A redução antecipada das chuvas alinhada com a expectativa do aumento do consumo de energia – por datacenters e do crescimento vegetativo da carga na produção de fertilizantes -, devem provocar uma pressão adicional no sistema elétrico brasileiro, podendo causar uma tendência de alta no preço de energia, afirmou Rogério Jorge, presidente da AES Brasil, em teleconferência com investidores.
Citando dados do Operador Nacional do Sistema (ONS), o executivo destaca que, apesar dos reservatórios ainda registrarem níveis de armazenamento razoavelmente altos, em torno de 60%, a pressão adicional no sistema vem se refletindo nos preços de energia de longo prazo, que estão voltando a patamares de R$ 180/MWh a R$ 190/MWh para energia incentivada e R$ 150/MWh para energia convencional.
Titular de nove hidrelétricas e três pequenas centrais hidrelétricas, a AES é umas principais empresas expostas ao risco hidrológico (GSF, na sigla em inglês). Segundo Jorge, após o mês de janeiro ser um dos mais seco de toda a série histórica, a companhia tem visto uma recuperação dos reservatórios abaixo do esperado.
“A recuperação dos reservatórios está cerca de 1% por mês, enquanto os reservatórios costumam estar enchendo a uma taxa de 5% a 6%. Além disso, a demanda por energia continua a aumentar, principalmente em função das altas temperaturas, o que agrava ainda mais o esvaziamento dos reservatórios”, afirmou o presidente da AES Brasil.
A falta de chuvas pode comprometer o cenário hidrológico de 2024, porque mesmo que o volume de chuvas dobre durante o inverno, não será suficiente para compensar a escassez dos últimos meses. De acordo com o executivo, a companhia, espera que as chuvas, especialmente na região Norte do país, cessem em maio, fazendo com que a geração das usinas, em sua maior parte a fio d ‘água, também encerre.
“Em fevereiro e março, por exemplo, chuvas em 100% da média de longo prazo equivalem a aproximadamente 120 GW médios de energia, enquanto em maio passam a equivaler a 76 GW médios, e para agosto, os mesmos 100% da média de longo prazo, correspondem a apenas 20 GW médios”, explicou.
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Hídricas no quatro trimestre
Com um cenário desafiador pela frente, a geração hídrica cresceu 56%, a 3,24 GWh no quatro trimestre do ano passado, sendo responsável por um aumento de R$ 57,4 milhões da receita operacional líquida, em consequência do ambiente hidrológico favorável, com destaque para o aumento de 23,5% no volume de energia vendida e para a redução de 20,5% no preço médio de compra.
Resultados
A receita operacional líquida totalizou R$ 973,6 milhões no 4T23, aumento de 28% em comparação ao 4T22 (R$ 760,8 milhões).
O Ebitda (sigla para lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) do período também cresceu 42,5%, chegando a R$ 511,1 milhões.
Contudo, o lucro líquido foi de R$ 112,6 milhões, 18% inferior ao registrado na mesma etapa de 2022.
Queda e crescimento
Em análise sobre a variação do crescimento do Ebitda e a queda do lucro líquido, José Simão, CFO da AES, destacou que o desempenho sentiu os efeitos do crescimento de 45,9% das despesas financeiras, que somaram R$ 276,4 milhões na fase.
O salto da dívida entre os períodos é uma consequência dos investimentos intensivos da companhia para ampliar e diversificar o pipeline, da atualização monetária de empréstimos e debêntures e da redução nos juros.
Os investimentos no pipeline foram compensados, além do aumento de R$ 57,4 milhões do portfólio de hidrelétrica nas receitas, pelos R$ 122,5 milhões das eólicas, reflexo da aquisição dos complexos eólicos Ventos do Araripe, Caetés e Cassino e do início faseado da operação comercial de Tucano e Cajuína, primeiros parques construídos totalmente pela companhia.
Além disso, o recebimento de R$ 47,4 milhões referentes à compensação por atraso previsto nos contratos de construção e fornecimento de turbinas eólicos para os complexos em desenvolvimento, conforme penalidades estipuladas nos contratos, também surtiu efeito positivo na receita.
A fonte solar ainda impactou no resultado, registrando aumento de R$ 3,5 milhões, em consequência da atualização anual dos contratos regulados pela inflação e do recebimento de R$ 2 milhões da compensação pelo não cumprimento do cronograma de construção acordado para as obras de AGV VII, parque que compõe o complexo Solar Ouroeste, localizado no interior de São Paulo.
Tais efeitos foram parcialmente compensados pela maior incidência de curtailment, termo do setor para redução deliberada da geração das renováveis para equilibrar a oferta e a demanda, que saiu de 4 GWh na mesma etapa do ano anterior para 82,1 GWh no quarto trimestre de 2023.
Dívidas
Após a conclusão e entrada em operação comercial do complexo eólico Tucano e a conclusão da Fase 1 do complexo eólico Cajuína, a empresa espera entrar em processo de desalavancagem para quitar os R$ 2 bilhões em dívidas, por meio do aumento do prazo da dívida e da redução do seu preço, substituindo os bridges por dívida de novo prazo e amortizando
“Ao final do ano de 2023, tínhamos 56% da nossa dívida ainda indexada ao CDI e 32% ao IPCA, com prazo médio de quatro anos, é isso não é o que queremos. Por isso, estamos fazendo um grande esforço para refinanciamento dos nossos bridges, que são as estruturas de curto prazo, que a gente tomou lá no final de 2022”, explicou o CFO.
Termos de contrato das eólicas
O CEO da AES informou ainda que nos últimos trimestres a companhia passou por um grande desafio no processo de comissionamento de aerogeradores do complexo eólico Tucano, o que atrasou o cronograma original de entrega em um ano. Segundo o executivo, a postergação foi neutralizada por compensações financeiras estipuladas no contrato com o fornecedor, a Siemens Gamesa, e, atualmente, todas as 52 turbinas do parque foram comissionadas e estão autorizadas pela Aneel a operar comercialmente.
“Agora, na reta final do projeto, a Siemens, em conjunto com o nosso time de construção, está executando um processo minucioso de revisão dos equipamentos para garantir que todas as questões e problemas serão identificados e corrigidos antes da entrada do parque para o contrato de operação e manutenção”, afirmou.
Nesse contexto, foram identificados alguns itens que não estavam conforme o contrato pela companhia e, hoje, 16 máquinas estão em processo de readequação.
Investimentos
Entre os anos de 2024 e 2028, a AES Brasil planeja investir aproximadamente R$ 1,3 bilhão, destinados à modernização e manutenção dos ativos em operação, incluindo o turnaround dos ativos eólicos adquiridos via M&A; finalização da construção dos projetos já contratados; e desenvolvimento do pipeline de Cajuína e construção do parque solar AGV VII.