Estudo da IEA

Temperaturas mais altas, data centers e preços negativos: o futuro do consumo global de energia

Consumo global de energia
Consumo global de energia/ Crédito: Luis Tosta (Unsplash)

O consumo global de energia deve crescer cerca de 4% em 2024, o que seria a maior taxa de crescimento desde 2007, com chance de continuar no mesmo ritmo em 2025, segundo análise da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês) divulgada nesta sexta-feira, 19 de julho.

Segundo o estudo, em 2024 e 2025, o aumento no uso mundial de eletricidade deve ser maior do que o crescimento do PIB global de 3,2%, conforme previsão do Fundo Monetário Internacional (FMI). Entre os segmentos que devem elevar o consumo, a agência espera uma demanda maior de eletricidade naqueles que utilizam inteligência artificial (IA).

Os data centers são apontados como uma das principais áreas com IA que devem ter um crescimento na demanda, com possibilidade de chegar a 3% até 2026, abaixo do crescimento de 2% previsto para os veículos elétricos no mesmo intervalo.

Entretanto, o relatório destaca que as estimativas históricas do consumo de eletricidade nos data centers têm gaps, fazendo com que as projeções futuras sejam incertas, especialmente em questões sobre implantação, projeções de demanda e eficiência energética, entre outros aspectos.

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>> Data centers e a nova oportunidade de crescimento da demanda no Brasil. 

Em alta: temperaturas e o consumo

A expectativa de aumento nas temperaturas globais também pode aumentar o consumo global de energia e demandar o uso contínuo de usinas a carvão até 2025, dificultando o declínio na redução das emissões de dióxido de carbono. O uso do uso de ar-condicionado é o principal fator apontado pela agência para a manutenção de projetos a carvão.

Segundo a IEA, com mais usuários utilizando o equipamento, as fontes renováveis não serão suficientes para atender o consumo, forçando as redes de energia a manterem um fornecimento de base confiável.

O despacho de usinas a carvão pode ser ainda maior em economias emergentes, onde a proporção de famílias com ar-condicionado é atualmente muito menor em comparação com países desenvolvidos – cenário que pode mudar com o aumento das temperaturas.

Para a agência, a alta na utilização do ar-condicionado exigirá a implementação de padrões de eficiência mais restritos como forma de mitigar o impacto do aumento da demanda por resfriamento.

“O crescimento da demanda global por eletricidade neste ano e no próximo deve estar entre os mais rápidos das últimas duas décadas, destacando o papel crescente da eletricidade em nossas economias, bem como os impactos das ondas de calor severas”, afirmou Keisuke Sadamori, diretor de Mercados e Segurança Energética da IEA.

O relatório ainda prevê que, com uma menor geração das hidrelétricas devido às secas em muitas regiões, a geração de energia fóssil pode subir este ano, apesar do forte crescimento da energia eólica e solar. No entanto, caso ocorra uma mudança nas condições meteorológicas, a IEA estima que a carvão crescerá menos de 1% neste ano, depois de um aumento de 1,9% em 2023.

Demanda de energia dos países

Entre os países, a expectativa da agência é que a Índia lidere o crescimento da demanda no próximo ano, com um aumento de cerca de 8% em 2024. A alta é apoiada pelo forte crescimento do PIB e pelo crescimento do uso de ar-condicionado, em decorrência das ondas de calor por períodos longos.

No primeiro semestre de 2024, o país teve um pico de carga, ocasionando tensões nos sistemas de energia. Caso ocorra um retorno às condições climáticas usuais, a IEA prevê uma redução de 6,8% no consumo de eletricidade do país em 2025.

A China deve registrar uma taxa de crescimento na demanda de 6% neste ano, queda de 1% em relação a 2023, caso a economia chinesa continue a se reestruturar. De acordo com o relatório, o consumo de eletricidade no país em 2024 e 2025 deve ser impulsionado pelas indústrias de serviços e pelo aumento na produção de painéis fotovoltaicos, veículos elétricos (VE) e baterias e a expansão do 5G e dos data centers.

A União Europeia pode apresentar um crescimento de 1,7%, caso as dificuldades econômicas sejam superadas. O consumo de eletricidade do bloco contraiu nos últimos dois anos, devido ao declínio na produção de indústrias intensivas em energia.

A demanda por eletricidade nos Estados Unidos deve se recuperar em 2024, aumentando em 3%. A taxa de crescimento mais forte se deve, em parte, à comparação com 2023, quando a demanda caiu 1,6% em meio ao clima ameno. 

O crescimento de consumo nos EUA foi analisado sob perspectiva de melhoria na economia, bem como pela crescente demanda por ar-condicionado e pela expansão de data centers. A demanda deve aumentar em 1,9% em 2025.

Preços de energia

A IEA notou um aumento significativo nos preços negativos de atacado em vários mercados de energia em 2024.

No primeiro semestre do ano, os preços negativos no sul da Califórnia foram superiores a 20% durante os horários de pico da curva da fonte solar. Já a Espanha registou o seu primeiro preço negativo no mercado diário em abril de 2024.

Em 2023, 16 países da Europa apresentaram preços de energia negativos, devido à abundância de geração hidrelétrica em um período em que as energias solar e eólica estavam em alta.

“Os preços negativos indicam que o lado da demanda não é suficientemente responsivo aos preços e que não há armazenamento suficiente disponível. A frequência crescente de preços negativos envia um sinal urgente de que é necessária maior flexibilidade de oferta e demanda.

As estruturas regulatórias e os designs de mercado apropriados serão importantes para permitir uma absorção em soluções de flexibilidade, como resposta à demanda e armazenamento”, conclui relatório da agência.