Com uma ampla disponibilidade de matéria-prima para produzir biocombustíveis com baixo custo, o Brasil ainda segue a passos curtos para se torna uma “Arábia Saudita” do combustível de aviação sustentável (SAF, na sigla em inglês). A visão foi compartilhada por Marcelo Therezo, CEO da Honeywell no Brasil, em entrevista concedida à MegaWhat durante o Fórum Net Zero, evento promovido pela companhia em parceria com a Amcham-SP.
“O fomento do SAF é um objetivo de sustentabilidade. O Brasil é por natureza a maior fonte para produção de SAF do planeta, devido à grande disponibilidade para produção de biomassa. Já vimos clientes e investidores falando que o Brasil será a Arábia Saudita do SAF pelas condições meteorológicas, geográfica e das duas safras que ocorrem no ano. O potencial do país para se tornar exportador de SAF é gigante”, afirmou o executivo.
Segundo Therezo, discussões para regularizar o setor estão acontecendo no mundo inteiro, inclusive no Brasil. No entanto, o CEO defende que o desenvolvimento de um arcabouço regulatório brasileiro precisa ocorrer de forma acelerada para desenvolver a indústria.
Além disso, o executivo afirma que o Brasil está envolvido em duas esferas nas discussões que envolvem o abastecimento de aviões. Na primeira delas, o país deve tratar das questões envolvendo o mercado doméstico, que aguarda a regulamentação por meio da aprovação do programa Combustível do Futuro, que deve trazer medidas para neutralização de carbono na matriz de combustíveis. Já na segunda, o executivo defende o olhar para mercado internacional.
Para o presidente da Honeywell do Brasil, a regulamentação é a peça final do quebra-cabeça do setor, que, apesar da demanda, oferta de crédito e o “apetite” dos investimentos, segue com insegurança jurídica e com projetos que podem ser paralisados, dependendo da situação.
“No entanto, [o arcabouço regulatório] não é só uma questão de governo, mas também dos órgãos reguladores que definem critérios para aceitabilidade dos tipos de matéria-prima e da intensidade de carbono, por exemplo. Então, um investidor que está pronto para fazer um projeto baseado em óleo de soja, por exemplo, se ele sabe ou tem alguma insegurança no sentido que o óleo de soja pode ser desaprovado como matéria-prima no futuro, coloca o projeto em stand-by”, conclui Therezo sobre o assunto.
Hora da ação
Mesmo com os entraves da regularização, o executivo acredita que assim como o setor de SAF, outros pontos da cadeia da transição energética se transformaram nos últimos anos em um ritmo “frenético”, por meio da materialização de projetos. Além disso, o CEO prevê que o segmento deve viver um novo boom nos próximos anos, levando a maior procura por profissionais.
“Quando os mandatos de sustentabilidade foram criados lá atrás na Europa e em estados americanos, havia um certo ceticismos, porque a demanda criada por eles era tão gigante quando comparado com a capacidade instalada e o investimento necessário para chegar nos números previstos. Hoje, grandes projetos acontecem no mundo todo e isso faz com que empresas, sociedade e governos despertem para que ‘opa, isso é real’, isso gera um círculo virtuoso”, defende o presidente da Honeywell do Brasil.
Apesar do frenesi de projetos e investimentos em empreendimentos sustentáveis, o setor ainda aguarda a aprovação de um arcabouço regulatório brasileiro, principalmente no setor de biocombustíveis, de acordo com Marcelo Therezo.
Investimentos
Presente no Brasil desde os anos 1950, a Honeywell fornece várias soluções para o setor de petróleo e gás, colaborando na produção de biocombustíveis, captura de carbono, softwares que permitem conservação energética, baterias de fluxo, entre outros.
Recentemente, a companhia anunciou a solução Honeywell Liquid Organic Hydrogen Carrier (LOHC), que permite o transporte de longa distância de hidrogênio utilizando a infraestrutura de transporte e refino já existente.
Já no ano passado, a Honeywell assinou um contrato com o ECB Group para uma biorrefinaria que deve ser inaugurada em 2024, no Paraguai, e deve utilizar as soluções tecnológicas da multinacional para a conversão de óleo vegetal em SAF e diesel verde. A planta terá produção estimada de 20 mil barris por dia.