Ao mesmo tempo em que anuncia uma parceria para investir US$ 4 bilhões no desenvolvimento de uma planta de hidrogênio verde no estado americano do Texas, a AES avalia investir na tecnologia no Brasil, projeto que pode ser viabilizado para exportação do insumo, na forma de amônia verde, para mercados como da Alemanha, que está preparando um leilão para 2023.
O maior desafio para viabilizar os empreendimentos é garantir um comprador para o hidrogênio que será produzido, e o leilão na Alemanha é tido como uma oportunidade considerando a competitividade das fontes renováveis no Brasil. “Nossa estratégia é desenvolver o projeto e investir capex quando tivermos certeza de para onde a energia vai”, disse José Simão, diretor de Tesouraria e Relações com Investidores da AES Brasil, durante evento com investidores e analistas nesta quinta-feira, 8 de dezembro.
Nos Estados Unidos, foi uma parceria com a Air Products, que atua no fornecimento de gases industriais, que garantiu a demanda para o hidrogênio e viabilizou o projeto. A AES Corporation, holding que controla a AES Brasil, anunciou hoje o investimento na planta, que terá capacidade de geração de mais de 200 toneladas de hidrogênio verde por dia. Os investimentos incluem a construção de plantas de geração eólica e solar de mais de 1,4 GW.
“Acreditamos que o uso do hidrogênio verde será fundamentalmente dos clientes da Air Products. Seremos desenvolvedores dos 1.400 MW de eólica e solar e parceiros da Air Products no desenvolvimento do eletrolisador. Acreditamos que mais desses projetos devem acontecer, vários deles no Brasil”, disse Francisco Morandi, vice-presidente de Estratégia Corporativa da AES Corporation e presidente do conselho da AES Brasil.
A Air Products assegurou um contrato de 30 anos para compra do hidrogênio verde com o negócio, que conta com incentivos fiscais do Inflation Reduction Act (IRA), programa lançado pelo governo dos Estados Unidos para acelerar a transição energética.
O empreendimento deve entrar em operação comercial em 2027, e seu intuito é atender a demanda crescente por soluções de combustíveis zero carbono para mobilidade, assim como mercados industriais. As empresas estimam que serão criados 1.300 empregos durante a fase de construção, e 115 empregos permanentes na operação da planta, além de outros 200 no transporte e distribuição do hidrogênio verde.
No evento na AES Brasil, a presidente da companhia, Clarissa Sadock, afirmou que o projeto do Texas vai dar vantagem competitiva para a AES Brasil participar do leilão da Alemanha, previsto para acontecer no fim de 2023. A contratação no país europeu terá a finalidade de substituir o gás russo e ajudar a acelerar a transição energética, sem prejudicar as metas de redução de emissão de gases poluentes.
Segundo Morandi, o fator de capacidade elevado das fontes eólica e solar fotovoltaica no Brasil ajudam a tornar os projetos da AES no país mais competitivos no certame, já que, nesse caso, vai pesar a qualidade do recurso renovável. “Na medida em que a tecnologia evolua, o preço [do eletrolisador] vai cair e vai ficar mais competitivo para a produção do hidrogênio verde”, disse o executivo.
A companhia avalia opções em todo o mundo para produzir hidrogênio verde, e a escolha pelos Estados Unidos se deu justamente por conta dos subsídios do IRA, que faz com que “a conta feche”, segundo Morandi. No caso do leilão da Alemanha, mesmo que ele garanta um comprador para o insumo, será necessário calcular se os investimentos trarão taxas de retorno adequadas, já que ainda é uma tecnologia muito cara.
A AES Brasil é uma das empresas que assinou memorando de entendimento com o governo do Ceará para utilizar uma área do Porto de Pecém para produzir o hidrogênio verde, já que a região é tida como competitiva por estar mais próxima dos mercados europeus.
Crescimento da geração e do Ebitda
No evento dessa quinta-feira, os executivos da AES Brasil destacaram o importante momento da companhia, que está quase concluindo a construção de cerca de 1 GW em novos projetos, os complexos eólicos Tucano, na Bahia, de 322 MW, e Cajuína, no Rio Grande do Norte, com 695 MW. Em 2024, quando os empreendimentos estarão totalmente operacionais, deverão gerar R$ 600 milhões em Ebitda (sigla em inglês para resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização) adicional.
Esses são os passos mais recentes de um processo de transformação que começou há seis anos, com a diversificação do portfólio de geração da companhia, que saiu de 2,7 GW da fonte hídrica para 5,2 GW em capacidade contratada, sendo 2,5 GW nas fontes eólica e solar – considerando a conclusão de Cajuína e Tucano.
Em novembro, a AES Brasil concluiu a aquisição da aquisição de 456 MW em eólicas operacionais da Cubico, por R$ 2 bilhões, garantindo mais cerca de R$ 240 milhões em Ebitda anuais.
Com esses negócios e a normalização do cenário hídrico, a AES Brasil espera que seu Ebitda em 2024 seja consideravelmente maior que o projetado para 2022. Nos nove primeiros meses deste ano, a companhia acumulou um Ebitda de R$ 823,8 milhões, 24,6% maior que o registrado no mesmo período de 2021.
O ano de 2022 foi considerado “morno” em termos de novos contratos de venda de energia (PPAs) de longo prazo, pelo aumento do custo dos projetos em um cenário de preços baixos de energia no curto prazo, e por isso a AES Brasil destinou seus esforços para aquisições de projetos de porte médio. A tendência deve continuar no próximo ano, segundo Clarissa Sadock.
“Temos focado nossa estratégia de M&A em ativos de tamanho de 200 MW a 300 MW, pensando em competitividade”, disse ela. Segundo a executiva, para ativos maiores, há interesse de grandes players que estão entrando no setor de energia, que exigem menos retorno e são mais agressivos nas ofertas. “Percebemos que temos mais competitividade em ativos abaixo do radar”, disse, lembrando que a companhia tem expertise em recuperar (fazer o turnaround, no jargão do mercado em inglês) ativos problemáticos, que são menos visados para aquisições.