
Em meio a restrições orçamentárias, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) avalia uma mudança da sua sede em Brasília, atualmente num edifício construído na década de 1970, de propriedade da União, para a Lotus Tower, empreendimento vencedor de uma chamada pública feita por um grupo de agências reguladoras, que ficará pronto em 2026.
Uma nota técnica publicada na segunda-feira, 17 de fevereiro, avaliou a mudança e apontou que haveria algumas vantagens, como economia com condomínio e o fato de ser um edifício moderno e sustentável. O documento, porém, ressaltou alguns obstáculos, incluindo a baixa disponibilidade de vagas de estacionamento e o custo, cerca de R$ 8 milhões por ano superior ao atual, sem contar despesas com rescisões de contrato, mobiliário e construção de nova sala cofre.
Não houve uma recomendação a partir da nota técnica, e assunto será levado à diretoria da Aneel, a quem caberá decidir sobre a mudança ou permanência no atual endereço.
Chamamento público
A Lotus Tower, fundada em 2018 pelos irmãos Ruy Hernandez e Luiz Felipe Hernandez, venceu o chamamento público feito pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) em agosto do ano passado, para prospecção de imóvel em Brasília para instalação de agências reguladoras e outros órgãos.
A atuação foi em nome do Comitê das Agências Reguladoras Federais (Coarf), representando, além da ANS e da Aneel, outras entidades como a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
Sede anual: década de 1970
A Aneel tem como sede um imóvel construído originalmente para abrigar o Conselho Nacional do Petróleo, e foi sede de outras entidades. Desde 1997, quando a agência reguladora do setor elétrico foi criada, ela ocupa o endereço, que compartilha com a ANP, na proporção de 70% e 30%, respectivamente.
São 9.408 m2 ocupados atualmente por escritórios, e a possibilidade de mudança foi levantada pela necessidade de investimentos frequentes no edifício. Segundo a nota técnica, entre 2015 e 2024, foram R$ 34,8 milhões em obras para reforma e adaptação do endereço.
Novas reforças da ordem de R$ 23,35 bilhões, estão mapeadas e aguardando liberação orçamentária, sendo R$ 16,3 milhões vindo do orçamento da Aneel e o restante da ANP. As obras futuras incluem revitalização de fachada, correção de problemas estruturais, reforma e ampliação de auditório, e adequação do prédio às normas de combate a incêndio.
A mudança de endereço também possibilitaria economia nas despesas condominiais, que somam R$ 9 milhões por ano, incluindo água, energia elétrica, manutenção, limpeza e recepção.
O possível novo endereço
A Lotus Tower, por sua vez, terá quatro torres, com 163 mil metros quadrados projetados “para receber tecnologias de eficiência energética e bem-estar de usuários”. O empreendimento está sendo construído no Setor de Autarquias Norte, ao lado da nova sede do Banco do Brasil.
Segundo reportagem do portal UOL publicada em fevereiro de 2024, os irmãos Hernandez, que fundaram a empresa antes dos 30 anos, começaram a carreira construindo casas populares no programa Minha Casa Minha Vida, em 2010, no interior de Goiás. Anos depois viram a oportunidade de negócio em empreendimentos residenciais e corporativos de alto padrão em Brasília, quando fundaram a Lotus.
No chamamento público, foi prevista uma redução da área ocupada pela Aneel, dos 9,4 mil metros quadrados, para 8,67 mil metros quadrados, sendo 7 mil em escritórios e o restante em área de apoio. A redução de 25% da área do escritório seria resolvida com trabalho remoto e redução de salas de reunião e de tamanho de gabinetes individuais.
Caso a agência decida mudar de endereço, terá uma economia com condomínio, cujas despesas cairão de R$ 751 mil mensais para R$ 372 mil mensais, mas vai ter gastos adicionais de aluguel, estimado em R$ 1,319 milhão por mês. Assim, o custo total por ano vai superar o orçamento atual em quase R$ 8 milhões.
Outro obstáculo é a eventual mudança do data center da Aneel, já que a construção e mudança de uma nova sala cofre, além de levar seis meses, fora prazos de licitação, pode demandar quase R$ 19 milhões em despesas. Se a sala permanecer no prédio atual, parte da equipe de TI ficará lá também.
Procurada, a Aneel não retornou até a publicação da reportagem.