Mudanças climáticas

Experiência do Brics pode contribuir para acordos na COP30, avaliam especialistas

Evento "Construindo Coalizões para a Ação Climática no Brics Expandido", organizado pelo Cebri, teve patrocínio da Siemens Energy.
Evento "Construindo Coalizões para a Ação Climática no Brics Expandido", organizado pelo Cebri, teve patrocínio da Siemens Energy.

*Branded Content

As diferenças entre os onze países que compõem o Brics Expandido representam desafios para as discussões diplomáticas, mas também podem ser a origem de importantes respostas para o próprio bloco e para as reuniões da COP30, que acontece em novembro em Belém. Esta é a visão de especialistas em relações internacionais, energia, suprimento alimentar e digitalização que participaram do evento Construindo Coalizões para a Ação Climática no Brics Expandido.

O evento foi organizado pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) com patrocínio da Siemens Energy e aconteceu nesta quinta-feira, 3 de julho, no Rio de Janeiro, com o objetivo de fomentar discussões relevantes antes da COP30 para que a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima seja um espaço voltado para negociações finais.

“O processo COP tem enormes limitações, não por uma incapacidade dos países de chegar a um consenso, mas porque o modelo da governança ambiental centrada em diplomacia multilateral está mostrando e mostrará em Belém os seus limites. Portanto, precisa ter uma conversa paralela sobre como os setores privados dos países podem transitar, para que os incentivos econômicos estejam colocados para essa transição. E aí o Brics é fundamental”, avalia o professor e vice-diretor da Escola de Relações Internacionais da Fundação Getulio Vargas (FGV), Matias Spektor.

Ele ressalva, entretanto, que o papel do Brics não é de apontar políticas, e sim de abrir novas oportunidades. “Os Brics são mais úteis quando eles são uma plataforma que permite criar laços que antes não existiam em finanças, em comércio, em economia, em transferência de tecnologia”, disse. 

Assim, os especialistas avaliam que os países do Brics Expandido – Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã – têm diferenças intrínsecas, mas conseguem cooperar e avançar em debates importantes na direção do desenvolvimento. Além disso, a relevância do grupo em termos econômicos e populacionais contribui para que as discussões tenham grande relevância no contexto internacional.

Essa diversidade de modelos econômicos, matrizes energéticas e contextos sociais é um ativo estratégico, que nos permite construir respostas inovadoras e mais alinhadas com os desafios das próximas décadas”, disse o diretor de Relações Corporativas do Cebri, Henrique Vilela. Esta experiência pode ser um ativo relevante para as discussões da COP30, que acontece em novembro em Belém, no Pará.

Transição energética

A transição energética é um dos campos em que a diversidade dos países que compõem o Brics pode colaborar para o desenvolvimento de todos os membros, como foi discutido no painel “Produtores e consumidores de energia: gerenciando transições no Brics Expandido”.

“O Brics pode ser um espaço maior de cooperação para a inovação entre os países para desenvolverem tecnologias inovadoras. Isso é muito possível porque, apesar da grande diversidade dos perfis energéticos, alguns problemas são os mesmos, como o de financiamento”, disse o diretor de Relações Governamentais e Sustentabilidade da Siemens Energy para a América Latina, Henrique Paiva.

Ele também mencionou a integração energética entre os países como uma oportunidade. Segundo ele, na América do Sul, apenas 4% da energia gerada é compartilhada entre os países. A interconexão, na visão do especialista, pode colaborar com a expansão de renováveis na medida em que permite o atendimento a carga de outras regiões. “Não há transição sem transmissão”, disse Paiva.

A assessora especial do Ministério de Minas e Energia (MME) e chair da Plataforma de Cooperação em Pesquisa Energética do Brics, Mariana Espécie lembrou que a reunião ministerial de energia do Brics conseguiu chegar a um comunicado conjunto que foi fruto de consenso entre os ministros de energia dos países, que acordaram em manter os compromissos em torno do Acordo de Paris e avançar com o objetivo de energia limpa e acessível.

“A gente não está vendo isso acontecer no G20 esse ano. O Brics mostra para o mundo que esse grupo tem condições de oferecer soluções inovadoras”, declarou Espécie.

O painel também abordou os avanços dos países do grupo em biocombustíveis e a necessidade de acomodar a produção e consumo de petróleo ao contexto da transição energética. O potencial de cooperação e intercâmbio entre os países do próprio bloco em relação a equipamentos e tecnologias para a transição energética foi outro destaque.

Data centers e consumo de energia

O evento também dedicou um painel à “Transformação digital para o desenvolvimento sustentável nos Brics”. A conversa teve moderação da diretora do Departamento de Segurança da Informação do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, Danielle Ayres. Ela destacou que, embora hoje as conversas estejam mais centradas na inteligência artificial, os países devem se preparar para um salto ainda maior em digitalização, com a computação quântica.

Um dos desafios deste contexto é garantir o abastecimento energético dos data centers, que podem chegar a 10% do consumo global de energia em cinco anos, segundo a diretora de Relações Institucionais da Elea Data Centers, Caroline Ranzani. “Essa indústria tem que nascer verde, inclusive porque demanda uma quantidade de energia impensável”, avaliou.

Ranzani mencionou a Política Nacional de Data Centers (Redata), que deve vir por meio de uma medida provisória. O texto deve oferecer isenção dos tributos federais a sistemas de data centers e, entre as contrapartidas, deve exigir o uso de energia renovável. O Redata também deve estabelecer o uso de pelo menos 10% da capacidade de processamento para dados nacionais. “Mostra que não estaremos apenas exportando a nossa energia, mas preocupados em desenvolver um ecossistema local”, disse Ranzani.

Segurança alimentar e resiliência climática

O terceiro painel do evento foi dedicado à segurança alimentar. Em “Alcançando a segurança alimentar e a resiliência climática”, os especialistas discutiram o desafio de alimentar com qualidade uma população crescente, com controle das emissões de carbono. Para isso, o uso da tecnologia será fundamental, e os países do Brics já se destacam nisso. Também neste aspecto, há possibilidade de compartilhamento de tecnologia entre os países do grupo.

O pesquisador do Insper Agro Global Alberto Pfeifer também destacou a importância de métricas adaptadas às regiões tropicais, com as do Sul global, que conseguem ter maior produtividade que os climas temperados dos países do Norte global. Segundo Pfeifer, a agricultura e a pecuária brasileira produzem de duas a quatro vezes mais do que em “qualquer concorrente não tropical”. Entretanto, por falta de estudos adaptados ao clima tropical, as métricas utilizadas são aquelas de regiões temperadas, que não refletem a maior produtividade e inserção de carbono no solo que ocorre no país.

*Conteúdo oferecido pela Siemens Energy