Quando se fala em energia solar fotovoltaica, são frequentes as imagens de imensas usinas em regiões áridas no Nordeste e Norte de Minas Gerais. Em outro extremo do país, no Rio Grande do Sul, o potencial da fonte também é destaque, e projetos de geração solar fotovoltaica estão ajudando a aumentar a competitividade da indústria vinícola nacional.
“A Campanha Gaúcha é uma das regiões com maior incidência solar. No verão, anoitece bem tarde mesmo”, disse Larissa Fin, fundadora da Casa Vitis, e-commerce e clube de assinatura que trabalha exclusivamente com vinhos brasileiros – inclusive os produzidos na região, que fica no sudoeste do Rio Grande do Sul e ocupa quase toda a linha de fronteira com o Uruguai.
A pioneira foi a Estância Guatambu que, em 2016, fez um investimento de R$ 1,2 milhão em painéis solares fotovoltaicos, quando a geração distribuída ainda engatinhava no Brasil. Segundo pelo Valter José Pötter, diretor-geral e proprietário da vinícola, a decisão pelo investimento se deu pelo alto consumo de energia exigido na fabricação das bebidas. São 600 painéis de 260 W/h fabricados pela Canadian Solar, com quatro inversores da ABB, que atendem toda a demanda de energia da vinícola.
Inicialmente, foi feito um projeto piloto, monitorado por dois anos, e hoje a instalação está sendo ampliada, a fim de gerar energia não apenas para resfriamento dos vinhos e espumantes produzidos, mas também outras partes da estância, como secagem de grãos e bombas de irrigação.
Com o tempo, bancos e cooperativas locais começaram a oferecer linhas de crédito diferenciadas para investimentos do tipo, valorizando a sustentabilidade.
“Como vantagem, temos uma economia de custos grande, principalmente entre janeiro e abril, que na nossa região é época de vinificação e estamos em pleno verão”, disse Pedro Candelária, diretor comercial da vinícola Campos de Cima.
Os 3,04 kW de potência de energia solar fotovoltaica foram instalados na Campos de Cima em março do ano passado, e, desde então, a economia já tem sido significativa. “Ano passado, em fevereiro, gastamos entre R$ 4 e R$ 5 mil com eletricidade. Esse ano, gastamos cerca de R$ 350”, disse.
Além do lado econômico, o uso de energia renovável reforça o conceito sustentável perseguido pelas vinícolas da região. A Campos de Cima, por exemplo, opera como uma “vinícola boutique”, com vinhos especiais, selo de indicação geográfica e garrafas com tiragem limitada. Agora, as garrafas da Campos de Cima também contam com um selo que indica que foram produzidas com energia solar.
Segundo Fin, com a aposta em geração de energia solar e consequente redução do custo com energia, os produtores da região ganham competitividade em relação aos vinhos importados ao mesmo tempo em que agregam valor à “experiência” da degustação.
O investimento da Campos de Cima, de cerca de R$ 300 mil, foi feito com financiamento do Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi). Segundo o diretor-executivo do Sicredi Essência (a cooperativa do Sicredi atuante na região), Henrique Camargo de Assis, há linhas de financiamento específicas para geração de energia renovável a partir de recursos próprios e também repasses do BNDES.
“Procuramos manter sempre uma relação próxima com os associados e, em contato com a Campos de Cima, perguntamos se tinham algum projeto futuro e nos passaram que estavam fazendo um orçamento de energia solar para ver a viabilidade para a empresa. Explicamos que tínhamos linhas de financiamento e que poderíamos simular assim que tivessem o orçamento”, relatou Assis. A linha de juro inferior a 1% ao mês mais CDI, com prazo de 10 anos e carência a ser negociada, o que aumenta a atratividade do investimento.
Segundo o diretor do Sicredi, há uma busca crescente por financiamentos para energia solar por parte dos produtores e da indústria como um todo.
A opinião é semelhante à do superintendente da Unidade de Produtos de Desenvolvimento e Microcrédito do Banrisul, Ivair Damiani. Ele contou que, no começo, os investidores buscavam linhas de financiamento para energia solar, mas as opções de repasse do BNDES eram complicadas devido às exigências de conteúdo local, sendo que grande parte dos equipamentos era importada.
O Banrisul, então, decidiu criar uma linha própria de crédito para suprir a demanda dos investidores que queriam investir na geração solar fotovoltaica. “As coisas começaram a andar rápido, os bancos começaram a criar linhas próprias, criamos a nossa, e os equipamentos começaram a ser nacionalizados”, contou Damiani. Hoje, o banco oferece tanto linhas próprias quanto de repasse de bancos de fomento. A decisão vai da necessidade de cada cliente.
Como o banco tem atuação de varejo no Rio Grande do Sul, um diferencial é ter agências espalhadas pelo estado, o que facilita o atendimento das pessoas físicas interessadas no crédito diferenciado, de acordo com Damiani. Dependendo do tamanho do investimento, o banco avalia qual a melhor linha de crédito.
(Atualizado às 11h25, em 08/04/2021)