Descarbonização

Shell desiste de investir em eólicas offshore e hidrogênio verde

Segundo presidente da Shell Brasil, decisão sobre eólicas offshore ocorreu em razão da escalada de custos e dificuldades na cadeia de suprimentos

Foco da companhia no Brasil está no desenvolvimento de novos projetos de óleo e gás
Foco da companhia no Brasil está no desenvolvimento de novos projetos de óleo e gás | Foto: Divulgação

Com 7,9 GW em projetos potenciais de eólicas offshore na América do Norte, Europa, Reino Unido e Ásia, além de 17 GW em pedidos de licenciamento ambiental protocolados junto ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) no Brasil, a Shell não deve realizar novos investimentos na fonte.

Segundo o presidente da Shell Brasil, Cristiano Pinto da Costa, trata-se de uma decisão estratégica da companhia que vale para todos os países em que opera. A explicação envolve a escalada nos custos de produção, as dificuldades na cadeia de suprimento e os prazos mais alongados dos projetos.

“Quando você expande uma nova indústria, você lida com desafios que talvez você não identificava antes”, disse o executivo a jornalistas nesta terça-feira, 7 de janeiro. “O custo para desenvolver um projeto cresceu demais”, complementou.

Custo alto e baixa competitividade

No Brasil, apesar da boa competitividade de projetos de eólica offshore em função do alto coeficiente de capacidade dos ventos, atualmente a eólica onshore e solar onshore se mostram mais competitivas, disse o executivo.

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Mesmo assim, não há previsão para desenvolvimento dos cerca de 3 GW que a Shell tem em projetos de energia solar no Brasil. “Não tem nada em operação no momento, o mercado brasileiro hoje vive um suprimento enorme de projetos. Você consegue hoje comprar energia solar de uma terceira parte, porque o mercado investiu muito nos últimos anos, mais barato que você desenvolver a sua própria geração”, disse Cristiano Pinto da Costa.

Em 2023, a Shell Brasil comprou a comercializadora de energia Prime Energy. Segundo o presidente da Shell Brasil, ao final do primeiro ano da transação, as metas de venda, volume e receita foram atendidas.

Segundo reportagem da Reuters, a decisão de suspender novos investimentos em eólica offshore está relacionada a uma nova estratégia global apresentada em 2023 voltada para redução de custos e mais foco nas atividades de maior retorno – o que, muitas vezes, significa reduzir os investimentos em tecnologias renováveis e de baixo carbono, com aumento nas atividades de óleo, gás e biocombustíveis.

Novos projetos de hidrogênio também são suspensos

Cristiano Pinto da Costa também informou que a Shell não planeja investir em novas plantas de hidrogênio, depois de decidir investir em uma planta na Holanda com capacidade de 200 MW e que deve produzir 80 toneladas de hidrogênio por dia.

“A Shell está construindo um dos maiores eletrolisadores da Europa. A estratégia global é ao invés de abrir cinco, dez, 15 frentes no mundo como um todo, deixa eu concentrar nas frentes que já foram abertas. Terminar a construção dessa planta de hidrogênio, botar um negócio para funcionar, aprender com os erros e com os acertos”, disse o executivo.

Segundo ele, mesmo com os incentivos europeus houve desafios em relação ao preço da molécula. O negócio foi viabilizado tendo a própria Shell como cliente, na estratégia de descarbonizar suas emissões de escopo 1 e 2 no refino e plantas petroquíicas. “Nenhum cliente da Shell esteve preparado para fazer um contrato de longo prazo comprando hidrogênio, porque as contas não fechavam”.

No Brasil, isto também significa que projetos de hidrogênio estão paralisados. A companhia tinha um projeto de pesquisa e desenvolvimento (P&D) com o Porto do Açu, para uma planta de 10 MW de capacidade. “A gente deu uma pausa nele. Hoje a gente não tem nenhum projeto de hidrogênio no Brasil, a não ser estudos mais acadêmicos”, disse Cristiano Pinto da Costa.

Entre os projetos que continuam em atuação, está um projeto-piloto em parceria com a Universidade de São Paulo (USP) que testa a viabilidade técnica e comercial de converter etanol em hidrogênio para as frotas de ônibus que circulam dentro da universidade.

Em óleo e gás, decisão final sobre projeto no Brasil deve sair até abril

Já em óleo e gás, os projetos continuam se desenvolvendo. A Shell Brasil planeja tomar a decisão final de investimento sobre o projeto de Gato do Mato, na Bacia de Santos, até abril. “Eu estou trabalhando com o cenário onde a gente vai tomar a decisão afirmativa”, declarou Cristiano Pinto da Costa. O projeto prevê um FPSO de 120 mil barris de óleo equivalente por dia.

Segundo o executivo, o reservatório é muito rico em gás, e as discussões sobre a decisão final de investimento envolvem o que fazer com a molécula, que pode ser exportada para a costa, após um período com reinjeção de gás para privilegiar a produção de petróleo. Gato do Mato é operado pela Shell, que tem 50% de participação, em parceria com a EcoPetrol e TotalEnergies, além da Pré-Sal Petróleo (PPSA).

Na Bacia de Campos, a companhia planeja a perfuração do prospecto chamado Ariranha, no bloco C-M-659, também entre o primeiro e segundo trimestre de 2025. 

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