Os problemas relacionados aos cortes deliberados da geração de energia em empreendimentos das fontes eólica e solar fotovoltaica não têm uma solução “rápida e imediata”, e precisam ser discutidos com a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) de forma ampla para se chegar a uma resposta, disse Fábio Zanfelice, presidente da Auren, em teleconferência sobre os resultados da empresa no primeiro trimestre do ano.
O chamado curtailment acontece quando o Operador Nacional de Energia Elétrica (ONS) determina a interrupção da geração desses empreendimentos por razões não relacionadas às usinas, como impossibilidade de alocação da geração na carga, indisponibilidade da rede de transmissão ou atendimento a requisitos de confiabilidade elétrica.
As normas estabelecidas pela Aneel determinam que os geradores devem assumir os custos dos cortes causados na maior parte das vezes, exceto quando são relacionados à indisponibilidade externa, mas há franquias de horas que limitam o período em que os custos podem ser alocados aos consumidores por meio de encargo setorial.
No segundo trimestre do ano, os impactos do curtailment nos parques eólicos da Auren representaram 1,2% da geração, enquanto da fonte solar o peso foi de 5,8%, Os dois números foram menores que a média do país, de 4,8% para eólica e 7,6% para solar.
Segundo Zanfelice, um ressarcimento dessa frustração de geração por meio de encargos setoriais também não resolveria a situação.
Curtailment, o novo GSF
“Acho que o curtailment precisa ser discutido também à luz do GSF, porque o primeiro impacto que houve no setor em relação ao deslocamento de fonte foi de hidrelétrica. O que vemos agora é deslocamento de fonte por falta de demanda, e a geração centralizada está sendo deslocada também pelo efeito da geração distribuída”, afirmou.
Tentar uma solução para o problema das fontes eólica e solar, sem olhar para o todo do setor elétrico, não resolveria a situação. “Por esse motivo, acho que é uma discussão que vai levar mais tempo”, disse, completando que é uma questão conjuntural, relacionada à sobreoferta de energia existente hoje no sistema.
Um dos destaques da teleconferência da Auren foi a atualização do cronograma da integração das operações com a AES Brasil, que deve ser concluída em outubro deste ano.
A questão do curtailment também pesou sobre os números da AES, que teve uma redução de cerca de 6% na sua geração no trimestre, ou 91,8 GWh, sendo 34,6 GWh apenas no complexo de Cajuína.
Segundo Zanfelice, como a AES ainda está operando de forma independente, é preciso analisar melhor a situação para compreender o que pode ser feito. “Porém, entendemos também que isso é um momento conjuntural de um projeto que está entrando em operação, tem todo o processo de estabilização do parque”, disse.
Lucro menor e receita maior
No segundo trimestre do ano, a Auren teve lucro líquido de R$ 91,1 milhões, retração de 50,2% na comparação com o mesmo período do ano passado, refletindo, entre outras questões, a piora do resultado financeiro do trimestre. Isso aconteceu porque o segundo trimestre de 2023 considerou a contabilização da indenização que a companhia vai receber pela devolução da hidrelétrica de Três Irmãos.
O resultado financeiro líquido saiu de um saldo negativo de R$ 24,5 milhões entre abril e junho do ano passado para -R$ 136,1 milhões no mesmo período de 2024.
A receita líquida, na mesma base de comparação, ficou praticamente estável, com alta de 0,9%, a R$ 1,45 bilhão. O desempenho foi afetado negativamente pela redução de 7% na receita de geração hidrelétrica, por conta da redução dos preços registrados no período, pelo encerramento de contratos de longo prazo com preços superiores aos de mercado.
Já o resultado antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) caiu 13,1%, a R$ 398,1 milhões, por conta da reversão de processos judiciais no segundo trimestre deste ano em valores menores que os registrados no mesmo período do ano passado.