Depois de cerca de dois anos com preços de energia abaixo do custo marginal de expansão (CME), os contratos estão voltando a ser negociados na faixa de R$ 150/MWh para 2027 e 2028, de acordo com Fábio Zanfelice, presidente da Auren Energia.
Em participação no Latim America Investment Conference (Laic), evento realizado pelo UBS em São Paulo nesta terça-feira, 30 de janeiro, Zanfelice disse que no longo prazo os preços estão mudando “rapidamente”, devido à uma combinação de fatores que envolve um período chuvoso abaixo da média histórica, e a volatilidade de preços causada pelo crescimento da geração renovável não despachável.
“Não temos preocupação com o cenário hídrico agora, porque o armazenamento está alto, em 60%, mas já é um movimento que demonstra que o preço não é R$ 130/MWh, ele precisa se alinhar ao custo marginal de expansão para ter uma expansão sustentável”, disse Zanfelice.
Também conhecido como custo “do próximo MWh”, o CME é um termo técnico para o custo da adição de uma unidade de demanda de energia média mensal.
As declarações do executivo confirmam o que disseram Daniel Slaviero, presidente da Copel, e Eduardo Haiama, vice-presidente financeiro da Eletrobras, que participaram de painel no mesmo evento pela manhã, quando afirmaram que as necessidades do sistema com o aumento das renováveis não despacháveis estão incentivando um aumento nos preços no médio a longo prazo.
Segundo Zanfelice, os preços baixos reduziram a oferta de contratos de compra de energia (PPAs, na sigla em inglês) atrativos para viabilizar projetos, então passado esse momento de conclusão de obras contratadas no passado, com desconto pelo uso da rede, a expansão da matriz vai exigir um aumento dos preços.
Vertimento de renováveis
Outro ponto que impulsiona a recuperação dos preços é o curtailment, termo do setor para redução deliberada da geração das renováveis para equilibrar a oferta e a demanda, seja por falta de demanda, seja por gargalo de transmissão.
A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) prevê regras para esses casos em geração eólica e solar, quando há o constrained-off, a indenização a que esses geradores têm direito pela não geração determinada pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). As empresas não são ressarcidas na integridade da energia não gerada, o que leva a perdas financeiras.
Para Frederico Sarmento, que comanda a área de energia renovável no Pátria, as incertezas relacionadas ao curtailment também aumentam os riscos e ajudam a puxar os preços de energia desses projetos para cima.
O Pátria é dono da Essentia Energia, que tem 1,5 GW de geração instalada, segundo Sarmento. “Os parques solares da Bahia têm sofrido curtailment material mais recentemente, grande parte aos finais de semana por falta de demanda”, disse. Segundo ele, há pelo menos R$ 5/MWh embutidos nos preços de energia dos projetos renováveis por conta da expectativa de curtailment.