O primeiro leilão de cessão de área da eólica offshore deve ocorrer no modelo independente, com as empresas demonstrando interesse em determinada área para que o governo faça uma espécie de “oferta pública” do local. Para Elbia Gannoum, presidente executiva, Abeeólica, a tendência é que a modalidade esteja consolidada antes da elaboração do modelo pelo governo.
“A cessão pode ser independente ou concedida, que é quando o governo vai estudar as áreas. Não vemos sentido no último modelo, porque pode levar uns seis anos para o governo estudar um local. No independente, o mercado olha uma área, acha interessante e depois indica para o governo fazer um leilão, ou uma chamada pública, que é obrigatório para ser um processo transparente”, falou a executiva para jornalista após painel no Energyear 2025, evento promovido em São Paulo nesta quinta-feira, 6 de fevereiro.
Gannoum dividiu o palco com outros especialistas do setor, abordando a crise da indústria eólica devido à baixa demanda e das altas dos juros e do dólar, além da baixa no número de contratos. Para ela, o leilão é um dos primeiros passos que o Brasil precisa dar para ajudar a reerguer o segmento e, por isso, a associação contratou uma consultoria para realizar estudos a respeito e entregar os resultados para Ministério de Minas e Energia (MME).
“Estamos trabalhando fortemente para fazer um leilão de cessão e precisamos debater isso hoje, para pensarmos em contratar em 2028 e começar a gerar depois de 2030. Temos o marco legal do hidrogênio e estamos percebendo alguns contratos já sendo assinados. Tem a indústria de data center e inteligência artificial que também vai demandar muita energia. Estamos em um momento de inovação e precisamos preparar o país para isso”, falou a executiva.
Ricardo de Luca, country director no Brasil da Corio Generation, acrescentou que, hoje, não há “visão nenhuma de contratação de energia”, sendo necessário gerar novas demandas.
“Nós, desenvolvedores, estamos há quase três anos gastando muito dinheiro sem ter nem regramento. Foi muito angustiante a aprovação do projeto de lei, e também muito importante. Agora, nesse ano, também tem que acontecer alguma coisa de concreto. Estamos trabalhando bastante para pelo menos ter um anúncio de leilão esse ano. A COP30 é um marco para a gente, no sentido que alguma coisa vai acontecer, ou vai ter um leilão ou o anúncio dele”, disse Luca.
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Infraestrutura para eólica offshore
Para o executivo, a pavimentação de um futuro leilão é essencial para o desenvolvimento da indústria, que demandará equipamentos mais caros para fazer a montagem de turbinas em alto mar.
Em complemento, Fernando Elias, diretor de Regulação e Comercialização da Casa dos Ventos, destacou a importância da antecipação da infraestrutura para atender este novo mercado. Além disso, sugeriu que a realização de um certame deveria considerar algumas áreas específicas para ser possível realizar melhorias futuras em locais maiores.
“A COP30 vai ter viés de expor o Brasil como um país que pode descarbonizar outros, devido a sua matriz, isso é reconhecido, é um potencial, mas tem que ser aproveitado. Hoje, temos mapeado locais potenciais e o governo não precisa se antecipar para cobrir 5% desse potencial. Nós temos potencial de 20 GW, por exemplo, vamos escolher onde tem os melhores 2 GW e vamos nos dar o ‘luxo’ de poder errar ali. A questão é que não podemos deixar que algum projeto não vingue, porque a infraestrutura não chegou lá”, pontuou Elias, destacando o histórico do Brasil de realizar construções de projetos e depois “cobrir os gargalos” de infraestrutura.
Visão de investidores
Com questões ainda pendentes e um mercado eólico em crise nos últimos dois anos, Renato Machado dos Santos, diretor regional de Serviços Latam da britânica RES, disse que o investidor precisar ter “estômago” para investir recursos agora e colher no longo prazo.