Gás natural

Capítulo sobre gás natural, que reduziria mercado da Petrobras, sai do Paten

Medida com objetivo de aumentar competitividade do mercado agradava agentes privados

Funcionário da Petrobras em instalação de gás
Funcionário da Petrobras em instalação de gás | Petrobras

O projeto de lei (PL) nº 327/2021, que cria o Programa de Aceleração da Transição Energética (Paten), sofreu alterações importantes pelo relator, senador Laércio Oliveira (PP-SE). Em atualizações ao texto apresentadas ontem e hoje, 28 e 29 de novembro, Oliveira retirou o Capítulo IV do projeto, que tratava de medidas para fomentar o mercado de gás natural e instituía travas para a concentração do fornecimento de gás natural – na prática, aplicáveis apenas à Petrobras.

Em rede social, Laerte declarou que a retirada do capítulo do projeto ocorreu para evitar atrasos na agenda de votações do Congresso. No relatório, o senador registrou que “as inovações propostas são altamente relevantes para o setor de gás natural”, mas que “tais aprimoramentos podem ser realizados em momento oportuno, respeitando o tempo da política”.

O que o Paten previa para gás natural

Pela proposta que saiu de discussão, agentes que detivessem 50% ou mais do mercado de comercialização de gás natural no Brasil não poderiam importar gás ou fechar contratos firmes para compra de outros produtores. O PL previa o cancelamento de contratos que ainda não tivessem entrado em vigor e estabelecia metas para redução progressiva do fornecimento para contratos já iniciados.

Além disso, o PL também previa que uma mesma empresa ou grupo empresarial não poderia fornecer a concessionárias mais de 50% da quantidade total diária consumida pelo mercado brasileiro, tendo como base os volumes consumidos no ano anterior.

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Na prática, ambas as restrições se aplicariam apenas à Petrobras, único agente com posição dominante no mercado atualmente. Assim, o PL estipularia uma redução forçada de contratos já celebrados pela estatal, além de restringir novos negócios. O objetivo da proposta era oferecer maior concorrência ao mercado.

Posições do mercado

A medida tinha o apoio declarado do Ministério de Minas e Energia (MME). Em nota, a pasta avaliou que as regras favoreciam a diversificação de fornecedores de gás natural e aumentavam a competitividade da indústria nacional. O MME avaliava que as medidas do Capítulo IV do Paten se inseriam no contexto do Gás para Empregar, programa liderado pela pasta.

Por outro lado, a Petrobras trabalhava para proteger seu mercado. Em novembro, o diretor de Transição Energética e Sustentabilidade da companhia, Mauricio Tolmasquim, avaliou que a redução do mercado “digeriria a Petrobras”, mas adiantou que havia conversas “positivas” com os congressistas para defender o mercado da estatal.

Em nota divulgada nesta quinta-feira, 28 de novembro, após a publicação do novo relatório do Paten sem a tratativa sobre gás natural, a Associação Brasileira de Grandes Consumidores Industriais de Energia e de Consumidores Livres (Abrace Energia) divulgou nota em que lamenta a evolução do PL.

“O capítulo do gás natural incluído no Paten complementava a Nova Lei do Gás, dando direcionamentos explícitos para o aumento da oferta e da competição, que deverão ser priorizados utilizando o arcabouço legal atual”, diz o posicionamento da associação.