A AES Brasil teve lucro líquido de R$ 124,4 milhões no terceiro trimestre do ano, aumento de 21,3% na comparação com o mesmo período do ano passado.
O desempenho da companhia no trimestre reflete a fase final do seu plano ousado de crescimento implementado nos últimos anos, com a expansão da geração eólica por meio dos novos complexos Ventos do Araripe, Caetés, Cassino, e a operação faseada dos complexos Tucano e Cajuína 1.
A geração eólica no período, com isso, cresceu 94,6%, a 1.412,4 GWh, enquanto a disponibilidade dos parques cresceu 2 pontos percentuais, a 88,4%.
No trimestre, a receita líquida da companhia cresceu 15% no período, a R$ 908,6 milhões, e o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) subiu 51,4%, a R$ 429,7 milhões.
“Em nove meses do ano, já chegamos no Ebitda de todo o ano passado, de cerca de R$ 1,2 bilhão, então estamos falando de materialização do crescimento. Os ativos estão entrando em operação ao longo do tempo, e isso está levando o Ebitda para cima”, disse José Simão, vice-presidente financeiro e de relacionamento com investidores da companhia.
No acumulado nos nove primeiros meses do ano, o lucro da AES cresceu 20,7%, a R$ 220,7 milhões. A receita líquida teve alta de 17,9%, a R$ 2,46 bilhões, e o Ebitda soma alta de 42,7%, a R$ 1,17 bilhão.
Curtailment após o apagão
Depois do apagão de 15 de agosto, a AES também sofreu com as reduções da geração renovável por determinação do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Conhecidas no setor pelo jargão “curtailment”, as reduções somaram 99,3 GWh no trimestre, aumento de mais de 700% na comparação anual, com efeitos sentidos nos parques de Alto Sertão II, Ventus, Mandacaru e Salinas.
O assunto, contudo, não preocupa a AES. “Não foi um grande evento, pegou menos de 3% da margem operacional livre. São cerca de R$ 15 milhões a menos de receita”, explicou Simão. Segundo ele, outras empresas do setor foram mais afetadas, mas a AES acompanha o movimento de todo o setor de buscar uma compensação por essas perdas, caso o assunto persista.
Dívida de lado
Não houve alteração relevante no endividamento da AES no trimestre em relação ao fim de junho deste ano. Segundo Simão, a companhia continua com a relação entre dívida líquida e Ebitda de 5,6 vezes ao nível da holding, mas o crescimento da sua geração de caixa, que pode ser visto na expansão do Ebitda de julho a setembro, mostra como a AES está preparada para seguir com os pagamentos das dívidas nos próximos trimestres.
“Nossa situação é de fim de ciclo de crescimento, são os mesmos R$ 12 bilhões de dívida bruta no balanço, mas o Ebitda está aumentando, e vamos desalavancar”, disse Simão.
A empresa espera ainda a melhora das condições do mercado financeiro para trocar a dívida que vence no curto prazo, mais cara, por uma dívida mais longa e barata.
Segundo Simão, a companhia está conversando com bancos de fomento e bancos comerciais sobre oportunidades, mas as condições atuais estão muito voláteis. “Estamos cautelosos, os processos estão bem avançados, mas vamos esperar um pouquinho mais”, explicou.
Enquanto isso, a AES tem conforto no seu nível de contratação, com 100% da energia vendida até 2025, e pouco espaço para venda até 2027. Segundo Simão, os preços médios da empresa são por volta de R$ 190/MWh, acima do praticado no mercado. “É uma posição confortável que não nos coloca com urgência de vender ou fazer projetos”, disse.
Simão admitiu que a AES considera desinvestimentos pequenos e pontuais para ajudar a acelerar a desalavancagem, como por exemplo de projetos ainda não construídos, mas o cenário de preços baixos de energia dificulta também esses negócios. “Não é nada grande, são coisas pequenas, algum projeto menor. Olhamos porque é uma forma de desalavancar mais rápido, gerando mais eficiência ao nosso portfólio”, disse.
Crescimento: novos projetos e tecnologias
Os preços baixos também aumentam o desafio para a expansão da capacidade instalada da companhia além dos projetos já contratados. “Os preços continuam longe de serem suficientes, em R$ 120 [por MWh] a gente não consegue fechar contrato. Mas nossa estratégia é sempre buscar contratos diferentes, como o que anunciamos com a Microsoft no primeiro trimestre, que era super ‘tailor made'”, afirmou.
A estratégia é aliar o desconto pelo uso da rede aos benefícios da autoprodução, mas também com produtos customizados para a necessidade do cliente, um diferencial que a AES entrega por seu portfólio diversificado de fontes renováveis.
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A empresa vê ainda oportunidade para crescer com projetos de baterias para armazenamento de energia associadas à geração renovável, produto que pode ser disputado em um esperado leilão de reserva de capacidade previsto para 2024.
Outra via, na qual a AES já tem apostado nos últimos anos, é no mercado livre varejista. “Nós tivemos esse esforço grande para estarmos entre os três maiores varejistas para que, quando o mercado abrisse, a gente já tivesse uma presença importante”, disse Simão.
Essa experiência tem permitido a empresa a desenvolver novos produtos, como no caso de uma precificação diferente de risco lançada nesse trimestre, em que o cliente de varejo não precisa depositar garantia, e sim pagar um spread de alguns valores a mais no valor da energia, refletindo seu perfil de risco.