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Semana da Mulher MW | Entrevista com Élbia Gannoum, CEO da Abeeólica

Com uma carreira de mais de 20 anos no setor de energia brasileiro, Élbia Gannoum viu a geração de energia eólica saltar de 1 GW de potência instalada, em 2011, para mais de 18 GW em 2021. Nessa entrevista, a presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica) fala sobre sua carreira, suas contribuições ao setor e a luta por igualdade de cargos e salários entre homens e mulheres, que ainda persiste.

Confira a nossa entrevista especial com a executiva em razão do Dia Internacional da Mulher:  

MegaWhat: Como você começou no setor?

Élbia Gannoum: Comecei a minha carreira na Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), sou economista, fiz mestrado em economia e doutorado em engenharia. Então, no ano 2000, quando estava escrevendo a minha tese de doutorado, eu fui convidada para trabalhar na Aneel na área de regulação. A Aneel estava começando e eu também estava começando.

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MW: Quais as principais conquistas da sua carreira?

EG: Passei por várias instituições importantes, tenho uma carreira muito interessante, mas acho que a principal conquista para mim é ter descoberto que eu faço o que eu amo. Acho que isso é a principal conquista. Eu comecei a minha carreira no setor de energia, e neste ano completo 21 anos de carreira. Ao longo do tempo, fui aprendendo bastante sobre o setor de energia, e passei por várias instituições. Passei pelo Ministério de Minas e Energia, pela Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), e ao longo dessa carreira eu estive em vários momentos importantes do setor, de várias decisões importantes e ao longo desse processo eu fui me apaixonando pelo o que faço. Tudo o que eu fiz foi com muita paixão, com muito amor, carinho e hoje estou completando dez anos de carreira na Abeeólica, e o que eu sinto de melhor nessa história toda é gostar de tudo aquilo o que eu faço, de fazer com paixão, com amor, e eu vejo muitos resultados nisso. Essa é realmente uma conquista. Isso é um resultado de felicidade na carreira, de você amar o que faz.

MW: Tem alguém que te inspira/inspirou nessa trajetória?

EG: O que mais me inspira realmente é saber o resultado do trabalho, você ter a dimensão ou pelo menos ter uma ideia do seu trabalho. Recentemente, nós publicamos os dados socioeconômicos dos efeitos da energia eólica no Nordeste brasileiro. Além de a eólica ser limpa, renovável e competitiva, ela contribui para o aumento do IDH [Índice de Desenvolvimento Humano], para o aumento do Produto Interno Bruto (PIB) das regiões e isso realmente me inspira. Isso me dá forças para que no outro dia eu acorde de manhã e saia correndo atrás do meu trabalho, que é também o meu sonho de transformar a sociedade e trazer benefícios para a sociedade. Naturalmente, eu não vou fazer isso sozinha, mas eu sei que o meu trabalho se soma com o de muitas outras pessoas, de um grande time em prol do crescimento e desenvolvimento econômico. Isso realmente me inspira e me faz feliz.

MW: E hoje, como é estar à frente de um cargo de diretoria? 

EG: Bom, hoje eu estou na presidência da Abeeólica, antes eu tive outra experiência de estar na diretoria de uma empresa, no conselho da CCEE que tem esse caráter de diretoria, e quando eu comecei a minha vida, a minha carreira, eu jamais imaginei que chegaria nesse estágio. Que chegaria a ser diretora de uma empresa, presidente de uma empresa, e que teria essa responsabilidade também, que vejo como o resultado de um trabalho. Em todos os lugares que estive, sempre me preparei para aquele trabalho e procurei aprender e contribuir cada vez mais. E eu entendo que a carreira é essa longa estrada, ou talvez até uma longa escada, em que você vai degrau por degrau cada vez aprendendo mais, se especializando, ouvindo bastante, compartilhando bastante, e procurando aprender, dividir, e em muitas situações, liderar, que é o meu caso: acabo liderando equipes, acabo liderando um setor. Então, vejo que estar neste lugar é um privilégio, mas sei também que estou aqui porque me preparei para estar, mesmo não tendo me planejado.

MW: Qual foi a sua principal contribuição para o setor? 

EG: Tenho muito orgulho da minha trajetória porque estive realmente em vários momentos e em várias situações importantes do setor elétrico. Mas disparado, o meu maior orgulho, foi ter chegado na Abeeólica em 2011, com 1 GW de capacidade instalada, e a eólica não tinha quase nada de participação na matriz, nem saía na pizza da matriz, e chegar hoje, com 18 GW de capacidade instalada, com a eólica sendo a segunda fonte da matriz. Esta é sem dúvida a minha maior conquista da carreira.

MW: Como é ser uma mulher num setor tão masculino? 

EG: Ser uma mulher num setor tão masculino é muito desafiador, principalmente quando comecei a minha carreira, há 20 anos, e as mulheres não tinham muitas posições no setor de energia. Ocupei a posição pela primeira vez em várias situações e é realmente muito desafiador, mas eu diria que nos últimos anos, dos últimos dois anos para cá, houve uma mudança muito grande, mudanças sociais além das questões ambientais. E eu percebo que hoje há um espaço muito maior para trazermos a discussão de gênero e de diversidade. Me parece que está muito claro o caminho dessa inclusão e da valorização do papel da mulher e dos diversos de forma geral, e acho que temos uma oportunidade muito grande para debate e fazer mudanças relevantes. Nós estamos no caminho correto, talvez numa velocidade não desejável, mas entendemos que é por esse caminho, e eu tenho trabalhado também para que possamos chegar cada vez mais rápido num mundo em que sejamos realmente iguais.

MW: A luta por igualdade de cargos e salários ainda é uma realidade para as mulheres no setor? 

EG: É uma realidade, sim. A disparidade salarial associada a gênero é percebida em vários setores da economia e no setor de energia também. Muitas vezes tive que lutar para ter salários similares e eu percebia que era muito por essa questão de gênero. É um desafio muito grande a ser vencido. Nós estamos percebendo que as empresas, os setores, estão tendo mais consciência, mas vejo que é um caminho a ser percorrido e que é um caminho bastante desafiador.

MW: Em 2021, o seu trabalho deve estar pautado em cima de quais discussões? 

EG: Gosto de falar do setor de energia de forma geral e os principais desafios das energias renováveis, dos investimentos no Brasil, está associada à transmissão – temos que discutir bastante a expansão da transmissão. O mercado livre é um tema que está conosco e que estamos avançando bastante, mas que é importante tratar; a modernização do setor elétrico, nós precisamos finalizar essa pauta, muitos avanços foram feitos, mas precisamos finalizar; e estou vendo uma perspectiva futura, mas que aqui na Abeeólica já estamos trabalhando, são os investimentos em offshore e em hidrogênio. Nós precisamos trazer essas inovações mais rapidamente para o setor de energia e aproveitar a oportunidade global que o Brasil tem de se colocar como importante player mundial na discussão do clima, na discussão da emissão zero em 2050 e esse é o nosso papel.