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A Companhia Paranaense de Energia (Copel) planeja participar do leilão de reserva de capacidade na forma de potência (LRCap) com mais de 2 GW de capacidade, sendo 1.260 GW na usina de Segredo e 840 MW na planta de Foz do Areia. O presidente da companhia, Daniel Slavieiro, espera uma participação “adequada” da fonte hídrica no certame, que terá apenas um dos dez produtos para usinas hídricas.
“Não conseguimos estimar [o tamanho da contratação para hídricas], mas acreditamos que terá um tamanho bom porque é a fonte indiscutivelmente mais barata e a única fonte renovável para esse leilão”, disse o executivo. De acordo com as diretrizes para o certame, as usinas térmicas poderão ser abastecidas com gás natural ou biocombustível, embora o uso de combustíveis renováveis seja visto com cautela pelo mercado por questões técnicas, disponibilidade e preço.
Slavieiro vê outras vantagens para as fontes hídricas no leilão: “A gente está muito confiante que o produto hídrico pela primeira vez vai mostrar mais um atributo, um atributo agora de potência, que está sendo absolutamente necessário e requisitado pelo ONS [Operador Nacional do Sistema Elétrico] para a operação”, declarou o executivo nesta sexta-feira, 28 de fevereiro, durante teleconferência de resultados da Copel do quarto trimestre de 2024.
O LRCap está marcado para o dia 28 de junho, e já reúne 70 GW em projetos interessados na concorrência, segundo o Ministério de Minas e Energia (MME). “Isso é sempre a estimativa inicial, vamos ver quantos vão estar aptos com licenças, garantias e depósitos necessários para estarem habilitados para o leilão. Mas sem dúvida nenhuma vai ser um leilão grande”, ponderou o presidente da Copel. “A gente não tem nenhum dado concreto, mas fala-se aí acima de 10 GW para esse leilão”, complementou.
Transmissão vista com cautela
O entusiasmo com o leilão de reserva de capacidade contrasta com a cautela da Copel diante do setor de transmissão, que também deverá ter um leilão no segundo semestre do ano. A Copel não deve participar do certame, pois não vê aderência entre os produtos oferecidos e a atuação da companhia.
“De maneira geral, a gente tem que olhar com bastante cautela o segmento de transmissão, porque você tem vistos aqui retornos históricos cada vez mais baixos”, declarou Daniel Slavieiro.
Acordo da Eletrobras e atividades no mercado
Na teleconferência sobre o primeiro ano completo após a privatização que estabeleceu a gestão da companhia sob o modelo de corporation, a Copel celebrou o acordo entre a União e a Eletrobras, divulgado também nesta sexta-feira.
“Nós reputamos isso como muito positivo, não só porque garante e fortalece o modelo da corporação, com limite de 10% de votação do capital, mas também como destrava muito valor para a maior empresa do setor de energia elétrica”, avaliou o presidente da Copel.
Na teleconferência, a diretoria da empresa também comentou seus últimos movimentos de vendas de ativos, como o swap de ativos com a Eletrobras e, mais recentemente, a aquisição e venda da UHE Baixo Iguaçu e a alienação de pequenas centrais hidrelétricas (PCHs).
Segundo os executivos, as transações fazem parte de uma estratégia de simplificação de portfólio, com priorização dos ativos de maior porte. Depois das últimas transações, entretanto, a Copel avalia que os principais movimentos já foram feitos.
“Tem ainda poucos ativos em que nós temos participações minoritárias, nós estamos atentos, mas eles são menores e menos relevantes para esse tamanho de transação”, ponderou Slavieiro. Entre as possíveis oportunidades, estão “descruzamento em algumas transmissoras, em que a Copel tem 49% ou 24,5%”, segundo o presidente da Copel.
Uma eventual avenida de expansão pode ser pela distribuição, pois a Copel avalia que tem desenvolvido uma boa expertise em operação, atendimento a clientes e recomposição das redes diante de efeitos climáticos. “Também é um segmento em que nós vemos como muito estável”, avaliou Slavieiro. Entretanto, o executivo reconhece que, atualmente, não há muitas oportunidades na área.
Curtailment
Apesar de ter a maior parte de seu parque gerador em usinas hídricas, que correspondem a 82% do seu portfólio, a Copel também foi afetada pelo curtailment. “Tem um impacto bastante limitado, mas ninguém gosta de ver recursos sendo desperdiçados ou deixando de entrar na companhia”, comentou Daniel Slavieiro.
A companhia avalia que o curtailment “veio para ficar”, mas que é importante uma classificação dos critérios de indisponibilidade elétrica e questão energética, que poderão abrir caminho para a compensação de geradores.
No quarto trimestre de 2024, o curtailment nos parques eólicos da Copel atingiu 13% da produção, contra 8% no ano anterior. A geração eólica também foi impactada por recursos abaixo do esperado, “especialmente em parques onde a gente tinha boas condições comerciais”, comentou o diretor da Copel geração e Transmissão, Fernando Mano.
Comercialização
As fontes intermitentes também provocaram impactos no segmento de comercialização da Copel, que teve menor margem nos contratos em função da variação de preço entre os submercados, “causada especialmente pela geração a partir de fontes intermitentes, com impacto de aproximadamente R$ 18 milhões”, explicou o diretor Financeiro da companhia, Felipe Gutterres.
Mesmo assim, a companhia se disse satisfeita com a estratégia de comercialização implementada, e agora aproveita as janelas de volatilidade com a tendência de alta os preços.
A empresa também disse que restringiu ainda mais o crédito a comercializadoras depois dos eventos do final de 2024. “Não adianta você vender e depois ter um problema como esse”, disse Slavieiro. “Copel, como uma grande geradora, é muito cautelosa e atenta a isso, mas nós estamos conseguindo aproveitar essas oportunidades e essas volatilidades para poder ir alocando um pouco da nossa energia ainda descontratada e gerando valor”, finalizou.
Resultados
No quarto trimestre de 2024, a Copel registrou lucro líquido de R$ 575,2 milhões, o que representou uma redução de 39% na base anual. O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) foi de R$ 1,3 bilhão, com avanço de 15,7% em relação ao mesmo período de 2023. A receita operacional líquida totalizou R$ 6 milhões no trimestre, um crescimento de 8,1% em relação ao registrado um ano antes.
O segmento de geração e transmissão registrou lucro líquido de R$ 249,3 milhões, com retração de 51,7% em um ano. No segmento de distribuição, o lucro líquido aumentou 67% entre o quarto trimestre de 2023 e o de 2024. A Copel Comercialização registrou prejuízo de R$ 3,1 milhões no trimestre, revertendo lucro de R$ 24,7 milhões no ano anterior.