Fluxo reverso

Inversão de fluxo tem solução técnica, mas exige controle, dizem agentes

Em sessão na Câmara, agentes discutiram impactos da geração distribuída nas redes

Comissão da Câmara em audiência sobre inversão de fluxo. Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados
Comissão da Câmara em audiência sobre inversão de fluxo. Foto: Vinicius Loures/Câmara dos Deputados

A inversão de fluxo é um efeito esperado da geração distribuída e sua solução deve ser técnica, segundo agentes do setor que participaram de audiência pública na Comissão de Desenvolvimento Econômico (CDE) da Câmara dos Deputados nesta terça-feira, 6 de maio.

“Fluxo reverso não é um problema, desde que ele seja controlado. Evoluir no atributo da mini e microgeração distribuída (MMGD) sob o aspecto da controlabilidade, como já existe na geração centralizada, é um passo que precisa ser dado”, disse o gerente do Planejamento Elétrico do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), Fernando Silva.

O fluxo reverso tem reflexos como as restrições para usinas centralizadas, sobrecontratação das distribuidoras e reflexos técnicos, como redução da vida útil de transformadores. “Para que não haja sobrecarga dos transformadores de fronteira e da rede básica, o Operador faz a restrição, e restringe a geração centralizada porque não tem controle da geração que está conectada na distribuição”, explicou Silva.

A questão se torna mais complexa com o avanço da mini e microgeração distribuída (MMGD), que já ultrapassa 38 GW em capacidade instalada, com a maior representatividade da fonte solar, segundo o ONS.

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Além da questão técnica, o gerente da Superintendência de Regulação dos Serviços de Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica da Aneel, Pedro Lombardi, lembrou de impasses de mercado: “Se a GD for capaz de atender a toda a carga da distribuidora, o que a gente faz com os contratos que foram fruto de leilões organizados pelo poder concedente, e que são contratos de longo prazo?”, questionou.

Ele ainda indicou que a inversão de fluxo pode ter impactos para a justiça tarifária, que é um dos pontos levantados no processo de renovação das concessões das distribuidoras. “A inversão de fluxo leva também à discussão sobre causalidade de custos, que é o princípio básico na definição de tarifas”, disse Lombardi.

O presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee), Marcos Madureira, também avalia que a inversão de fluxo tem solução técnica, que inclui a implantação de sistemas de armazenamento. Madureira ainda mencionou soluções mercadológicas, como modernização das tarifas da baixa tensão e sinais de preço mais adequados.

Em sua avaliação, o rápido avanço da MMGD exige investimentos em reforço de redes, flexibilidade, segurança e proteção, custos que já estariam sendo pagos pelo próprio consumidor. Para o presidente da Abradee, os custos da geração distribuída já chegam a uma média de 3,8% das tarifas no país.

Questionamentos sobre a inversão de fluxo

A audiência pública na Câmara teve como objetivo abordar as negativas que as distribuidoras emitem a consumidores interessados em instalar sistemas GD, que eventualmente pode injetar na rede o excedente de energia gerada. Dessa forma, quando a injeção na rede excede o consumo local, a energia é exportada para a rede elétrica invertendo o sentido convencional do fluxo de energia: da subestação para os consumidores de energia.

As distribuidoras alegam que há gargalos técnicos para algumas conexões, inclusive com respaldo do ONS. A situação, entretanto, provoca questionamentos de geradores e consumidores, que avaliam que o direito do consumidor não está sendo respeitado.

“Se as distribuidoras não forem capazes de comprovar que a inversão de fluxo realmente causa prejuízo à sua rede, o direito do consumidor deve ser preservado”, defendeu a vice-presidente de GD da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar), Bárbara Rubim.

Para o deputado Lafayette de Andrada (Republicanos – MG), que propôs a audiência pública, há uma “má-vontade com a GD, convertida em falta de transparência e subterfúgios”, com a “criação de dificuldades para a GD” por parte de algumas distribuidoras.

Ele também comentou que, após a Aneel estabelecer que o excedente de energia gerada só pode ser compensado pelo consumo da própria unidade, houve maior aceite de conexões, o que pode sugerir que as negativas não seriam puramente técnicas. “A Cemig passou a viabilizar instalações desde que o consumidor não quisesse a compensação”, narrou.

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