Distribuição

Avaria em barragem no RS foi menos grave que o esperado e CPFL vê normalização da geração em 'meses'

Afetada pelos efeitos das chuvas no Rio Grande do Sul nas suas operações de geração, transmissão e distribuição no estado, a CPFL espera que a normalização da maior parte das suas redes seja concluída nos próximos meses, assim como das hidrelétricas afetadas.

Afetada pelos efeitos das chuvas no Rio Grande do Sul nas suas operações de geração, transmissão e distribuição no estado, a CPFL espera que a normalização da maior parte das suas redes seja concluída nos próximos meses, assim como das hidrelétricas afetadas.

“Precisamos entender que tipo de equipamento sofreu qual dano, o que presa ser reparado ou substituído, mas de forma geral as redes estão preservadas e a expectativa é que a gente consiga retomar nossa operação de forma mais rápida”, disse Gustavo Estrella, presidente da CPFL, em teleconferência sobre os resultados do primeiro trimestre do ano.

Por enquanto, a CPFL não trabalha com a possibilidade de solicitar uma revisão tarifária extraordinária (RTE) para a RGE, distribuidora que atende 276 dos 336 municípios gaúchos afetados pelas chuvas, mas conversa com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e com o Ministério de Minas e Energia sobre os cenários possíveis para reconstrução da infraestrutura necessária.

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Danos aos ativos

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A companhia espera a normalização das hidrelétricas da sua subsidiária Companhia Energética Rio das Antas (Ceran) nos próximos meses, incluindo a usina 14 de julho, de 100 MW, que teve uma avaria na sua barragem.

Segundo Gustavo Estrella, os danos na barragem foram menores que o esperado, mas ainda é necessário reconstruir a linha de transmissão da usina e o acesso terrestre até o empreendimento.

A usina de Castro Alves, que tem 130 MW, voltou a operar, e a Montes Claros, que tem a mesma potência, precisará de uma reforma da sua casa de força, para que volte a gerar nos próximos meses.

Em transmissão, a situação é semelhante à da distribuição, uma vez que muitas linhas e subestações foram alagadas e precisaram interromper o funcionamento por razões de segurança. 

A CPFL chegou a ter oito subestações afetadas, sendo que quatro já voltaram a operar. Das 29 linhas afetadas, 13 foram recuperadas. “A gente tem uma operação em contingência, com menos linhas disponíveis, mas em um processo de operação mais perto da normalidade”, disse Estrella.

Em distribuição, onde a RGE chegou a ter 300 mil clientes desligados, a situação atual é de 160 mil clientes sem acesso, que representam cerca de 5% do total atendido pela RGE. 

Em algumas regiões, como Vale do Taquari e parte da região metropolitana de Porto Alegre, que foram muito afetadas, Estrella afirmou que o trabalho envolverá mais que a reconstrução da rede, mas toda a infraestrutura, inclusive as casas. “Para essas regiões mais afetadas, a gente deve ter um processo de retomada mais lento”, disse. 

Na teleconferência, o executivo destacou a previsão de novas chuvas ao longo dos próximos dias no Rio Grande do Sul, mantendo a empresa em estado de atenção.

Além das iniciativas de colaboração de outras distribuidoras do setor, como a Cemig e a Celesc, Estrella disse que mais de 100 eletricistas que atuam em outras concessionárias do grupo CPFL estão disponíveis aguardando a redução do volume das águas para que os clientes possam ser religados. “Esse processo de colaboração de todos tem sido fundamental para que a gente prepare a RGE para que ela possa, no menor espaço de tempo possível, religar nossos clientes”.

Novas regras

Segundo Estrella, nos últimos dias, o tema da renovação das concessões das distribuidoras ficou de lado, enquanto o governo e o setor se concentraram na situação urgente do sul do país. A expectativa dele é que as novas regras sejam preparadas para os eventos climáticos extremos, que devem ser cada vez mais frequentes.

“O que a gente vive hoje, especialmente no Rio Grande do Sul, pode ser em maior ou menor proporção, mas é a nova realidade no Rio Grande do Sul. Ano passado, foram 13 eventos climáticos extremos”, disse Estrella.

Ele lembrou que as concessões da CPFL também enfrentaram problemas graves ligados ao clima em São Paulo, como as chuvas de novembro do ano passado, mas afirmou que o Rio Grande do Sul chama a atenção pela recorrência que os eventos têm acontecido.

“Eu não tenho dúvida, a nova regulação que for proposta de alguma forma precisa prever que vamos ter um cenário mais adverso. Talvez não faça mais sentido trabalhar com uma regulação definida há 30 anos, com uma realidade completamente diferente do que a gente tem hoje. Se tem mais tecnologia, maior capacidade de oferecer qualidade superior ao cliente e, ao mesmo tempo, temos momentos extremos como esse, a regulação tem que lidar com isso para que tenhamos uma concessão viável no longo prazo”, disse.

Plano de recuperação

Para a recuperação dos ativos afetados pelas chuvas e retomada do fornecimento de energia no Rio Grande do Sul, a CPFL já montou um plano de logística operacional, que prevê que equipes de outras localidades ajudem. 

“Nós vamos entrar com nossa força máxima”, disse Luís Henrique Ferreira, diretor de Operações Reguladas da companhia.

Segundo o executivo, quanto antes a água baixar e as pessoas voltarem para suas casas, poderá ser feita a reconstrução das infraestruturas que foram muito prejudicadas.

Na região metropolitana de Porto Alegre, a CPFL avalia que a rede não foi muito danificada, porque foi uma inundação mais lenta, mas as previsões de prazos dependem da redução do nível da água. No Vale do Taquari, onde houve correnteza, a CPFL já observou que houve dano maior na rede, mas que será possível reaproveitar muitos ativos, como postes, e os que não puderem ser reutilizados serão substituídos sem gerar grande impacto na sua base de ativos.

O impacto mais relevante pode vir da substituição de transformadores e medidores, mas a CPFL está preparada para fazer isso. Para evitar um impacto grande na sua base de ativos, a empresa deve fazer uma baixa dos ativos antigos e depreciados.

Será depois disso que a CPFL vai ter condições de avaliar se é necessário solicitar uma revisão tarifária extraordinária (RTE) para a RGE. “Estamos levantando todas as possibilidades, o que será investido, custos, perdas. Se houver um impacto signfiicativo, que a gente espera que não aconteça, teremos espaço para fazer isso”, disse Ferreira.

Resultados

No primeiro trimestre do ano, o lucro líquido consolidado da companhia cresceu 6,3%, a R$ 1,75 bilhão. Parte do aumento se deu pela redução do prejuízo com serviços e comercialização, ao mesmo tempo em que houve crescimento do lucro dos segmentos de distribuição e geração de energia.

A receita operacional líquida da CPFL somou R$ 10,16 bilhões, aumento de 3,3%. Já o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) consolidado cresceu 9,5%, a R$ 3,8 bilhões.

As vendas de energia nas áreas de concessão da CPFL cresceram 5,3% no trimestre, a 18.625 GWh. No mercado cativo, o crescimento foi de 4,2%, a 11.054 GWh, enquanto no livre houve expansão de 6,8%, a 7.571 GWh.