Distribuição

Enel SP defende repasse de incentivos das tarifas para redes mais resilientes 

Executivo ainda corrigiu o número de clientes afetados na área de concessão da empresa pelo temporal

Edifício da Enel Distribuição, em São Paulo
Edifício da Enel Distribuição, em São Paulo | Enel

O presidente da Enel São Paulo, Guilherme Lencastre, defendeu o fim de incentivos em alguns setores para que a distribuição possa aumentar a resiliência das redes, com foco em adequações para o atual contexto de eventos climáticos extremos. Em entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira, 17 de outubro, o executivo ainda corrigiu o número de clientes afetados na área de concessão da empresa pelo temporal de sexta-feira, 11 de outubro, que saltou de 2,1 milhões para 3,1 milhões. No momento, 36 mil clientes estão sem energia.

Segundo o executivo, a tarifa atual de energia não prevê incentivo para resiliência das redes, sendo necessária uma modernização dos contratos de concessão das distribuidoras, com as diretrizes de incentivos “corretos para que o contrato seja sustentável” e atraia investidores. Questionado sobre quais incentivos poderiam ser empregados, Lencastre destacou que há estímulos para setores que não precisam mais, incluindo a geração distribuída (GD).

“Todos nós estamos pagando uma tarifa que não incentiva o investimento em resiliência. O setor [de distribuição] foi o que menos impactou a tarifa de energia nos últimos anos. Hoje, os tributos, incentivos, subsídios são a maior fatia na conta de energia, chegando até a 45% da conta, depois vem geração e transmissão. Temos incentivos que foram dados e não precisam existir mais. Caso a gente diminua e coloque na resiliência de rede? Isso ajudaria a distribuidora a fazer mais investimentos”, disse ele.

Lencastre afirmou ainda que qualquer investimento realizado depois da revisão tarifária só entra na base de remuneração quatro ou cinco anos depois do processo, o que “traz uma dificuldade na sustentabilidade financeira da própria distribuidora”. Ele ainda ponderou que em outros países a questão de resiliência das redes já tem sido tratada.

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“Se você coloca remuneração anual nesses investimentos, é muito mais fácil mobilizar equipes, é muito mais fácil fazer investimento de forma linear, para que você tenha remuneração disso no ano seguinte”, abordou.

Além do retorno de investimentos e os incentivos, o executivo ainda elencou itens como previsão climática, flexibilidade de redes e aprimoramentos tecnológicos como medidas a serem tomadas para melhorar o serviço de distribuição.

“Quando falo de flexibilidade na rede, significa ter uma rede mais robusta, que possa ter novos caminhos para levar a energia ao cliente, caso você tenha uma interrupção. Você precisa reforçar a rede. Muita se fala em rede subterrânea, ela é uma possibilidade? Sim, mas não é uma solução simples. Precisa ser endereçada com a sociedade e com o governo. Uma rede subterrânea custa dez vezes mais do que uma rede aérea. Todos esses elementos colocados aqui estão sendo estudados constantemente, pensando no futuro. O futuro significa mudar e se adaptar aos eventos climáticos. Significa pensar em longo prazo e atuar no curto prazo”, destacou.

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Renovação da concessão

A minuta de termo aditivo do contrato de concessão das distribuidoras está em debate em uma consulta pública da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovada nesta semana. Na proposta, a autarquia prevê que, para a renovação, as distribuidoras devem ter quitado suas multas administrativas, bem como demandas judiciais, pecuniárias ou frente a regulamentações da Aneel.

Em relação à renovação do contrato, Lencastre afirmou que a companhia ainda vai avaliar os termos a serem colocados na mesa. Porém, lembrou os anúncios de investimentos feitos pela companhia até 2026 em São Paulo. A empresa tem um contrato válido até junho de 2028.

“Tem que ser elaborado um contrato de concessão e a gente vai avaliar quando esse contrato de concessão estiver definido. O compromisso com o Brasil existe, é importante e eu reafirmo aqui o nosso compromisso. Os elementos que foram colocados aqui são elementos para a gente endereçar no futuro e para continuar com o nosso compromisso”, falou o presidente da Enel São Paulo.

Clientes sem energia em São Paulo

O executivo ainda atualizou o balanço da companhia sobre o número de clientes afetados pelo apagão de sexta-feira, 11 de outubro.

“Foram 3,1 milhões de clientes que ficaram sem energia no momento inicial da ocorrência”, disse Lancastre explicando que não tinham sido contabilizados os desligamentos entre às 19h e 23h59 de 11 de outubro, sendo que esse 1 milhão a mais teve a energia restabelecida nesse intervalo de quase cinco horas.

O restabelecimento dos clientes nesse período só foi possível, segundo o presidente da distribuidora, porque entre as tecnologias de automação da companhia existem mecanismos que permitem identificar as interrupções, remanejar o fluxo de energia e retomar o serviço de forma automática e/ou nas horas seguintes remotamente pelos operadores.

A distribuidora também descreveu impactos em: 17 linhas de alta tensão, 11 subestações, 221 circuitos de média tensão, 105 transformadores, 251 postes e 1.492 pontos de vegetação. Segundo a empresa, o número de quedas de postes aumentou em 40% na comparação com o apagão de novembro de 2023.

O CEO da Enel São Paulo ainda destacou que na madrugada desta quinta, todas as solicitações de restabelecimentos de energia feitas nos dias 11 e 12 foram atendidas. As 36 mil solicitações que ainda seguem em aberto foram feitas a partir do dia 13 de outubro e estão “perto da normalidade” de operação. A prioridade agora é restabelecer o fornecimento para os que seguem sem abastecimento.