
A expansão da inteligência artificial e das fontes renováveis pode pressionar o sistema elétrico dos Estados Unidos (EUA) e levar a um aumento no número de ‘apagões’ nos próximos cinco anos. A análise consta em relatório divulgado pelo Departamento de Energia dos EUA (DOE), que alerta para um possível crescimento de até 100 vezes no número de interrupções no fornecimento de energia até 2030, caso o país não reverta o fechamento de usinas de geração firme.
O documento foi publicado nesta segunda-feira, 7 de julho, mesmo dia em que o presidente Donald Trump assinou decreto determinando que as agências federais reforcem as disposições da nova lei de cortes de impostos e gastos. A norma revoga e altera créditos fiscais para projetos de energias renováveis, armazenamento de energia, entre outros.
Chamada de The One, Big Beautiful, Bill (OBBB), a regulamentação estabelece que empresas que iniciarem a construção de projetos renováveis ainda em 2025 poderão se qualificar para o crédito fiscal integral. O benefício cairá para 60% em 2026, 20% em 2027, e será encerrado em 2028. Pela legislação anterior, desenvolvedores de projetos poderiam reivindicar crédito fiscal de 30% até 2032.
Sistema elétrico sob pressão
De acordo com o DOE, o sistema elétrico norte-americano não está preparado para suportar o impacto combinado do aumento da demanda, impulsionado por centros de dados, com o fechamento de usinas de geração firme, a demora na construção de linhas de transmissão, e a crescente dependência de fontes intermitentes, como a solar e a eólica.
A previsão é que, até 2030, serão necessários 100 GW adicionais de capacidade de geração nos horários de pico para atender à demanda do país, sendo 50 GW diretamente ligados à operação de centros de dados para inteligência artificial.
Esse volume pode ser atendido com a entrada em operação prevista de 209 GW, dos quais apenas 22 GW são de fontes firmes. Em contrapartida, está prevista a desativação de 104 GW de capacidade firme até o mesmo período.
“O crescimento da demanda de carga está acelerando em um ritmo não visto há décadas. A indústria de infraestrutura energética, acostumada a um crescimento moderado ou nulo da carga, precisa inovar para acompanhar essa nova demanda. Além disso, verificamos que o risco de apagões aumenta mais de 30 vezes em algumas regiões, provando que a fila de novos projetos, por si só, não é suficiente para fechar o déficit de capacidade confiável”, diz trecho da análise.
Alerta sobre confiabilidade
Segundo o departamento, representantes de empresas do setor de energia alertaram o Congresso dos EUA que o sistema está sob “pressão crescente” e que, sem mudanças estruturais urgentes, a confiabilidade do fornecimento está ameaçada.
“Nos próximos anos, a reindustrialização e a corrida global da IA exigirão um suprimento significativamente maior de energia confiável, contínua e ininterrupta. Se quisermos manter as luzes acesas, vencer a corrida da IA e evitar que os preços da eletricidade disparem, os Estados Unidos precisam liberar o potencial da energia americana”, afirmou Christopher Allen Wright, secretário de Energia dos EUA.
Caminhos em análise
De acordo com o DOE, geradores de energia avaliam a construção de novas térmicas a gás natural para atender à demanda nos horários de pico, enquanto outros analisam a implantação de pequenos reatores nucleares (SMRs) como possíveis soluções para fornecimento de energia 24 horas por dia, 7 dias por semana.
O departamento também defendeu uma rápida expansão da infraestrutura energética, com a simplificação de processos de licenciamento ambiental, como forma de garantir segurança energética e atender à nova demanda nacional.