Geração renovável

Constrained-off e curtailment vieram para ficar, diz Eletrobras

Transmissão e renováveis/ Crédito: Think Stock
Transmissão e renováveis/ Crédito: Think Stock

Para a Eletrobras, as restrições à geração renovável e intermitente – como das fontes eólica e solar – deve ser a nova realidade no mercado brasileiro. “O constrained-off e o curtailment vieram para ficar. A velocidade de construção de uma usina eólica e solar é muito maior do que uma linha de transmissão”, disse o vice-presidente de Comercialização da Eletrobras, Ítalo Freitas.

“Para planejar uma linha de transmissão, são quatro, cinco anos, sem contar o prazo para construir, obter licença ambiental. Para construir uma usina eólica ou solar você precisa de um ano e meio, dois anos. Elas entram com mais velocidade, então sempre você vai ter um gap entre a construção de linha e a construção dessas variáveis”, disse Freitas. As declarações foram dadas nesta quarta-feira, 25 de setembro, durante a ROG.e (antiga Rio OIl & Gas).

Para ele, este não é um problema exclusivo do Brasil, e acontece em qualquer sistema que tenha variabilidade na geração. Uma forma de tornar a transmissão mais eficiente é com sistemas de corrente contínua em alta tensão (HVDC, na sigla em inglês). “Tem que investir em grandes HVDCs, que aguentem grande variabilidade”, disse.

A jornalistas após o painel, o executivo também mencionou novas tecnologias flexíveis, como a que a ISA CTeep acaba de anunciar em São Paulo. “São sistemas inteligentes de eficientizar o sistema de transmissão. O mundo hoje já está desenvolvendo isso”, avaliou.

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Outra forma de tornar o sistema mais eficiente é por meio de Smart Grids. “O regulador e o ONS [Operador Nacional do Sistema Elétrico] precisam tornar a regulação mais eficiente. O regulador tem que colocar smart grids. Antes de colocar uma linha de transmissão grande, tem que saber se ela estará eficiente”, declarou Freitas no painel.

‘Exagerado conservacionismo do SIN’

No mesmo painel, o presidente da Casa dos Ventos, Mario Araripe, lamentou o atraso no estudo para conexão dos subsistemas Nordeste, que é grande gerador de energia renovável, com o Sudeste, maior consumidor do país.

“São quatro anos e meio de atraso. Isso vai impactar no crescimento das renováveis”, disse. Para ele, as projeções de demanda inerentes da transição energética “não estão sendo consideradas como deveriam”.

Araripe também criticou o que chamou de “exagerado conservacionismo” no gerenciamento do sistema interligado nacional (SIN) após o apagão de 15 de agosto de 2023. “Naquele dia, havia 18 considerações de restrição. Hoje são 53. Essa aversão ao risco impacta na subutilização dos ativos de transmissão. Isso gera um custo adicional que agora está sendo passado aos geradores eólicos e solares na forma de contrained-off”, avaliou.

“Cerca de 6% de toda a geração eólica e 13% da geração solar foram vertidas este ano em constrained-off. Equivale a mais ou menos 5,1 TW. É como se desligasse Itaipu por um mês”, protestou Araripe.

Impactos ds GD e curtailment no financiamento de projetos renováveis

Os agentes que participaram do painel na ROG.e também abordaram os impactos que o curtailment e a geração distribuída (GD) devem ter no financiamento de projetos renováveis. “Como o GSF foi há alguns anos atras, hoje o curtailment vai impactar na questão da financiabilidade das renováveis”, disse Ítalo Freitas, da Eletrobras.

Mario Araripe, da Casa dos Ventos, também inclui a GD entre os fatores que podem impactar o financiamento de novos projetos de renováveis. “Hoje a GD chega a 31 GW de capacidade instalada. Isso entra no sistema e o impacto no preço horário é brutal. Impacta na previsibilidade e, portanto, no investimento”, avaliou.

Segundo ele, atualmente os impactos da GD e das restrições terão consequências para o financiamento: “O constrained-off tem uma consequência permanente. Os financiadores agora vão considerar isso também e provavelmente vão diminuir os volumes de investimentos e aumentar os spreads em função dessa imprevisibilidade”, acredita.