Economia e Política

Continente africano deve se beneficiar da transição energética, aponta relatório da IEA

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As dificuldades e crises geradas pela invasão da Rússia à Ucrânia e pela pandemia de covid-19 têm afetado fortemente o sistema energético do continente africano, que conta com mais 25 milhões de pessoas vivendo sem eletricidade, se comparado com o período pré-pandemia. Os dados são da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), e mostram uma reversão nas tendências positivas de acesso à energia no continente.

O relatório da IEA, entretanto, acredita que a transição energética global pode ser um meio de desenvolvimento econômico e social para a África, que emite menos de 3% do CO2 relacionado a energia globalmente e, ainda assim, tem sentido mais fortemente os efeitos das mudanças climáticas. Segundo a agência, o continente tem potencial na área de renováveis, como solar e eólica, mas principalmente em tecnologias emergentes, como minerais críticos e hidrogênio verde, de forma que um cenário sustentável pode ser trabalhado.

“A África ficou com os piores resultados da economia baseada em combustíveis fósseis, recebendo os menores benefícios e os maiores inconvenientes, como ressalta a atual crise energética”, disse Fatih Birol, diretor-executivo da IEA. “A nova economia energética global que vem surgindo oferece um futuro mais esperançoso para a África, com grande potencial na fonte solar e em outras renováveis para alimentar seu desenvolvimento – e novas oportunidades industriais em minerai críticos e hidrogênio verde”.

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Demanda e eficiência energética

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Segundo a IEA, a demanda por serviços energéticos deve crescer rapidamente no continente, o que sublinha a necessidade de tratar a acessibilidade de energia como prioridade. Para tal, um aumento na eficiência energética é necessário, uma vez que possibilita a redução na importação de combustíveis, alivia a tensão na infraestrutura existente e mantém as contas de energia acessíveis.

Para Birol, “a prioridade imediata e absoluta para a África e para a comunidade internacional é levar energia moderna e acessível a todos os africanos – e nosso novo relatório mostra que isso pode ser atingido até o final desta década por meio de um investimento anual de US$ 25 bilhões, o mesmo valor necessário para construir apenas um terminal de GNL [gás natural liquefeito] por ano”.

O cenário proposto pela agência explora, portanto, a questão da sustentabilidade energética africana, cuja base seria a expansão e melhoria nas redes elétricas e o desenvolvimento de fontes de energia renovável. De acordo com a IEA, o continente possui 60% dos melhores recursos solares do mundo e cerca de 5.000 bilhões de metros cúbicos de gás natural ainda não explorados, mas utiliza apenas 1% da sua capacidade em renováveis.

Além disso, a África possui um vasto potencial em recursos minerais necessários a diversas tecnologias de energia renovável, o que pode criar um novo mercado exportador para o continente, dobrando a receita de exportação de minerais até 2030. Na mesma linha, alguns projetos de hidrogênio estão em andamento no continente, com foco na produção de amônia para fertilizantes

“Bancos de desenvolvimento multilateral devem agir de forma urgente para aumentar os fluxos financeiros para a África, tanto para desenvolver seu setor energético quanto para adaptar [o continente] às mudanças climáticas”, afirmou o diretor da IEA. “O futuro energético do continente exige maiores esforços apoiados globalmente. A COP27 no Egito este ano é uma plataforma crucial para os líderes africanos delimitarem suas agendas para os próximos anos. Essa década é crítica não apenas para a ação climática global, mas também para investimentos fundamentais que permitiram que a África – lar da população mais jovem do muno – floresça nas próximas décadas”.