Transição energética

Biocombustíveis e energia renovável são vantagem para países do Brics

Justiça na transição energética e superação de barreiras tarifárias são desafios, segundo especialistas

Participantes do painel painel “Produtores e consumidores de energia: gerenciando transições no Brics Expandido”: Biocombustíveis e energia renovável são vantagem para países do Brics. Evento "Construindo Coalizões para a Ação Climática no Brics Expandido", organizado pelo Cebri, teve patrocínio da Siemens Energy.
Participantes do painel painel “Produtores e consumidores de energia: gerenciando transições no Brics Expandido”: Biocombustíveis e energia renovável são vantagem para países do Brics. Evento "Construindo Coalizões para a Ação Climática no Brics Expandido", organizado pelo Cebri, teve patrocínio da Siemens Energy.

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O desenvolvimento do mercado de biocombustíveis e de energia renovável, com maior integração entre diferentes mercados, são oportunidades para os países do Brics Expandido, avaliam especialistas que participaram do painel “Produtores e consumidores de energia: gerenciando transições no Brics Expandido”, no evento Construindo Coalizões para a Ação Climática no Brics Expandido, realizado nesta quinta-feira, 3 de julho, no Rio de Janeiro.

O evento foi organizado pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) em parceria com a Siemens Energy e o Instituto Clima e Sociedade (iCS), com o objetivo de fomentar discussões relevantes em prol de ações efetivas antes da COP30 para que a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima seja um espaço voltado para negociações finais e implementação.

“Esse grupo [Brics Expandido] tem países produtores de petróleo, com muito fluxo comercial intra-Brics. Há muito consumo de carvão mineral, e expressivas estimativas de crescimento populacional. Então a gente precisa dar esses passos para garantir que ninguém fique para trás e isso chegue na COP de uma forma mais estruturada”, avaliou a assessora especial do Ministério de Minas e Energia (MME) e chair da Plataforma de Cooperação em Pesquisa Energética do Brics, Mariana Espécie.

Transição energética justa para o Sul global

Os especialistas avaliam que o conceito de transição energética justa deve considerar as particularidades dos países do Sul global. Segundo Mariana Espécie, o Brasil vem trazendo esta questão nos fóruns internacionais, como na presidência do G20 em 2024. A especialista aponta que vários países veem a transição energética muito atrelada a processos industriais, o que pode fazer sentido para países industrializados, mas fica distante da realidade de outras nações.

A questão é endossada pelo diretor de Relações Governamentais e Sustentabilidade da Siemens Energy para a América Latina, Henrique Paiva. “Temos que entender a diversidade dos perfis energéticos desses países e que grande parte deles são subdesenvolvidos. Quão justos queremos ser? Estes países também têm o direito de fazer uso das suas reservas para seu desenvolvimento social”, disse.

Ele avalia que o reconhecimento do gás natural como combustível de transição pode ser uma forma de estes países monetizarem suas reservas naturais com menos emissões. “[Poderemos] financiar as energias renováveis ou os investimentos verdes através dessa indústria [gás natural], que inegavelmente ainda vai ter que continuar crescendo por um momento para atender ao aumento da demanda energética no mundo”, complementou.

Para o Brasil, Paiva avalia que outra oportunidade está na energia renovável, com a integração de mercados. Segundo ele, na América do Sul, apenas 4% da energia gerada é compartilhada entre os países. Assim, a interconexão pode colaborar com a expansão de renováveis na medida em que permite o atendimento a carga de outras regiões. “Um mecanismo seria a facilitação de investidores e fundos dentro dos Brics para avançar nessa interconexão regional”, avaliou.

Ele também avalia que o Plano de Transformação Ecológica do governo brasileiro é um bom exemplo de trilha para o desenvolvimento sustentável, e vê como um acerto a escolha do país de fazer seu marco regulatório de hidrogênio com base em “baixo carbono”, pois abre mais possibilidades de financiamento diante de “definições duras” para investimentos em mercados como o europeu.

Biocombustíveis e regulações internacionais

Outra oportunidade para os países do Brics Expandido contribuírem com a transição energética está nos biocombustíveis, segundo os especialistas que participaram do painel.

O diretor do Centro Brasil-China para Mudanças Climáticas e Inovação em Tecnologia Energética da Universidade Tsinghua, Liu Dehua, acredita que o clima torna alguns países do Brics Expandido muito competitivos no setor de biomassa. Ele também avalia que o comércio internacional de biomassa e de biocombustíveis pode ser uma forma de acelerar a redução de emissões de carbono.

“Se podemos importar milhões de toneladas de carbono [por meio de petróleo, gás natural, carvão etc], por que não podemos importar toneladas de carbono renovável, de biomassa?”, disse Dehua no painel. Ele acredita que o carbono verde pode ser aplicado tanto no transporte quanto em processos industriais por meio do biorrefino.

Entretanto, um obstáculo para que a indústria de biocombustíveis deslanche está nas regulamentações internacionais. “A gente enfrenta muitas barreiras na discussão de biocombustíveis. A primeira delas é aquele clássico mito do conflito com a produção de alimento, que não se prova na realidade”, disse Mariana Espécie. “A gente tem visto barreiras comerciais que trazem essa narrativa e impedem que essas soluções [biocombustíveis] avancem de forma expressiva”, indicou. A taxonomia entre diferentes mercados é outra dificuldade.

Oportunidades no setor marítimo

Um bom exemplo para impulsionar o desenvolvimento de biocombustíveis está no setor marítimo. Em abril de 2025, a Organização Marítima Internacional (IMO, na sigla em inglês) fechou sua regulação para atingir o net-zero até 2050. Segundo os especialistas do painel, os parâmetros incluem os biocombustíveis.

“Você dá uma sinalização de demanda, que é o mais importante para o investidor colocar o seu dinheiro em novos projetos ligados a combustíveis mais limpos. Então, talvez um dos primeiros biocombustíveis a realmente ter um avanço grande vão ser aqueles voltados para a navegação”, avaliou a sênior fellow do Cebri e consultora internacional da APCO, Rafaela Guedes, que moderou o painel.

O gerente-geral da chinesa Chimbusco acredita que os Brics podem ser um importante fornecedor de combustível marítimo verde para todo o mundo e, assim, poderão ajudar a reduzir de forma relevante as emissões de gases de efeito estufa.

“Globalmente, consumimos cerca de 300 milhões de toneladas de combustível marítimo por ano, o que representa 30% das emissões de gases de efeito estufa. De acordo com os dados da IMO, os combustíveis marítimos verdes poderão atender de 5% a 10% do mix global”, disse.

O Brics Expandido abrange Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã.

*Conteúdo oferecido pela Siemens Energy