A Vibra Energia, antiga BR Distribuidora, está analisando diariamente as movimentações dos preços dos derivados no exterior, a fim de repassar os custos sem prejudicar sua posição de mercado. “Temos conseguido conquistar espaço maior de mercado, e temos mantido atendimento integral da nossa rede. É nessa hora que o revendedor consegue perceber o valor da bandeira”, disse André Natal, diretor financeiro e de relaçoes com investidores da companhia, durante teleconferência sobre os resultados de 2021.
O mercado de importação de derivados está “apertado”, mas a Vibra não tem enfrentado desabastecimento e todas as cargas contratadas estão chegando no país, de acordo com o presidente Wilson Ferreira Junior.
Segundo Natal, a Vibra já é hoje a maior importadora de combustíveis do país, posição reforçada pela volatilidade dos preços no exterior, que afujentou muitos players e deu espaço àqueles com maior apetite e segurança de colocação do produto no mercado doméstico.
“O tamanho das variações [de preços] é tão grande que cria desafios na precificação. Em determinadas praças temos que fazer reajustes com um certo cuidado para garantir que não descole do mercado, tem custo que deve ser repassado, mas também tem o preço que vem de fora para dentro, que é ver o que o mercado está fazendo”, disse Natal. O desafio é equilibrar a estratégia para não criar assimetrias, evitando uma perda ou ganho de mercado maior que o devido.
A Vibra faz operações financeiras de hedge para a importação dos derivados, a fim de se proteger das variações de preços e cambiais. Segundo Natal, normalmente, as operações de hedge são compensadas pelo aumento de estoques, e vice versa, mas a volatilidade está tão grande que há uma defasagem temporal entre essas compensações. “Se você espaça muito os reajustes, cria esse espaço temporal, e você pode ter perda de hedge não compensada por ganho de estoque, mas que é carregada para a frente”, explicou.
O resultado do primeiro trimestre pode ser afetado por esse descasamento, mas o ganho de estoque virá futuramente, compensando a perda do hedge. Além disso, segundo Natal, as margens de comercialização continuam “saudáveis” e em linha com as verificadas no final do ano passado.
O outro desafio enfrentado pela Vibra é a manutenção de um nível alto de liquidez, uma vez que não há previsibilidade sobre os movimentos futuros do petróleo causados pela guerra, e a alta dos preços exige um consumo maior de capital de giro.
“Precisamos ter cautela e preservar certas saídas de caixa, até mesmo buscando no mercado liquidez para manter o caixa um pouco acima do que temos normalmente”, disse. Segundo Natal, a companhia não teve impactos na sua condição de liquidez e segue com acesso amplo a crédito a custos competitivos, mas decidiu não distribuir dividendos adicionais sobre o resultado de 2021 pois seria “imprudente” neste momento de alta volatilidade dos preços.
A Vibra importa combustíveis preferencialmente da região do Golfo, mas também acessa outros mercados como a Índia, estratégia que já vinha sendo conduzida desde antes da guerra da Ucrânia, por conta da intenção de robustecer e fortalecer a capacidade de importação para garantir o abastecimento do país.
“Não tivemos nenhum cancelamento de carga, tudo que contratamos está vindo e sendo honrado”, disse Natal. Segundo o executivo, a oferta no mercado global está reduzida, até pelo cancelamento das compras da Rússia, mas a Vibra tem fontes bastante diversificadas e está garantindo a entrega aos clientes. “Achamos que o mercado ainda estará apertado em abril, o mercado de diesel será desafiador, mas estamos acessando os volumes que precisamos”, disse.