A Eletronuclear anunciou uma série de medidas de gestão para garantir a sua sustentabilidade financeira, incluindo a extinção de 43 cargos de chefia, a fim de economizar R$ 3 milhões por ano. Segundo a empresa, as medidas de austeridade têm a finalidade de viabilizar a retomada das obras de Angra 3, que envolve R$ 23 bilhões em investimentos.
Além da mudança na estrutura organizacional, a Eletronuclear está trabalhando para reduzir as despesas operacionais com Pessoal, Material, Serviços de Terceiros e Outros (PMSO) em R$ 500 milhões neste ano, para que a cifra fique dentro das metas determinadas pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
Nova estrutura organizacional
O conselho de administração da Eletronuclear aprovou no fim de janeiro a nova estrutura organizacional da empresa, que passará a valer a partir de 1º de abril de 2025 e deve gerar uma economia estimada de R$ 3 milhões anuais.
A empresa divulgou as medidas dias antes da reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) que deve decidir o preço da tarifa da usina nuclear de Angra 3, prevista para 18 de fevereiro.
O plano estipula redução de níveis hierárquicos para “otimizar a tomada de decisão”, a eliminação de sobreposição de atividades e a redução de quatro superintendências e 36 gerências/assessorias.
O organograma revogado, que estava em vigor desde 2022, tinha mais de 116 cargos de chefia e com a nova estrutura passa a ter 73 cargos. Ou seja, 43 cargos de chefes serão extintos ou incorporados por outras áreas para otimização dos recursos.
Segundo a empresa, o novo organograma se alinha ao estágio atual do projeto de Angra 3, visto que o planejamento anterior previa a conclusão da usina em 2028. Com a nova previsão de entrada em operação para 2031, o formato deve permitir uma melhor utilização de mão-de-obra, realocando funcionários que estavam voltados aos serviços de operação e engenharia da unidade para as duas usinas em funcionamento (Angra 1 e 2).
“O novo organograma de Angra 3 foi ajustado à etapa atual do projeto, proporcionando aproveitamento de recursos humanos capacitados para outras frentes importantes”, destacou Raul Lycurgo, presidente da Eletronuclear.
Realidade de Angra 3
De acordo com a companhia, a iniciativa não está relacionada diretamente ao desligamento de funcionários, mas sim à readequação da estrutura organizacional para torná-la mais compatível com as necessidades da companhia e a realidade atual do projeto Angra 3.
A usina nuclear de Angra 3, projetada para gerar 1.405 MW de energia, começou a ser construída no início da década de 1980 e enfrentou várias interrupções e retomadas desde então. Em 2015, as obras foram suspensas no contexto da Operação Lava-Jato, com 66% de conclusão.
Em setembro de 2024, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) entregou os estudos sobre a conclusão das obras, com estimativa de entrada em operação comercial em 2031, caso seja tomada a decisão pela sua retomada.
A tarifa de comercialização da energia da usina foi proposta em R$653,31/MWh, enquanto em 2018, a tarifa de referência definida pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) em R$ 480/MWh, corresponderia a R$ 639/MWh em valores corrigidos.
A conclusão das obras deve exigir investimentos de R$ 23 bilhões, enquanto a desistência pode custar cerca de R$ 20 bilhões.
Redução de PMSO
O conselho espera atingir o equilíbrio de custos até o final de 2026, alinhando o PMSO com as metas determinadas pela Aneel para essas despesas. Para isso, a Eletronuclear prevê a revisão de contratos, otimização de processos, controle mais rigoroso de despesas com pessoal e redução do quadro de funcionários.
Além disso, a empresa pretende implementar a cobrança de uma taxa para custear serviços de manutenção das vilas residenciais destinadas aos funcionários em Angra dos Reis. O benefício não está previsto nos editais de concursos da empresa e, diante do cenário econômico da empresa, precisou ser ajustado para assegurar uma gestão mais sustentável.
“A redução do PMSO é essencial para garantir a viabilidade econômica da Eletronuclear e a continuidade de projetos estratégicos, como Angra 3. Desse modo, a referida mudança no organograma se faz necessária”, afirmou Lycurgo.
Desde 2021, os custos da Eletronuclear com PMSO estavam mais de 50% acima do valor concedido em tarifa pela Aneel. Em 2022, o PMSO concedido pela autarquia era de R$1,1 bilhão, mas a empresa gastou R$1,6 bilhão – ou seja, R$500 milhões saíram do caixa da companhia sem cobertura tarifária.
No ano seguinte, o PMSO concedido pela autarquia foi novamente de R$1,1 bilhão, mas a empresa gastou R$1,78 bilhão. Ainda em 2023, o orçamento para 2024 apontava para gastos na companhia com PMSO de R$2,4 bilhões, enquanto o PMSO da Aneel era de R$1,4 bilhões. Segundo a companhia, caso isso se concretizasse, seria um déficit de R$1 bilhão.
Com medidas de racionalização já implementadas pela atual gestão da Eletronuclear, a empresa reduziu os gastos com PMSO em 2024 de R$2,4 bilhões para R$1,9 bilhão. Neste ano, a meta é cortar outros R$ 500 milhões, para atingir um PMSO de R$1,4 bilhão em 2026, em linha com a meta da Aneel.
Revisão do Plano de Negócios e Gestão (PNG 2025-2029) Eletronuclear
Aprovado pelo conselho, o novo PNG inclui o projeto de extensão da vida útil de Angra 1 e metas de eficiência operacional. A elaboração do plano segue o estabelecido pela Lei 13.303/2016, que determina que empresas públicas elaborem anualmente um planejamento de cinco anos.