse o diretor-executivo da Armor.

Estratégia da comercializadora

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Com essa perspectiva, Menezes aposta que a incerteza deve trazer volatilidade ao mercado no período, “o que deve gerar bons momentos para a estratégia do trading proprietário. Nesse momento, apostamos em uma posição mais neutra a fim de capturar distorções do mercado”.

Fundada em 2022, a casa “respirava” a compra e venda de energia e deixava outros negócios como “secundários”. Segundo Menezes, a Armor sofreu com a crise de crédito do último ano e, por isso, pretende avaliar sua exposição na comercialização ao longo de 2025, a fim de diversificar o risco.

“Vamos pulverizar e controlar o tamanho da exposição, olhando, por exemplo, para a reputação e o caixa disponível das companhias. Uma das grandes metas deste ano é achar valor em outras linhas de negócio e deixar a mesa, o trading. Não é acabar, mas reduzir a dependência da comercializadora”, reforçou o diretor-executivo.

Inicialmente, a ideia é operar com comercializadoras independentes neste ano, enquanto os contratos a partir de dois anos será via leilões de prefeituras ou por geradores descontratados, que estão fazendo chamadas públicas para vender o excedente de energia, de forma a tirar o risco de crédito no longo prazo.  

“Cada vez mais prefeituras e/ou estados estão fazendo licitações para entrar no mercado livre. São vertentes que gostamos de entrar. E, com a sobreoferta de energia, que tem um balanço de grandes geradores, vejo oportunidades para bons negócios”, afirmou.  

Menezes ainda explicou que a empresa quer sair do fechamento de “boletas” diárias para o cenário de uma operação por semana, com uma visão mais crítica para entrar no que “realmente valer a pena”. A boleta é um documento que formaliza a compra e venda de energia elétrica no mercado livre de energia.

Valor da independente

Diante disso, Marcos Ávila, diretor Financeiro e Comercial da Armor Energia, afirmou que a meta da comercializadora para os negócios realizados neste ano será a diversificação. A empresa quer diversificar para não ficar à mercê de uma única contraparte e, consequentemente, sentir os efeitos de possíveis problemas enfrentados por elas no seu resultado. Ele ainda defendeu que as comercializadoras independentes têm o seu “valor” e, por vezes, ajudam a trazer liquidez para o mercado na ponta oposta.

“Se você operar só com geradores ou consumidores, você vai ter praticamente todo mundo na mesma ponta, fazendo a mesma coisa que você. As comercializadoras, principalmente as independentes, costumam ser mais ágeis para mudar de posição, porque costumam operar [com volume] menor e conseguem fornecer a liquidez para o mercado. Apesar de ser mais exigente, 2025 não vai ser um ano que vai acabar com o trade para as casas menores”, opinou Ávila.

Novos negócios

Com os aprendizados de 2024, a empresa manterá seu foco na geração distribuída, em que atua como consultora especializado, e na conversão no mercado de capitais. Além disso, deve expandir sua base de clientes varejistas e avaliar novos investimentos em 2025 para acelerar a captação.

O aumento da base foi traçada após a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovar novas regras para a comercialização varejista, que trouxe, na opinião de Márcio Ávila, custos aceitáveis de aprimoramento, ao mesmo tempo que tornou o mercado mais atrativo.

“Existe agora a necessidade de fazer aquela conexão via API, que vai ser obrigatória até a metade do ano. […] Foram regras que vieram para ajudar a comercializadora e reduzir o risco do cliente varejista. Enxergamos com bons olhos [as novas regras] e vão facilitar e tornar ainda mais atrativo esse mercado varejista”, falou o diretor financeiro.

Apesar da atratividade, o executivo pondera que, dado o seu porte, a empresa não deve investir em uma única estratégica, já que ela “pode não ser a vencedora”. Em 2024, a empresa testou algumas estratégias e automatizou processos para rodar o modelo de captação neste ano.

A Armor ainda tem um fundo imobiliário com meta de alcançar R$ 500 milhões sob gestão, com 50 MW de capacidade de geração de distribuída no portfólio até o fim de 2025. O fundo tem a gestão da CPV Asset e cogestão da Armor Capital, a análise de portfólio e a gestão de risco dos ativos investidos pelo RENV11 são feitas em conjunto com a Armor Energia.

A expectativa é que a empresa realize o follow-on do fundo em breve, mesmo com uma bolsa mais desafiadora e o cenário de juros mais alto.

“Esse é um momento bem desafiador para o mercado de capitais. Esperamos melhorias e, talvez, conforme for avançando ao longo do ano e o governo consiga aplacar as seguranças do mercado, que a gente possa ter uma captação mais interessante. No momento, acho que há muita incerteza no mercado para produtos de renda fixa”, explicou Fred Menezes.

Com as incertezas, o executivo detalhou que a empresa tem conversado com agentes autônomos para entender uma oferta que possa gerar demanda. Também tem buscado alternativas que ofereçam segurança para o investidor “descorrelacionar com a performance dos juros do Brasil”.

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