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Fim de subsídios demandará evolução de modelo de negócios de GD, diz GreenYellow

Presidente mundial da empresa, Otmane Hajji, fala sobre adaptações planejadas e investimentos no Brasil

Presidente mundial da GreenYellow, Otmane Hajji (Divulgação)
Presidente mundial da GreenYellow, Otmane Hajji (Divulgação)

Os projetos de geração distribuída (GD) autorizados após o prazo de transição da Lei 14.300/2022, que gradualmente vão passar a pagar o custo de uso da rede de distribuição, ainda não são viáveis no Brasil. Segundo o presidente mundial da GreenYellow, Otmane Hajji, as empresas precisam avaliar os custos de investimentos feitos nas usinas e as tarifas de energia das distribuidoras locais para encontrar oportunidades competitivas para voltar a crescer.

Em entrevista coletiva realizada nesta quinta-feira, 19 de setembro, o executivo ponderou que a GD foi, na visão da GreenYellow, um modelo necessário para alcançar uma transição energética descentralizada no país, porém foi transitório, sendo crucial uma adaptação em seu modelo de negócio para continuar garantindo reduções na tarifa de energia para os consumidores finais.

“Há uma evolução nos modelos de negócios, especialmente, sobre a produção de energia descentralizada. Em GD II e III, nós pensamos que, com a baixa do capex e o aumento do preço da energia, talvez seja preciso um cálculo, a ser feito, para encontrar um equilíbrio e trazer uma viabilidade”, diz Hajji, se referindo aos projetos realizados no período de transição estabelecido pela lei.

Em complemento, mesmo estudando as possibilidades, a GreenYellow não vê a “conta fechando” nos projetos em GD II e III neste momento, disse Marcelo Xavier, presidente da empresa no Brasil.

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“Sempre estudamos, mas não vemos como continuar com esses projetos. Temos muita construção para fazer e entregar em GD I até metade de 2025, sendo aproximadamente 50 MW, distribuídos entre construção, implantação, conexão e com pareceres de acesso ainda não consolidados”, afirmou Xavier. Os projetos enquadrados como GD I são aqueles autorizados antes da lei de 2022, e terão direito à compensação integral dos créditos da energia gerada até 2045.

Solarização de clientes e empecilhos no Brasil

Dentro da evolução planejada no setor, Hajii pondera que as adaptações planejadas pela empresa envolvem o autoconsumo local, via instalação de painéis fotovoltaicos em telhados dos clientes com sistemas de armazenamento em baterias. Questionado sobre um prazo para implementação desta solução, o executivo não comentou.

Na visão do presidente global, a integração das soluções será viável por conta da redução dos preços ao longo dos anos. Em contraste, Hajii vê uma tendência global de aumento dos preços de energia em todo o mundo, decorrente, principalmente, de uma maior inserção de renováveis para atingir as metas climáticas, o que demandará, por exemplo, mais infraestruturas de escoamento e, consequentemente, aumento dos custos do transporte.

“É a partir daí que começa a fazer sentido a ideia de armazenamento. Para nós, o autoconsumo é uma forma de ter preços mais competitivos, aliviar a rede de transmissão e evitar conflitos com áreas com produção agrícola”, diz o executivo global.

Marcelo Xavier, líder da empresa no Brasil, ainda destacou aspectos que podem prejudicar o modelo de negócio da companhia, como a volatilidade do câmbio, já que a GreenYellow é francesa e há a necessidade de conversão do euro para o real, além da inflação, necessidade de melhorias na rede de distribuição e transmissão, e “uma série de barreiras para que o Brasil consiga desalavancar todo seu potencial renovável”.

“A gente vê leilões de térmica, ao mesmo tempo que o governo desconecta grandes usinas solares de geração distribuída e compartilhada.  Isso é uma política conflitante dentro das discussões de descarbonização”, disse.

Já Otmane Hajji sugeriu incentivos governamentais para acelerar o autoconsumo e citou como exemplo a obrigação de instalação de painéis solares em estacionamentos, com mais de 80 vagas, da França até 2028.

“Os telhados do Brasil são inadequados e, sem uma regulamentação, é muito difícil a gente tirar proveito de todas as superfícies. Precisaríamos de IPTU verde ou benefício fiscal para ajudar”, destacou Xavier.

Investimentos no Brasil

Em meados de abril, a empresa anunciou R$ 400 milhões destinados a projetos de geração solar e para soluções energéticas no Brasil em 2024.

Em GD solar, a meta é sair dos 144,8 MWp em usinas operacionais em 2023 para 270 MWp até o final de 2025. Para isso, pretende se dedicar aos setores comercial e industrial, com instalação de painéis fotovoltaicos em telhados e carpots (telhados de estacionamentos).

Em eficiência energética, a GreenYellow prevê alcançar os 25 GW em projetos neste ano, com a consolidação da presença da empresa no segmento de varejo alimentar. Segundo a empresa, em 2023 as soluções de eficiência energética possibilitaram a economia de 190 GWh de energia.

A companhia também está investindo em soluções de armazenamento, sobretudo em sistemas isolados, e desenvolve a prestação de serviços específica para o setor de mineração por meio da joint venture Green2Mine.

Além disso, a GreenYellow planeja retomar a oferta ao mercado de usinas solares em operação e com PPAs firmados. Segundo o presidente da companhia no Brasil, Marcelo Xavier, os processos de fusões e aquisições (M&As, na sigla em inglês) devem ocorrer até outubro.

“O Brasil responde por 20% do nosso resultado. Para nós, não é um país, é um continente, com um potencial enorme. Queremos investir R$ 400 milhões anualmente no Brasil e a nossa ideia é acelerar essa descentralização de energia e o investimento local. Apesar de alguns riscos, nós não temos problemas em investir aqui, devido ao desenvolvimento e a maturidade de nossos projetos no Brasil”, pontou o presidente mundial da GreenYellow, Otmane Hajji.

A empresa também possui uma comercializadora, que serve de apoio para os projetos de infraestrutura fotovoltaicos e de eficiência energética. Além disso, tem olhado para o setor de carregadores de veículos elétricos.

As compensações da GD

A resolução homologatória nº 3.169 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), elaborada em suporte à lei 14.300/2022, conhecida como marco legal da geração distribuída, estabeleceu novas tarifas para a modalidade.

Com a mudança, apenas as usinas existentes ou com pedidos de outorga protocolados até 7 de janeiro de 2023 mantiveram o desconto total da Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição (Tusd) Fio B. Além disso, estes geradores não têm nenhum desconto nas componentes tarifárias e podem recuperar da rede toda a energia que injetarem, sem abatimentos.

Estes benefícios são entendidos como “direito adquirido” das usinas que já estavam em operação ou com direito à conexão quando o marco legal da GD foi aprovado, e serão mantidos até 2045. Quem está enquadrado nestes termos é considerado GD I pela resolução homologatória Aneel nº 3.169/2022.

Os empreendimentos com conexões solicitadas a partir de 8 de janeiro de 2023 e que sejam menores de 500 KW, ou de autoconsumo local, são consideradas GD II. Para elas, incide Tusd Fio B progressivo a partir de 2023, começando com alíquota de 15% e aumentando 15% a cada ano. Projetos protocolados entre o 13º e o 18º mês de publicação da Lei 14.300 pagarão 90% da Tusd Fio B até 2030.

A GD III é composta por projetos com conexões solicitadas a partir de 8 de janeiro de 2023 e que tenham geração a partir de 500 KW para autoconsumo remoto ou geração compartilhada quando uma beneficiária tiver 25% ou mais dos créditos. Para estas usinas, a Tusd Fio B será cobrada integralmente, e incidem outras taxas como 40% da Tusd Fio A, 100% da Taxa de Fiscalização dos Serviços de Energia Elétrica (TFSEE) e a taxa de Pesquisa & Desenvolvimento (P&D).

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