
A manutenção dos critérios de aversão ao risco nos modelos computacionais de operação e formação de preços de energia elétrica pode adicionar até R$ 9,1 bilhões em custos aos consumidores de energia. O cálculo é da Associação Brasileira dos Comercializadores de Energia (Abraceel), com base nos documentos disponibilizados pelo Ministério de Minas e Energia (MME) em uma consulta pública sobre o tema.
Na consulta pública, foi disponibilizada uma nota técnica conjunta do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) e da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) sugerindo a manutenção do critério de aversão ao risco implementado desde janeiro deste ano.
Trata-se do par CVaR α = 15% e λ = 40%, ou seja, que o modelo continue considerando os 15% piores cenários hidrológicos com peso de 40% na formulação da política de operação. Segundo a Abraceel, alguns elementos da operação do sistema indicam a necessidade de reavaliar esse critério para o planejamento de 2026.
Curva referencial: 85% ou 90%
O reexame parte do princípio de que o atendimento à Curva de Referência de Armazenamento (CRef), atualmente fixado em 85%, reduziria o CVaR para 15,30. No entanto, a nota técnica do ONS e da CCEE propõe elevar o critério de atendimento da CRef para 90%, o que levaria à adoção do par 15,40.
De acordo com a Abraceel, o chamado par 15,40 representa um uso excessivo da geração térmica, com custos totais estimados entre R$ 8,1 bilhões e R$ 59,3 bilhões, a depender da hidrologia.
A alternativa com CVaR de 15,30, mantendo a CRef em 85%, permitiria uma redução de até R$ 9,1 bilhões nos custos totais, com impacto marginal na energia armazenada mesmo nos cenários mais críticos.
Em sua contribuição à consulta pública do MME, a Abraceel destacou que esses resultados reforçam a necessidade de reavaliar o critério de 90% de atendimento da CRef, considerando os ganhos econômicos expressivos e o não comprometimento da segurança operativa. A associação acrescenta que, “em termos de impactos tarifários, o par 15,30 oferece uma redução de até 4,4%, demonstrando um equilíbrio mais eficiente entre risco e custo para o sistema”.
“É fundamental dar transparência aos motivos técnicos da recomendação para elevar o indicador de atendimento da Curva de Referência de Armazenamento de 85% para 90%, sob o risco de induzir desnecessariamente à adoção de parâmetros de aversão ao risco exageradamente conservadores, repassando ao consumidor mais essa conta bilionária”, afirma Rodrigo Ferreira, presidente-executivo da Abraceel.
Para Ferreira, é preciso considerar que adotar parâmetros que impliquem maior aversão ao risco resultará em mais térmicas despachadas, cortes ainda mais significativos da geração renovável e menor participação da geração hidrelétrica.
Segundo a Abraceel, à primeira vista, o aumento nos critérios de aversão ao risco pode parecer uma medida prudente, já que uma postura mais conservadora na gestão do sistema elétrico tende a ser bem recebida. No entanto, a associação alerta para os efeitos negativos da superestimação dos riscos, que leva ao descarte de fontes mais baratas e ao acionamento de termelétricas mais caras. A entidade lembra que, conforme descrito no site do ONS, é responsabilidade do operador “promover a otimização da operação do sistema eletroenergético, visando ao menor custo para o sistema, observados os padrões técnicos e os critérios de confiabilidade estabelecidos nos Procedimentos de Rede aprovados pela Aneel”.
As siglas
A CRef é a Curva de Referência de Armazenamento, uma régua para indicar o nível mínimo de armazenamento desejado nos reservatórios ao longo do tempo.
Já o CVaR (Conditioned Value at Risk) é uma metodologia de aversão ao risco, cujos parâmetros, apresentados em dupla, são usados para calibrar o risco hidrológico nos modelos computacionais que determinam a operação do sistema elétrico.