Operação e Planejamento

ONS terá apenas 45% da capacidade instalada sob controle direto até 2029

Sala de controle do ONS
Sala de controle do ONS

O Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apresentou à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) a proposta para implementação do modelo de gestão descentralizada da rede, por meio do chamado Distribution System Operator (DSO, na sigla em inglês). O objetivo é lidar com os crescentes desafios causados pela inserção de fontes renováveis intermitentes e pelo avanço da microgeração e minigeração distribuída (MMGD) no sistema elétrico brasileiro.

DSOs são gestores da rede elétrica local que otimizam o fluxo de energia em duas vias, equilibrando a eletricidade das grandes usinas com a gerada por painéis solares e outras fontes distribuídas, por exemplo.

Segundo Marcelo Prais, assessor da Diretoria de Planejamento do ONS, a adoção de um modelo de DSO é uma medida estratégica, considerando que o operador terá apenas 45% da capacidade instalada sob seu controle, via despacho centralizado, até 2029.

“Teremos apenas 45% da capacidade instalada sob controle direto até dezembro de 2029. Isso significa que não teremos o mesmo nível de controle que hoje exercemos sobre térmicas ou hidrelétricas. No entanto, isso não implica necessariamente em perda de controle efetivo”, disse Prais durante sua participação no evento Smart Grid 2025, realizado nesta segunda-feira, 4 de agosto, em São Paulo.

Como vai funcionar a operação dos recursos descentralizados

A proposta se inspira no modelo do Reino Unido, onde o operador da rede se comunica com o DSO, que conhece e aciona os recursos energéticos distribuídos (REDs) em cada região. Assim, ao identificar a necessidade de ajuste na operação, o ONS acionaria o DSO para reduzir ou aumentar a geração de forma coordenada, segura e transparente.

De acordo com Prais, o DSO ideal seria um novo agente no setor elétrico, independente das distribuidoras, frequentemente apontadas como “executoras naturais” da função.

“Por vezes, um mesmo grupo econômico exerce duas funções. Aí surge a dúvida: qual recurso ele vai despachar ou cortar? Se o grupo tiver dois CNPJs, isso até poderia ser feito, mas a regulação precisa ser muito robusta”, afirmou.

Na visão do ONS, a criação do DSO trará benefícios a todos os agentes do setor elétrico, promovendo maior segurança e eficiência na operação do sistema, além de fomentar inovações. Entre os destaques, estão a inserção de baterias, veículos elétricos e novos sistemas, além de uma distribuição “democrática” dos cortes na geração.

“O ONS conversaria exclusivamente com o DSO, que representaria todos os recursos energéticos individuais ou por meio de agregadores. Estes, por sua vez, poderiam oferecer volumes e preços conforme os requisitos técnicos definidos pelo operador. O modelo pode ajudar a evitar apagões, reduzir custos operacionais e acelerar a transição energética”, afirmou.

Segundo Prais, a figura do DSO será essencial para acompanhar as transformações do setor elétrico nacional, oferecendo serviços de flexibilidade e ajudando o ONS a lidar com o aumento da participação de fontes intermitentes. As projeções indicam uma rampa de carga que pode chegar a 52 GW até 2029.

Impacto no curtailment e maior justiça na gestão de cortes

O assessor também destacou que o DSO poderá ajudar a democratizar os cortes de geração em projetos renováveis. De acordo com o ONS, o curtailment deve crescer inclusive por razões energéticas, com projeção de até 20 GW de cortes durante o dia. Desse total, 96% dos eventos seriam motivados por razões estritamente energéticas.

“Com o DSO, é possível democratizar esses cortes e preservar a confiabilidade da rede. Passamos a fazer um uso mais eficiente dos recursos energéticos, conforme a necessidade do sistema. Também temos a questão do serviço ancilar. Além disso, trata-se de uma questão de justiça, por que os cortes ficam concentrados apenas nas usinas centralizadas e hidrelétricas, enquanto a geração distribuída cresceu de forma acelerada nos últimos anos?”, questionou Prais.

>> Revisão quadrimestral da carga eleva MMGD prevista para 2029 

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