Grandes consumidores

Conexão de hidrogênio e data centers não deve ocorrer no médio prazo, avalia MME

Hidrogênio - Getty Imagens
Hidrogênio - Getty Imagens

A conexão de grandes cargas à rede de transmissão, como hidrogênio verde (H2V) e data centers, não deve acontecer no médio prazo, avalia Guilherme Zanetti Rosa, diretor de Planejamento e Outorgas de Transmissão e Distribuição de Energia Elétrica e Interligações Internacionais do Ministério de Minas e Energia (MME).

“O mercado simplesmente explodiu num horizonte muito curto. É inacreditável o número em termos de demanda elétrica que eles projetam para os próximos anos, e aconteceu numa velocidade que o planejamento não conseguiu acompanhar. A rede não tinha ociosidade para isso. Se tivesse, era porque tinha planejado errado antes”, disse o diretor MME.

Segundo ele, o tempo regular do planejamento para expansão da rede é em torno de sete anos, sendo dois anos de planejamento e leilão de linhas, e mais cinco anos de obras das linhas.

No caso dos empreendimentos de hidrogênio verde e data centers, o primeiro passo para acomodação desta demanda adicional é o Relatório R1, que a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) deve concluir no final deste ano com a avaliação sobre a conexão de 4 GW de demanda extra de conexão no Nordeste. O documento deve trazer um parecer sobre a viabilidade de planejamento de expansão da transmissão na região. Com o parecer positivo da EPE, começam os trâmites de licitação e construção das linhas, com prazo médio de sete anos até a operação das estruturas.

Apesar do prazo de sete anos até a operação, os agentes já poderão contratar a conexão futura a partir do parecer positivo da EPE, explicou Rosa. “A partir do momento em que esse relatório de EPE estiver disponível oficialmente, não será preciso esperar o leilão para contratar o acesso. O ONS já poderá contratar esse acesso futuro”, disse Rosa a jornalistas nesta quinta-feira, 12 de junho, durante o Enase, no Rio de Janeiro.

Assim, os agentes que necessitam de conexão para grandes cargas, como data centers ou produtores de hidrogênio, poderão contratar junto ao ONS o acesso para a expansão futura, com início de conexão quando a rede estiver disponível.

‘4 GW é uma demanda avassaladora’

Atualmente, os projetos de hidrogênio verde no Nordeste projetam cargas bem superiores a 4 GW. O Ceará, por exemplo, contabiliza 10 GW em projetos de hidrogênio verde, dos quais metade deveria estar disponível até 2028, segundo o governador do estado, Elmano de Freitas. No Piauí, a Solatio busca aval para instalação de planta de 3 GW, e conta justamente com o Relatório R1 da EPE para conectar, incialmente, 1,5 GW até 2029.

“4 GW pode parecer pouco, mas é cerca de 4% da carga pico do sistema. É uma demanda avassaladora, que vai exigir uma expansão grande de transmissão para poder ser atendida. E é isso que a EPE está fazendo”, disse Rosa. “Envolvemos Casa Civil, o PAC [Programa de Aceleração do Crescimento], toda a Política Nacional do Hidrogênio foi consultada e foi usada como informação base. [Assim], entendemos que um patamar responsável de expansão é atender, num primeiro momento, 4 GW de conexão”, explicou.

Segundo o diretor do MME, o objetivo é, a partir desta oferta adicional inicial, avaliar o interesse do mercado para expansões maiores no futuro. “Vamos ver se o mercado tem esse apetite para 4 GW, para mais que isso ou menos que isso. A gente vai ver a velocidade de contratação. Se tudo for contratado muito rápido, esse estudo já no próximo ano já entra com mais expansão ainda”, detalhou.

Além do estudo de expansão da conexão no Nordeste, a EPE avalia ampliar a conexão de carga em São Paulo e Rio Grande do Sul, com o objetivo de atender a demanda de data centers, informou Guilherme Rosa.

Considerando a complexidade de projetos de hidrogênio verde e data centers, o governo calcula o risco de que os investimentos sejam feitos e os projetos não se concretizem. Em maio, a diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) aprovou a exigência de aportes de garantias financeiras como condição para solicitar parecer de acesso e assinatura do contrato de uso do sistema (Cust) para acesso de grandes consumidores de energia.

A medida foi lembrada pela coordenadora-geral de Energias e Tecnologias de Baixo Carbono e Inovação do MME, Natália Hoffmann Ramos. “Antes, os empreendedores conseguiam conexão porque eram cargas pequenas e isso não iria influenciar muito na transmissão. Agora, você tem que construir toda uma infraestrutura caríssima, colocar esse custo na tarifa. E se esse projeto não realizar? Então, o governo está tomando algumas medidas. A primeira delas foi essa da Aneel”, avaliou Ramos durante o Enase nesta quarta-feira, 11 de junho.

Soluções de conexão de médio e curto prazo

Enquanto a conexão de grandes cargas é desenvolvida, demandas mais imediatas podem ser atendidas com medidas como reforços pontuais de rede. Os casos são avaliados pontualmente, segundo Guilherme Rosa. “Há casos em que a restrição é pouca, e pode ser resolvida com um transformador. A gente autoriza e isso é colocado no horizonte de dois, três anos”, exemplificou. 

Outras medidas estudadas são o adiantamento de obras em andamento e a flexibilização de medidas operativas pelo ONS, a partir da aprovação do Comitê de Monitoramento do Setor Elétrico, para aumentar o fluxo de energia.

São ações parecidas com aquelas que buscam reduzir os cortes de geração, conhecidos como curtailment. “A fonte do problema é a mesma. É o blecaute de 2023 que tornou mais restritiva a operação. É mais restritivo para a geração, e é mais restritivo para a carga também”, explicou Rosa.