Combustíveis

E30 deve reduzir dependência externa de gasolina, mas pode ampliar importações de etanol

Bomba de combustíveis. | Foto: Agência Brasil
Bomba de combustíveis. | Foto: Agência Brasil

O aumento da mistura de etanol anidro na gasolina, que passará de 27% para 30% a partir de 1º de agosto, segundo decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) tomada no fim de junho, poderá tornar o Brasil exportador líquido de gasolina, mas tende a aumentar as importações de etanol.

Segundo a consultoria Argus, entre agosto de 2025 e março de 2026, quando ocorre o fim da safra de cana-de-açúcar, as importações de etanol devem ficar entre 400 mil m³ e 800 mil m³, volume que supera os último quatro anos. Além da mudança no mandato, contribui o aumento no consumo do combustível, explica o gerente de Desenvolvimento de Negócios da Argus, Amance Boutin.

“O anúncio do E30 veio de supetão, quando a estratégia das linhas de produção já estava definida entre etanol anidro, hidratado, açúcar e demais produtos. Ainda que o Ministério de Minas e Energia (MME) sinalizasse informalmente a intenção de aumentar a mistura, a indústria programa sua produção com base em certezas, e há limites para reorientar a produção nesta altura. Para o próximo ano-safra, é possível que haja aumento na produção de etanol anidro para atender melhor a esta demanda”, avalia Boutin.

Já a União da Indústria de Cana-de-Açúcar e Bioenergia (Unica), que reúne usinas responsáveis por 51% da produção nacional de etanol, avalia que a produção interna é capaz de atender a demanda. “A demanda adicional de etanol anidro para o E30 seria de aproximadamente 1,5 bilhão de litros por ano. E o setor já tem capacidade instalada para atender esse volume, considerando a produção de etanol de cana e de milho, além de novas unidades em construção e as previsões de ampliações futuras”, diz o diretor de inteligência setorial da Unica, Luciano Rodrigues. “Somente a expansão do etanol de milho já compensaria esse aumento inicial da demanda”, complementa.

Boutin, da Argus, explica que os fluxos de importação de etanol são sazonais, de acordo com os regimes de safra e entressafra de açúcar. Assim, em alguns meses o Brasil importa mais do que exporta, e em outros períodos a movimentação se inverte.

Dados do Ministério da Indústria, Comércio e Serviços (MDIC) indicam que, em 2024, 56,6% das importações de etanol vieram dos Estados Unidos, maior produtor de etanol do mundo. Segundo a Argus, ainda não estão claros os efeitos da possível taxação sobre produtos brasileiros nos Estados Unidos, que podem levar a movimentos semelhantes do governo brasileiro. Tradicionalmente a carga é entregue no Nordeste, principalmente nos portos de Itaqui (MA) e Suape (PE), em função da proximidade geográfica, o que reduz o custo de frete.

Preços de etanol hidratado e biodiesel

Há dois tipos de etanol combustível: o etanol anidro, que é aquele misturado à gasolina, e o etanol hidratado, que é o que pode ser colocado diretamente nos veículos. Para atender ao aumento na demanda por etanol anidro, a Argus avalia que pode haver redução na oferta de etanol hidratado, o que deve sustentar os preços do biocombustível no mercado doméstico.

Além do aumento na mistura de etanol na gasolina, o CNPE também determinou o aumento na proporção de biodiesel no diesel, que passará de 14% para 15% a partir de 1º de agosto. Segundo a Argus, o mercado interno brasileiro tem condições de atender a este aumento na demanda. Por outro lado, os preços do óleo de soja, matéria-prima para o biodiesel, aumentaram 17% no último mês (de 30 de maio a 25 de julho), diz a consultoria, o que deve encarecer o diesel B nas bombas.