A sobreoferta de energia no país reduziu a atratividade de investimentos para novos projetos de geração energia na Engie. Segundo o presidente da companhia no Brasil, Eduardo Sattamini, há restrições para projetos deste tipo em função do excesso de energia provocado pelos subsídios a fontes que não precisariam mais de incentivo, como eólica e solar. A falta de demanda na região Nordeste e as dificuldades para escoamento da energia gerada para os centros consumidores agravam o problema.
“Não quer dizer que não vamos retomar esse investimento tão logo as condições sejam restabelecidas. Mas precisamos ter um pouco mais de cuidado com o setor de geração hoje”, disse o executivo nesta segunda-feira, 21 de outubro, no Fórum Transição Energética organizado pela Veja Negócios.
Por outro lado, Sattamini avalia que há grandes oportunidades no setor de transmissão, justamente para escoar a energia produzida no Nordeste para os centros consumidores. A Engie arrematou o maior lote no segundo leilão de transmissão deste ano, com investimento de R$ 282,5 milhões. “O grupo continua comprometido com o Brasil, 20% do resultado global vem daqui”, disse o executivo.
Transparência
No painel, o presidente da Siemens, Pablo Fava, avaliou que falta ao Brasil dar mais ‘transparência’ à sua matriz energética com grande participação de fontes renováveis. Em sua análise, países mais industrializados, como China ou Estados Unidos, não têm interesse em avançar nesta discussão por terem economia com maior pegada de carbono. Por isso, caberia ao Brasil começar esta agenda.
“A neoindistrualização não é política de governo, é política de Estado. O resultado disso não vai ficar para esse governo. A transformação realmente está acontecendo, falta saber vender isso para fora do Brasil”, disse Fava.
Eólicas offshore e mercado de carbono
O secretário de Economia Verde, Descarbonização e Bioindústria do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Rodrigo Rollemberg, comentou sobre avanços no setor de energia, como a aprovação do projeto de hidrogênio verde da Fortescue na Zona de Processamento de Exportação (ZPE) do Complexo do Pecém, no Ceará.
O secretário também reconheceu atrasos, como a legislação para o mercado de carbono. “Estamos pelo menos um ano atrasados. Nossa expectativa era de ter essa legislação aprovada na COP do ano passado”, disse. Agora, segundo o secretário, o governo espera a aprovação até o início de novembro.
Rollemberg também comentou sobre o marco legal das eólicas offshore. Segundo ele, o assunto é entendido como importante por parlamentares de diferentes matrizes políticos, mas recebeu ‘contribuições’ na Câmara dos Deputados que atrapalham sua aprovação.
“O governo tem consciência de que a aprovação do PL do jeito que está vai onerar o consumidor e isso não é interesse do governo”, disse.