Eólicas

Aeris projeta mercado de 2,5 GW a partir de projetos com prorrogação de descontos fio

Aeris-complexo-portuario-do-Pecem.-Divulgacao
Aeris/ Divulgação

A prorrogação do desconto na tarifa pelo uso da rede para 11,4 GW de projetos eólicos pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) nesta semana é um bom indicativo de retomada para o mercado doméstico, mas só depois de 2025, afirmou Alexandre Negrão, CEO da fabricante de pás Aeris Energy em teleconferência com investidores nesta quinta-feira, 8 de agosto. Contudo, para o executivo, apesar do aval da autarquia, os últimos três anos foram desafiadores para o setor, sendo “evidente a necessidade de uma política setorial”.

A aprovação da Aneel contempla os empreendimentos renováveis que terão direito à prorrogação de 36 meses para a entrada em operação mantendo o desconto na tarifa pelo uso da rede, conforme a Medida Provisória (MP) 1.212. Dos 601 projetos que receberam resposta favorável, totalizando 25.521 MW de potência, 284 usinas são eólicas, somando 11.400 MW – sendo que apenas 2.165 MW, em 54 projetos eólicos, estão com obras em andamento e 8.955 MW, ou 223 parques, ainda não iniciaram as obras.

“Esperávamos algo entre 10 GW e 14 GW, mas entrou 11 GW, que vão ser comissionados nos próximos cinco anos no mínimo. Então, nós estamos falando que teremos um mercado de 2,5 GW neste horizonte.  Acredito que, talvez, o mercado brasileiro neste ano e no próximo será menor e só depois deste período teremos uma retomada. O aval da Aneel é um bom indicativo e nos dá uma visibilidade boa para poder trabalhar nos próximos anos”, disse Negrão.

Segundo o executivo, as geradoras não têm assinado novos contratos e os parques em construção, assim como os projetos recentemente anunciados, são acordos fechados há mais de dois anos. Entretanto, o contexto de transição energética tem demonstrado a necessidade de a demanda energética ser suprida por fontes renováveis.

CONTINUA DEPOIS DA PUBLICIDADE Minuto Mega Minuto Mega

“É evidente a necessidade de uma política setorial e, para isso, a Abeeolica [Associação Brasileira de Energia Eólica] em conjunto com a Abimaq [Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos] estão discutindo com o governo uma lista de medidas potenciais para incentivar novos contratos e reaquecer toda a cadeia produtiva”, afirmou o CEO da Aeris.

‘Trunfo’ da Aeris é nos EUA

Com os desafios enfrentados no Brasil, a empresa diz que manterá sua “confiança” e apostará na falta de pás no mercado externo, devido à alta demanda depois das políticas implementadas, principalmente nos Estados Unidos (EUA), como o seu “grande trunfo” nos próximos.

De acordo com o executivo, os Estados Unidos encerrou em julho deste ano a definição de medidas no Inflation Reduction Act (IRA), lançado em agosto de 2022, o que causou um atraso na entrada de pedidos de pás.

“Acho que esse vai ser o grande triunfo para Aeris nos próximos anos. O mercado dos EUA deve dobrar ou até triplicar de tamanho nos próximos anos e vai faltar pás. Hoje, o mercado americano é abastecido basicamente pelos Estados Unidos e pelo México, e isso vai começar a mudar conforme essa demanda for aumentando. Esperamos que essa demanda venha para o Brasil e para a Índia. Nós acreditamos que nos próximos cinco anos, o crescimento da Aeris vai ser guiado pelo mercado externo”, defendeu Negrão.

Em entrevista à MegaWhat em junhoJosé Azevedo, diretor Financeiro e de Relações com investidores da empresa, explicou que expectativa de que o mundo fique sem pás é explicada pelos compromissos firmados no âmbito da COP28 e do Acordo de Paris pelos países, o que pode “subir os pedidos, mesmo que não venha tudo [de uma vez]”.  Como parte da sua estratégia, a fabricante de pás anunciou em junho que tem estudado uma possível entrada no país e na Europa.

Aposta dupla em serviços

Enquanto traça sua estratégia no exterior e em meio a desafios no mercado doméstico, a Aeris vem readequando a sua estrutura para atender a baixa demanda de mercado depois de apresentar uma redução de receita de 48,6% no segundo trimestre de 2024 em relação ao mesmo período do ano anterior, apresentando um montante de R$ 422,2 milhões.

Segundo a companhia, o desempenho foi impactado pela venda de pás no mercado doméstico (R$ 388,8 milhões), que somou uma produção de 496 MW equivalente. A empresa não teve vendas no período para o mercado externo, mas, segundo Negrão, a expectativa é alcançar uma receita 50/50 em ambas as regiões nos próximos anos.

Além de equalizar as vendas, a Aeris tem ampliado a unidade de serviços, que anteriormente representava menos de 2% da receita líquida e agora ultrapassa 7%, com potencial para superar 10%, segundo Negrão. No segundo trimestre, a área somou R$ 33,4 milhões em sua receita líquida.

“Operamos a área de serviços no Latam, que engloba o Brasil, Argentina, Colômbia e México, e nos EUA. O mercado norte-americano é cerca de dez vezes maior que o mercado brasileiro, então tem uma capilaridade muito maior e mais concorrência, mas tem um volume muito grande.  Estamos crescendo de forma orgânica nos EUA ano a ano. Por isso, acreditamos que o service em conjunto com a demanda do mercado americano é uma grande oportunidade para a empresa, mas o mercado brasileiro com a service também é importante”, disse o executivo.

Resultado Aeris

A fabricante de pás eólicas registrou prejuízo líquido de R$ 3,1 milhões no segundo trimestre de 2024, redução de 66,9% ante o prejuízo reportado no mesmo período de 2023, de R$ 9,4 milhões.

Também houve uma queda de 48,6% na receita líquida, que chegou a R$ 422,2 milhões na etapa ante os R$ 821,1 milhões do segundo trimestre do ano passado.

O lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, da sigla em inglês) ajustado do período foi de R$ 70,6 milhões, diminuição de 31,3% ante o resultado obtido um ano antes.

Apesar da queda na comparação anual, o Ebitda apresentou um crescimento de 66,1% na comparação com o primeiro trimestre do ano. Segundo a empresa, a melhora no desempenho é justificada pelo câmbio, redução nos custos de matéria-prima e aumento na produtividade, levando uma maior eficiência operacional no trimestre. Houve ainda efeitos não recorrentes como o início da produção (ramp-up) de um projeto junto à Vestas.

A alavancagem, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda, alcançou 2,8 vezes, maior que as 2,6 vezes verificada na mesma fase de 2023. Segundo José Azevedo, o objetivo atual da empresa é “desalavancar o máximo possível para voltar a crescer”.

Já as potenciais ordens cobertas por contrato de longo prazo totalizaram 2.560 sets de pás com potência equivalente de 11,3 GW. OS contratos de longo prazo da companhia totalizaram R$ 9,5 bilhões.

A empresa finalizou o segundo trimestre com dez linhas de produção e todas com status de maduras. No próximo trimestre está previsto o descomissionamento de duas linhas e a instalação de duas novas linhas, com previsão de amadurecimento dentro de 12 meses.