Um grupo de 17 termelétricas, com mais de 2,6 GW de potência, entrou com uma ação no Superior Tribunal de Justiça (STJ) pedindo a suspensão do teto do Custo Variável Unitário (CVU) de R$ 1.711,18/MWh estabelecido para o leilão de reserva de capacidade na forma de potência (LRCap) marcado para junho.
Entre as impetrantes, estão empresas com projetos de termelétricas detidos como Delta Energia, Bolognesi e Oncorp, que estão trabalhando na conversão dos motores a óleo para uso de biocombustível, para que possam disputar o certame.
Na ação, ao qual a MegaWhat teve acesso, as empresas alegam que quando o governo reduziu o CVU máximo, antes estipulado em R$ 2.636,99/MWh, restringiu ilegalmente a concorrência e sem realização de debate público. São alvo do processo o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, como representante da União, e a Empresa de Pesquisa Energética (EPE).
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A reportagem procurou o Ministério de Minas e Energia e, assim que tiver retorno, atualizará a matéria com seu posicionamento.
A ação remete a decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) de 2023, quando a corte máxima decidiu o mérito de processos semelhante movidos em 2021. Na época, quando foi realizado o primeiro e único leilão de reserva de capacidade até hoje no Brasil, o governo limitou a participação das termelétricas ao CVU de R$ 600/MWh. Usinas mais caras, contudo, conseguiram participar do certame por meio de decisão liminar, e o resultado foi confirmado judicialmente posteriormente, o que levou a Aneel a homologar o resultado.
O STF entendeu, na ocasião, que a limitação “impediria a participação de usinas técnica e comercialmente competitivas e, assim, embaraçaria a escolha da melhor proposta pela administração pública”.
Desta vez, o pedido das usinas é pela suspensão de um limite máximo do CVU, mas as empresas pedem que pelo menos o preço máximo volte a ser o definido anteriormente, já que viabilizaria o desenvolvimento dos projetos a biocombustível.
Mudança na portaria do CVU
O CVU máximo do leilão tinha sido estabelecido em uma portaria publicada em 2 de janeiro com base no custo da termelétrica mais cara disponível para operação naquele mês, sem restrição de combustível. Era a usina de Pecém 2.
Em 10 de fevereiro, faltando poucos dias para a data limite de cadastramento no certame, uma nova portaria alterou a usina de referência, que passou a ser a usina a gás natural com custo mais elevado disponível na operação – a usina de William Arjona, com CVU de R$ 1.711/MWh.
Segundo os geradores, a limitação não é razoável ou proporcional, uma vez que desconsidera a lógica da precificação do leilão, que pondera diversos custos e benefícios, incluindo a flexibilidade operativa das usinas.
Antes mesmo da mudança, segundo os geradores, a limitação à concorrência era ilegal, mas o valor máximo de CVU não excluiria a participação dessas usinas do leilão, “dada a sua abrangência e a as características particulares desses empreendimentos renováveis, movidos a biocombustíveis”, segundo a petição.
A MegaWhat apurou que as termelétricas em questão estão trabalhando na conversão de seus motores para uso de biocombustível, para se enquadrarem no leilão. Com o CVU anterior, a mudança era possível, mas a redução de custo máximo inviabiliza a disputa, já que o uso de biodiesel ou etanol encarece significativamente a geração.
As usinas contaram, na petição, que formalizaram em 21 de fevereiro um requerimento no Ministério de Minas e Energia (MME) falando sobre a alegada ausência de racionalidade do novo CVU técnico, mas não obtiveram resposta até o momento.
A liminar pede que a decisão saia o quanto antes, porque a data final para declaração do CVU e habilitação técnica junto à EPE até às 12h desta sexta-feira, 14 de março.
Segundo a EPE, 327 projetos foram cadastrados para participar do leilão, incluindo termelétricas novas e existentes, e a expansão de hidrelétricas, totalizando cerca de 75 GW de potência.