Ações da Eletrobras caem mais de 5% depois de provisão para compulsórios

Camila Maia

Autor

Camila Maia

Publicado

17/Nov/2021 14:52 BRT

Os resultados da Eletrobras no terceiro trimestre do ano vieram bons do ponto de vista operacional, mas a provisão significativa para os empréstimos compulsórios, que derrubou o lucro líquido, decepcionou investidores e analistas. 

"Fomos pegos de surpresa pelas provisões adicionais de R$ 9 bilhões", diz o relatório do Itaú BBA, assinado pelos analistas Marcelo Sá, Filipe Andrade e Luiza Candiota. Os analistas citam a decisão recente do Superior Tribunal de Justiça (STJ) em um processo motivo pela Decoradora Roma, no qual houve uma mudança de entendimento favorável à Eletrobras sobre a incidência dos juros remuneratórios dos empréstimos compulsórios. 

A 1ª Seção do Tribunal concluiu que os juros devem incidir apenas até 2005, ano da assembleia geral extraordinária em que parte dos valores dos compulsórios foi convertida em ações. "Nossa visão era de que uma grande revisão nas provisões dos compulsórios não era mais um risco. No entanto, com essa provisão, o total subiu a R$ 26 bilhões, montante que era nosso cenário mais pessimista e não entrava na nossa avaliação da empresa", diz o relatório do Itaú BBA.

Segundo os analistas, como a capitalização - e consequente privatização - da Eletrobras está prevista para os primeiros meses de 2022, a companhia e o governo podem ter precisado tomar uma abordagem mais conservadora em relação às provisões, evitando problemas e atrasos no processo. "Não está claro se foi apenas uma abordagem mais conservadora para as provisões, ou se isso significa que a companhia vai ter desembolsos de caixa adicionais nos próximos anos", escreveram.

A provisão de R$ 9 bilhões afetou o lucro líquido da empresa no terceiro trimestre, de R$ 965 milhões, queda de 66% em relação a igual período do ano passado. Desconsiderando os efeitos não recorrentes, haveria um aumento de 69% do resultado, totalizando um lucro líquido de R$ 3,655 bilhões.

O empréstimo compulsório sobre o consumo de energia foi criado na década de 1960. Os recursos foram destinados a Eletrobras para realizar investimentos no setor. Na prática, a estatal alega na Justiça que a União deveria ser solidária e também arcar com o pagamento desse empréstimo.

O resultado desagradou investidores. Por volta de 11h30, as ações preferenciais classe B (ELET6) da Eletrobras tinham queda de 5,08%, a R$ 32,33. Já as ações ordinárias (ELET3) recuavam 5,53%, a R$ 32,63.

No lado operacional, contudo, os resultados da Eletrobras foram bem vistos por analistas. Os analistas Carolina Carneiro e Rafael Nagano, do Credit Suisse, destacaram em relatório o crescimento das receitas de transmissão e os números bons das despesas com materiais, pessoas, serviços e outros (PMSO), que ficaram praticamente estáveis,.

Desconsiderando os efeitos das provisões, o lucro ajustado da Eletrobras, de R$ 3,65 bilhões, também bateu as expectativas do BTG Pactual, que previa um resultado líquido de R$ 1,5 bilhão. 

Em relatório, os analistas do BTG Pactual Joao Pimentel e Gisele Gushiken destacaram que as receitas de geração foram beneficiadas pela energia gerada a preços mais altos no mercado livre pelas controladas Eletronorte, Furnas e CGT Eletrosul, além do despacho da termelétrica de Santa Cruz, receitas maiores em Angra 1 e 2 e menores custos com compra de energia.